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Críticas

Cineplayers

O convencionalismo é uma doença.

7,0

Ao final da sessão, enquanto ainda digeria o que acabara de ter visto, pensei sobre o que era esse filme. Uma maluquice, uma grande brincadeira, uma subversão de um gênero ou de um estilo reconhecido ligado particularmente a espionagem, ou, como mundialmente conhecidos, os spy movies. É importante afirmar uma coisa a você que ainda não viu o filme: não é pra se levar tão a sério. Não é negativo afirmar algo assim, uma vez que a proposta é a diversão e o descompromisso, ainda que funcione também como homenagem. Alguns diálogos remetem a James Bond. São citações constantes entre os personagens. Você pode até querer tirar algo dessa concepção, implicar Deleuze, Sartre, Cioran... Não importa. A experiência dentro do cinema é individual e Kingsman, com sua energia e sua insânia, só pode funcionar como uma alucinada e cômica brincadeira, especialmente para aqueles que se permitem encará-lo assim.

O convencionalismo é uma doença degenerativa! Limita a criatividade e aniquila inovações, tanto é que quase que semanalmente o cinema ganha exemplares de obras que poderiam ser consideradas readequações de roteiros que tantas vezes já acompanhamos em obras originais e sequências. Dito isso, frente ao ideal proposto nesse filme estrelado pelo oscarizado Colin Firth, reafirmo sua alucinada pegada subversiva que trata de espionagem de uma maneira, digamos, diferenciada. Outros obviamente já o fizeram: Johnny English e Austin Powers são dois exemplos. Há outros. A diferença em Kingsman é até onde o filme consegue ir, um ponto em que o fiasco depende de um passo a mais, o exagero. Mas como mensurar o que é exagero num filme como esse? Bem, uma das belezas do cinema, como em qualquer outra forma de arte, reside na subjetividade de suas representações. Seu humor insensato é uma musicalidade e sua harmonia está na extravagância, tal como na adorável cena da igreja.

Seguiremos um garoto, Eggsy (Taron Egerton), um justificado rebelde com causa que é recrutado por Harry (Firth), um agente secreto de uma organização desconhecida que dá título ao filme. Essa organização tem homens que prezam pelo requinte, com ternos perfeitamente alinhados e dicções finas, essencialmente britânicas, bem como ressaltam o porte de armas elegantes e tecnologia sofisticada. Eggsy passa por um forte treinamento, que funciona como disputa entre vários recrutados, sendo que apenas um poderá tornar-se agente dessa organização. Boa parte do filme se passa nesse treinamento, ao passo que a trama se desenvolve como uma história a parte, afunilando-se até chegar ao ideal máximo dos filmes que, dependendo da vertente, satiriza ou homenageia: salvar o mundo. Aqui até o maniqueísmo tradicional funciona.

O inglês Matthew Vaughn é o diretor e roteirista. O cara surgiu com o ótimo Nem Tudo é o que Parece (Layer Cake, 2004), estrelado por Daniel Craig, que viria a viver James Bond poucos anos depois. Lançou-se em Hollywood com Stardust - O Mistério da Estrela (Stardust, 2007) e Kick-ass - Quebrando Tudo (Kick-ass, 2010), consolidando-se em X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011). Um talento promissor competente na forma com a qual aborda seus filmes, cuja maioria é oriunda dos quadrinhos, sempre balanceados com um típico humor inglês que basicamente flerta com as tiradas de Guy Ritchie, cineasta com quem trabalhou anteriormente enquanto produtor.

Kingsman: Serviço Secreto não é um filmaço, mas oferta uma sessão diferenciada. Creio que a longa duração compromete, há informações demais num filme de pretensões menores e a coisa toda se embola, ainda que não canse. É ótimo pela reinvenção e ousadia de sua novidade, especialmente em tempos em que os cinemas estão abarrotados de filmes de heróis, gastando-os descontroladamente. É uma sátira de fato, e uma das melhores delas está nas particularidades histéricas de seu declarado vilão interpretado por Samuel L. Jackson. Se os apontamentos dados pelo roteiro sobre as intenções do filme não agradarem e se o humor com suas gags – o que foi aquela cena com McDonalds? – for considerado igualmente descartável, então talvez lhe restará acompanhar boas sequências de ação que compensarão a experiência que tal obra proporciona. Se essa também não for a sua, prepare-se para correr da sala na primeira meia hora.

Nas distinções de classes que o filme traz, há considerações bem interessantes que fundamentam pretensões ao retratar, enquanto sutil e bem arranjada crítica, o poder dos líderes de algumas super potências e seus interesses diante a miséria alheia. Os objetivos são consoantes ao interesse da estratégia do vilão caricatural, estilizado ao melhor estilo 007. Algo está para acontecer no mundo e, entre cores psicodélicas e trilha ritmada, acompanharemos a proposta absurda de um líder multimilionário detentor de um plano mirabolante. Ele é acompanhado por uma bela escudeira –  esta muito me lembrou Patricia Velasquez em A Múmia (The Mummy, 1999) – com uma característica bem particular. Kingsman sobrepõe divisões de classes, estando a dominante brindando ao futuro. Tal explanação, a partir de um viés bem mais satírico do que potencialmente crítico, faz a elite explodir. Literalmente.

Comentários (16)

Terror/Horror | sexta-feira, 27 de Março de 2015 - 22:55

A cena da igreja. Só digo isso. [8]

Luís Fernando | sábado, 28 de Março de 2015 - 08:54

A cena da igreja. Só digo isso. [9]

LUCIANO BAHIA | sábado, 23 de Abril de 2022 - 23:26

Pitadas também de globalismo, implantes e agenda 2030. (rsrsrs)

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