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Críticas

Cineplayers

Sete anos depois, a franquia novamente se recicla.

4,0
Na abertura do afiado Pânico 4, um dos muitos rostos jovens que irão passear pelo filme de Wes Craven reclama, como um autêntico cinéfilo encarnando as próprias palavras da Craven, sobre como as sequências que existem no campo do gênero horror não sabem como reparar e apenas reciclam a si próprias o tempo todo, chegando a citar diretamente Jogos Mortais 4 e sua aura de torture porn para cima de personagens pelos quais ninguém dá a mínima. Se Craven naquele filme olhava com acidez para os resultados de sua própria franquia iniciada nos anos 90, retomadas promovidas por filmes como Jogos Mortais - Jigsaw são a prova de que o gênero tem mais fôlego do que imagina, e que o que lhe falta mesmo é a tão cobiçada criatividade.

Pois para uma franquia como Jogos Mortais, não há como dar vida a oito longas-metragens tendo a criatividade nas palmas das mãos, no que lhe sobra somente a reciclagem pela reciclagem, o famoso “tirar leite de pedra”. Claro que isto não seria o maior dos problemas se a franquia investisse no que lhe é básico e fundamental: elaborar boas armadilhas que possam transformar o labirinto enfrentado pelo indiferente número de personagens em algo divertido de se acompanhar, por mais que tal colocação seja a mais mórbida possível. A franquia foi se esticando e, com ela, o círculo no qual as tramas de cada filme se limitavam, chegando ao ponto de nada mais fazer sentido e a extrema suspensão da descrença ser a principal exigência para que os filmes segurassem seu público. Deu certo, e com orçamentos minúsculos, a franquia lucrava e se mantinha ávida.

O visível cansaço venceu em 2010 quando a jornada de Jigsaw e seus aprendizes foi “encerrada” com uma experiência 3D de nível cômico absurdo, espalhafatoso e cada vez mais agressivo, deixando para o passado a engenhosidade do longa original comandado por um novato James Wan. Dizer que a chegada de um novo capítulo nos pegou de surpresa seria mentir, mas houve lapsos de esperança quando o comando caiu nas mãos dos desconhecidos irmãos Michael e Peter Spierig, que carregam em seus currículos poucos, mas interessantes títulos como 2049 - O Ano da Extinção e Predestinados. Mas, qual não é a frustração quando, após estes anos de hiato, Jogos Mortais retorna sem nada de novo para ser comentado.

E repito aqui, a originalidade não é exigência, uma vez que o próprio cinema em si é uma arte que se recicla a cada respiro e dá vida a projetos de grande nome e relevância. O grande problema é quando aquele script dispensa os esforços de produzir algo minimamente interessante mesmo com o básico em mãos, relegando-se a permanecer no mesmo ciclo de repetição e banalizando novamente a experiência em potencial promovida por John Kramer. Pois sim, mesmo depois de morto há mil longas atrás, o assassino Jigsaw está de volta juntamente com sua possível horda de seguidores.

E por mais que os irmãos Spierig demonstrem um notável apreço pela estética e pelos enquadramentos que revitalizam o derramamento de corpos e o espirrar de sangue e tripas, o que Jogos Mortais - Jigsaw nos dá é o mesmo chacoalhar de ideias, conceitos, personagens e moralismos para os quais a franquia se entregou após o engenhoso longa original. Há as narrativas paralelas que se dividem entre o desenrolar dos jogos e a investigação sobre os crimes (e que tentam se confundir numa pretensão burra do roteiro de Pete Goldfinger e Josh Stolberg), os personagens carregados em estereótipos que, no fim de tudo, parecem ter sido contratados por suas habilidades em gritar e espernear, os diálogos expositivos e um plot twist que quebra qualquer mínimo senso de lógica ou coerência com o que fora visto até ali. Sobre as armadilhas? Bem, aqui elas se revelam bem mais contidas do que usual (parecia haver uma disputa pessoal entre as sequências sobre qual seria a mais insana), assim como os sustos em volume alto, nenhum eficaz.

Se Jogos Mortais - Jigsaw não chega ao estado deplorável de seus antecessores, é por ter restado pouquíssimo do potencial que a franquia gerou um dia, hoje realmente limitando-se a emular os pornôs de tortura e que se assumem, fazendo uso de termos atuais, como meros fan services para os que ainda seguem avidamente as mirabolâncias de Jigsaw e seus discípulos.

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