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Críticas

Cineplayers

A geração Daniel Larusso e Sr. Miyagi.

8,0

Os filmes de ação dos anos 80 são considerados mentirosos, rasos e simplórios pela grande maioria da crítica. E talvez sejam mesmo, mas sejamos sinceros: em termos de criação de lendas, dos mitos de gerações, não houve época melhor para o gênero. Quem vai ver um filme de Stallone ou Bruce Willis esperando filosofia kafkiana ou um drama shakespeariano? Quem vai a sua procura não quer nada além de diversão, boas cenas de ação e um sentimentalismo característico da época. Algo único e perdido no tempo. E isso a cinesérie Karatê Kid tem de sobra.

Uma dessas lendas é Daniel Larusso (Ralph Macchio), um jovem que se vê obrigado a se mudar para uma cidade distante quando sua mãe arruma um emprego novo e sofre com problemas de adaptação. Sua estadia piora quando Daniel se envolve com a ex-namorada de um campeão de karatê local, que passa a persegui-lo e agredi-lo com os demais amigos, todos provindos dos ‘Cobra Kai Dojo’ – que conta com um sensei que prega a posição anti-misericórdia de seus alunos.

Unidimensional, retrata os mocinhos e vilões de maneira caricata: não é a toa que o quimono de Daniel é branco, enquanto toda a gangue que vem o importunando veste preto. Mas a profundidade de Karatê Kid não está nos conflitos entre pessoas, e sim na sua demonstração da solidão. Solidão esta que faz Daniel, o peixinho fora d’água, se aproximar do carismático Sr. Miyagi (Pat Morita, em papel que lhe valeu uma indicação ao Oscar), o porteiro faz tudo viúvo do novo prédio que, percebendo a fragilidade do menino perante as covardias da gangue, se dispõe a lhe ensinar karatê para que este possa se defender em um torneio local, que promete dar uma trégua à perseguição ao rapaz. “Você aprende karatê para evitar lutar”.

Criando uma série de passagens clássicas, o diretor John G. Avildsen aproxima este Karatê Kid de sua obra máxima, Rocky, Um Lutador (Rocky, 1976) ao contar uma história de pessoas movidas pelo esporte e motivadas pela superação, enfrentando as dificuldades do meio em que vivem para tentar chegar a um lugar melhor. Todo o treinamento ficou na memória de uma geração inteira, que contou com encerar carro, pintar cercas e casas, entrar em mar gelado, até chegar na famosa parte em que Daniel se equilibra em um toco de madeira fincado na areia da praia, treinando o golpe que lhe daria a glória na famosa ‘hora da verdade’.

Óbvio que não é perfeito: a simplicidade é acompanhada de certa cafonice da época, regada a teclado e bateria eletrônica e outras demais breguices. Os jovens polarizados hora comemoram atos ilícitos, noutra questionam os mandamentos do sensei – e isso em questão de segundos, sem a menor lógica na mudança de seus comportamentos. Algumas lutas parecem ensaiadas demais, plásticas e falsas, ainda que na grande maioria sejam convincentes. Os erros acabam diminuídos pela identificação com a situação: quem nunca gostou de uma pessoa no colégio ou tinha o marrentão implicante?

Mas esses detalhes não são nada que incomodem os amantes desta mensagem positiva, para cima, bem filmada e, principalmente, que saiu na hora correta e foi vista pelas pessoas certas – quem não tem esse link com o passado pode achar Karatê Kid uma verdadeira perda de tempo americana. Não é tão bom quanto Rocky, Um Lutador, mas é moldado para a massa e criou uma onda de popularizar a procura por lutas marciais com direito a faixa azul na cabeça e tudo. Todos os moleques queriam ter um pouco de Daniel Larusso, justamente porque este tinha um pouco de cada um deles. Para os nostálgicos, será sempre uma obra-prima.

Leia o especial completo sobre a série Karatê Kid!

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