Bem ao estilo Jane Austen, Jean-Marc Vallé mostra como amor e política conviviam na Era Vitoriana.
Vez em quando o cinema inglês nos apresenta um filme sobre suas conhecidas dinastias reais e isto só parece compreensível se entendermos que é a partir destas lembranças que os ingleses reafirmam algumas tradições que os rodeiam. Aliás, segundo um inglês chamado Eric Hobsbawm, as tradições nasceram ali.
Não à tôa, a Rainha Vitória, que vemos subir ao trono nesta história, acabou nomeando um período histórico inteiro devido a longevidade de seu governo. História conhecida que já teve Judi Dench no papel da monarca. Agora, Jean-Marc Vallé se apropria da juventude de Vitória e narra o ano que antecede sua nomeação como rainha.
O enredo se divide entre a existência solitária da futura rainha, interpretada por Emily Blunt, e a vasta paleta de personagens que a cerca, todos com o objetivo de estabelecer um lugar fixo de permanência em sua corte. Princípe Albert (Rupert Friend), que vemos aprendendo valsa e decorando as obras prediletas da jovem Vitória para assim convencê-la de querer desposá-lo, parece o único com alguma dúvida moral a respeito do papel que está desempenhando.
Se o filme soa burocrático ao explorar a fotografia dos famosos english gardens e outras delicadezas como louça e prataria dos jantares e formação da guarda real, há também a amostragem de juventude representada pela inexperiência de Vitória. Vallé no entanto não ousou tanto quanto Sofia Copolla, que ao pintar seu quadro sobre a também jovem Maria Antonieta, usou de várias licenças pop para aproximá-la das garotas contemporâneas que dividiam com ela o mesmo frescor e o mesmo problema em adaptar-se às tradições. De maneira bem contida, vemos Vitória paparicar seu cachorrinho enquanto se preparar para aproveitar ao máximo seu baile de coroação.
Vallé troca o excessivo uso de tons pastéis e badalações regadas à champanhe e cupcakes de Maria Antonieta por cores sóbrias e bailes oficiais para mostrar uma outra possibilidade de jovem rainha. Vitória parece ter um peso maior sobre seus ombros e é assim que o diretor resolve apresentar o problema.
Quanto ao desenvolvimento do personagem de Príncipe Alfred, é interessante enxergar o sofrimento daqueles que não possuem escolhas mas, apenas espera, justamente uma das características mais marcantes dos romances escritos pela inglesa Jane Austen. A diferença nesta história é que a espera em ser escolhido para entrar numa família rica é de um homem, e Friend, ajudado pela docilidade de sua silhueta esguia e por um figurino que valoriza a altivez, compõe o personagem que sabe o lugar que ocupa ao lado da rainha mesmo antes de entrar em sua vida. Pena que este contexto diminua a força da presença de Paul Betany, que interpreta o conselheiro Melbourne, político que ladeia Vitória, e também o rival mais próximo de Albert.
Sob o pano de fundo de manobras políticas - muito bem sinalizadas pela cena em que a rainha e seu futuro esposo disputam uma partida de xadrez -, há uma história de amor que se desenrola num contexto muito distante do nosso.
Sandy Powell recebeu das mãos de Sarah Jessica Parker o Oscar de melhor figurino por este filme, e se você é completamente distraído destes detalhes, sugiro que dê alguma atenção às roupas e descubra o prazer de entender o leitmotiv de um personagem explicitamente desenhado em seu figurino.
Um filme romântico e cheio de detalhes harmoniosos que garantem uma boa sessão, ainda que a falta de ousadia seja o seu grande problema.
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