Para o bem ou para o mal, este Katy Perry: Part of Me (idem, 2012) é exatamente tudo aquilo que se espera dele: um documentário sem muita profundidade sobre uma estrela da música pop em evidência para agradar os inúmeros fãs da cantora. Não espere encontrar alguma reflexão além de ‘não desista dos seus sonhos’, pois a intenção do filme é dialogar de forma direta e sem complicações com seu público mais jovem, seguindo os moldes de outro sucesso recente, Justin Bieber: Never Say Never (idem, 2011), intercalando imagens antigas de Katy com uma enorme turnê que ela realizou pelo mundo recentemente.

Dá para entender o porquê de Katy Perry ser a escolhida: com músicas que falam sobre sua vida, a cantora caiu no gosto de um público que consegue se espelhar nas letras que ela entrega, com seu ritmo carismático e cativante, sempre para cima – além, é claro, do enorme empurrão dado pela própria Katy ao produzir o longa. O filme acaba funcionando como uma extensão de programas da MTV que mostram a intimidade de artistas: conhecemos a avó de Katy, o que ela faz antes e depois de ir a um palco, a média com os fãs ao encontrá-los depois de cada show, o esforço que fez para que o casamento com o comediante Russell Brand desse certo; que acabou não dando devido à enorme diferença de agenda entre os dois.

Os mais maldosos poderão dizer que o filme é uma tremenda tentativa pública de Katy se consolar, tentando afirmar para si mesma que fez tudo o que foi possível para que essa relação desse certo, ausentando-se de qualquer culpa no insucesso do casamento. Porém, o que poderia ser um defeito grave, acaba saindo-se bem ao humanizar aquela estrela que, para muitos, parece inalcançável. Uma dura realidade na vida daqueles artistas que sonham em viver a fantasia do estrelato, mas nem sempre conseguem conciliar isso com o outro sonho, de ter uma família normal como qualquer um.

De família extremamente religiosa, conhecemos as dificuldades familiares e empresariais que se colocaram no caminho, mas que foram superadas por uma então modelada guerreira que não desiste tão facilmente de sua visão artística por uma mais impositiva, comercial. É irônico pensar que, na infância, não podia nem assistir a Smurfs na TV, mas depois de famosa, veio a dublar aquela que era a principal fonte de sonhos eróticos dos azulados, a Smurfette, em Os Smurfs (The Smurfs, 2012). A diferença para o próprio filme do Bieber é que ela tem uma origem muito mais tradicional, descoberta por uma gravadora, enquanto o loiro do ‘baby baby uhhhh’ teve uma trajetória muito mais interessante e atual, saindo do YouTube para se tornar um fenômeno mundial.

Ou seja, ou você gosta de Katy Perry, ou o filme será uma abominação por não trazer nada além de imagens inéditas da cantora com algumas de suas mais famosas canções – e elas estão todas lá, ao vivo, desde I Kissed a Girl, seu primeiro single (para o desespero da família), até Firework. Recordista ao lado de Michael Jackson ao emplacar cinco músicas de um mesmo disco no primeiro lugar da Billboard, Katy Perry confirma a boa fase que a música pop vem vivendo, ao lado de outros nomes como Lady Gaga e Rihanna, que também dão as caras no filme. Se os anos 80 tiveram suas Cyndi Lauper, Bonnie Tyler e Madonna, os novos anos 10 estão bem representados até o momento.

Bom, e antes esses documentários rasos, mas eficientes e bacaninhas, do que novos O Mundo das Spice Girls (Spice World, 1997), não é mesmo?