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Críticas

Cineplayers

Mistura arriscada de política com um lado cômico é aprazível.

7,5

Charlie Wilson é um congressista que gosta de levar a vida numa boa. Troca seus votos por favores, emprega mulheres belíssimas no seu gabinete e curte uma festinha com drogas e roquenrol. Quando sua (mais que) amiga Joanne, socialaite gostosíssima, pede que ele interfira na política externa americana, mais particularmente na invasão soviética ao Afeganistão – e os conflitos disso decorrentes, o homem dá um jeito, compadecido do drama e do sofrimento dos afegãos. Ele consegue sucessivos aumentos de verba do governo americano para que os oprimidos se defendam e combatam o inimigo comum: o comunismo. O que Charlie e Joanne não faziam idéia, naquele momento, era o monstro que criavam.

Jogos do Poder é um filme que contraria o óbvio e faz uma escolha arriscada. Ao contar uma história de cunho político, baseada em fatos reais, em tom de comédia, o diretor Mike Nichols poderia cometer um suicídio cinematográfico. Não é, no entanto, o que acontece; e o que resta é apenas o triunfo. Pois o filme funciona, e bem. Consegue um interessante equilíbrio entre a narrativa ficcional ágil e divertida e o retrato histórico de uma época, de um momento político dos mais importantes da história recente da humanidade.

Outra decisão que desaceita o óbvio e surpreende é a forma de retratar o momento. Sim, a história se passa em plenos anos 80, mas – ao contrário da maioria das películas mais recentes que têm trama nessa década – não é explorado em quase nada o clima característico dessa década. Afinal, o visual do período é – hoje, à distância – dos mais exóticos, especialmente alguns tipos de roupas e cabelos. Entretanto, nada disso tem vez no filme. Canções típica do pop oitentista americano? Também não. A opção foi por manter o foco na trama sem distrações. Assim, esse cenário de anos 80 é o mais discreto possível – e poderia ser considerado, por um olhar mais rigoroso, talvez até artificial. Mas não importa ser real, e sim dar a impressão de ser real. Por isso, a escolha de não entrar no universo peculiar dos anos oitenta pode até passar despercebida.

O que o filme tem dos anos 80, e aí sim é essencial ao bom funcionamento da história, é o clima de irresponsabilidade, de falta de noção das conseqüências. É o auge e o último suspiro de uma época pré-politicamente correto, um tempo em que não havia medo (ou noção) das conseqüências. Pois é sem medo que se faz um herói – é isso que Charlie Wilson acaba por se tornar, o homem responsável pela derrota final da (até então) maior ameaça ao império norte-americano: o comunismo. Pois é sem noção das conseqüências que se gera um problema maior que a solução: era o embrião da (atual) maior ameaça ao império norte-americano: o extremismo – que, se não foi criado pelos Estados Unidos, ao menos foi armado pelos americanos. Talvez por isso tudo, uma história sobre a guerra de Chalie Wilson realmente só possa funcionar assim: em tom de comédia e recheada de ironia.

Embora Charlie Wilson seja um tipo e tanto, o que existe não é um filme de personagem. A ação interna é posta de lado em nome da ação externa. Com isso, é de importância ainda maior que o normal a trama. Nesse ponto, não há o que reclamar: o roteiro é montado com precisão. É uma história que não pára, que traz sempre um elemento novo e consegue superar o grande desafio de manter a atenção do público e deixá-lo sempre com a pergunta “O que será que vai acontecer agora?”, o que não é tarefa fácil. Mais uma vez, no entanto, é preciso um contraponto: se história é boa, inteligente e bem-amarrada, ela jamais consegue ser brilhante. Isso talvez seja a grande lacuna do filme: não há aquele toque genial – um destaque, uma explosão, um ápice. Jogos do poder é linearmente (muito) competente. Talvez isso acabe por incomodar alguns espectadores, em especial aqueles que têm maior necessidade de grandes momentos redentores. Acontece que essa não é, jamais, uma história de redenção.

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