Peter Jackson mantém a boa forma de Senhor dos Anéis e nos presenteia com mais um excelente trabalho!
Peter Jackson é o cara! Depois de todo o trabalho que teve para levar a trilogia do anel de Tolkien para as telas, resolveu encarar mais um projeto de proporções gigantescas ao invés de descansar: a segunda refilmagem do clássico King Kong, do longínquo ano de 1933 – o primeiro remake, de 1976, dirigido por John Guillermin e com elenco encabeçado por Jeff Briges e a estonteante Jéssica Lange estreando nas telas, era um horror.
Era o projeto dos sonhos de Jackson, que desde criança tinha certo fascínio pela história do gorila que se apaixona por uma bela loura e acaba destruindo parte de Manhattan. Jackson inclusive chegou a desenvolver o projeto para a Universal na década passada, mas como ainda não tinha o prestígio que tem hoje e com o fracasso de Os Espíritos no cinema, sua primeira incursão no esquema hollywoodiano, acabou tendo que adiar seu sonho.
Eis que sua vida mudou quando ganhou um monte de dinheiro com O Senhor dos Anéis, além de várias estatuetas douradas. De cineasta semidesconhecido a rei neozelandês do cinema, o cara finalmente foi convidado a retomar o projeto do gorilão pela Universal, só que dessa vez com todas as regalias merecidas – e um salário recorde de vinte milhões de dólares!
Com a mesma equipe do projeto anterior, Jackson começou a desenvolver o projeto – e há males que vêm para o bem: o roteiro que ele tinha em mãos na década de 90 era infinitamente inferior ao que escreveu agora, junto a Philippa Boyens e sua esposa Fran Walsh, seu braço direito. E os três fizeram um trabalho digno da produção clássica da RKO: o novo King Kong é um trabalho fenomenal.
Claro que o dinheiro ajudou muito: com um orçamento astronômico de 207 milhões de dólares (que inclusive estourou os 175 milhões de dólares previstos inicialmente), Jackson pôde trabalhar como quis, e por isso mesmo cometeu exageros que à primeira vista assustam como, por exemplo, as mais de três horas de duração. Quando essa notícia foi divulgada, começaram as especulações sobre um cineasta sem limites sobre o próprio ego. Pior ainda quando foi divulgado o primeiro teaser, que mostrava que o cineasta ia ser fiel mesmo ao original, inclusive trazendo novamente os dinossauros, que atualmente poderiam ser considerados fantasiosos demais para nossa cínica época (um problema que a refilmagem de Guerra dos Mundos, de Spielberg, enfrentou).
Mas Jackson surpreendeu e provou ser lúcido o bastante para entregar outro filme grandioso, no melhor sentido da palavra. Tudo o que está na tela merece estar ali, ponto final. Cada minuto é bem aproveitado e todo o dinheiro gasto na produção é visto na tela, coisa difícil no cinema atual. A produção do filme realmente foi esmerada, porque tudo na tela é lindo: desde a reconstituição de época (a história se passa em 1933, como no filme original) até os efeitos digitais de última geração.
A estrutura narrativa do filme original, em três atos distintos, é mantida. Com poucas intervenções, claro, para tornar o filme mais dinâmico e apto para as platéias atuais, ávidas por cenas de ação de tirar o fôlego – e o filme oferece isso de forma espetacular. Aliás, há muito tempo não aparecia um filme-pipoca tão merecedor do nosso parco dinheirinho. E só de lembrar que o último monstrengo que apareceu nas telonas foi o canhestro Godzilla... Rolland Emmerich tem muito o que aprender.
O filme se inicia apresentando-nos Ann Darrow (Naomi Watts, impressionantemente bela e vigorosa), atriz de teatro de vaudeville que, assim como quase toda a população americana daquela época, está faminta e sem emprego. Quando, em um momento de desespero, rouba uma maçã e acaba sendo flagrada, é salva pelo cineasta Carl Denham (Jack Black), que vê na moça as características ideais para encarnar a musa de seu novo filme, que está por um fio. A moça é convencida a entrar na produção quando descobre que o roteirista do filme é o famoso Jack Driscoll (Adrien Brody, apagadíssimo), e embarca no navio S.S. Venture para as filmagens na desconhecida Ilha da Caveira, junto a outros integrantes da produção, capitaneados pelo bravo comandante Englehorn (Thomas Kretschmann).
Só que a equipe não contava que a ilha fosse muito mais inóspita do que eles esperavam. Logo deparam com uma selvagem tribo local que os atacam, raptando Ann para servir de oferenda ao deus local, o Kong (o gorila só aparece com mais de uma hora de filme, uma estratégia acertadíssima para aguçar ainda mais a curiosidade do espectador). Enquanto o restante da tripulação do barco tenta sobreviver aos ataques da tribo (e Jack Driscoll se torna um herói atrás de Ann), dos dinossauros que surgem em cena e de outros animais tão apavorantes quanto (Jackson fez questão de incluir uma cena que foi cortada do filme original e que provavelmente está perdida para sempre – aquela em que eles são atacados por aranhas e outros bichos nojentos), Ann acaba desenvolvendo uma afeição pelo Kong, que a salva de perigos (ele inclusive trava uma batalha sangrenta com um tiranossauro rex para entrar na história).
Aliás, Jackson não tem pudores em mostrar corpos sendo devorados, sangue e outras atrocidades – e para isso serve o elenco de apoio, desperdiçando nomes como Jamie Bell, Colin Hanks, Evan Parke entre outros, um dos poucos pecados do filme. O maior deles, talvez, seja a pouca exploração do relacionamento entre o gorila e Ann nesta segunda parte do filme, já que eles quase ficam em segundo plano, já que o foco da ação se concentra nas desventuras dos outros tripulantes pela ilha. Não chega a ser grave, já que Jackson explora bem-vindos momentos cômicos que funcionam perfeitamente e arrancam gargalhadas da platéia, e que dão uma leveza necessária ao filme. Aliás, o que não falta ao filme é o bom humor, também bastante explorado com Jack Black soltando as melhores tiradas do longa.
Quando Ann é resgatada e o gorila capturado para servir de atração em Nova York (em uma das poucas cenas mal resolvidas), o filme parte para o aguardado terço final, onde Kong foge do cativeiro em pleno espetáculo e parte para a destruição em massa atrás de sua musa, culminando na clássica cena da subida dele no prédio Empire State. É quando Ann descobre que é muito melhor estar apaixonada por um gorila gigante que por Adrien Brody. Ela, definitivamente, não é boba. Nem Peter Jackson, que finalmente pôde realizar o seu projeto de infância. E quem ganhou fomos todos nós, que finalmente podemos ver um blockbuster com B maiúsculo.
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