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Críticas

Cineplayers

Não oferece nada que o diferencie dos exemplares mais básicos do gênero. Um filme para ser e que será esquecido.

4,0

Mesmo não sendo um tema exclusivo do cinema norte-americano – Jules Dassin que o diga –, foi lá na América que o chamado heist movie (algo como “filme de roubo”) se tornou um verdadeiro subgênero. Afinal, produções sobre um grupo de ladrões planejando e executando um assalto existem desde sempre, de clássicos como O Grande Golpe e O Segredo das Joias a divertidas aventuras recentes, como a série Onze Homens e um Segredo e Uma Saída de Mestre. Claro que, no meio das obras que se tornaram referência, estão outras centenas que foram enterradas nas areias do tempo. E é exatamente isso o que vai acontecer com Jogo entre Ladrões.

O filme conta a história da parceria entre o ladrão veterano Keith Ripley e o novato Gabriel Martín. Admirado com o talento de Martín para o roubo, Ripley o convida para um golpe que pode significar a aposentadoria de ambos: o assalto de dois dos famosos Ovos de Fabergé, no valor total de U$ 40 milhões. Claro que as coisas não saem como planejado e, além de todas as surpresas, Ripley ainda terá que lidar com o relacionamento de Martín com a sua afilhada Alex e pagar a dívida de um antigo amigo a um perigoso criminoso russo.

Assistir a um filme de roubo é como assistir a uma comédia romântica: o espectador já sabe o que esperar. Estarão lá a formação do grupo (no caso, aqui, uma dupla), a apresentação do alvo, a elaboração do plano e a execução deste, momento no qual, usualmente, ocorrem diversas reviravoltas. Esse é o básico e o que praticamente todos os filmes com essa temática apresentam. A diferença entre uma obra medíocre e outra interessante está no apreço da plateia pelos personagens (por exemplo, nos filmes de Ocean e sua turma) e nas ideias originais apresentadas pelo roteiro (como no novo clássico Os Suspeitos).

Pois Jogo entre Ladrões falha em ambos os aspectos. Dirigido por Mimi Leder a partir de um roteiro de Ted Humphrey, a produção gira em torno do clichê envolvendo a dinâmica entre um veterano e um novato, porém sem oferecer nada de original ao conceito. O roteiro já demonstra problemas desde a cena inicial: por que um ladrão experiente como Ripley procuraria alguém como Martin, que acabara de realizar um assalto comum e arriscado no metrô? A partir daí, a trama se desenrola em uma completa escassez de ideias, inclusive sem oferecer qualquer ingrediente que torne os personagens mais desenvolvidos ou, ao menos, interessantes para o público.

A tentativa de Humphrey para superar esse problema é acrescentar um romance à história. Entretanto, a subtrama envolvendo Martín e Alex é realizada de maneira rápida e rasteira, algo comum em filmes comerciais norte-americanos. Ou seja, o casal se conhece, vai para a cama e, logo em seguida, estão completamente apaixonados. O filme não se presta a construir o relacionamento, apenas jogando-o na tela para que a plateia aceite. Como consequência, ele soa forçado e nada real, tornando-se apenas uma distração desnecessária para a trama principal (e diálogos como: “Promessas vão com o vento, mas os sentimentos são reais” também não ajudam em nada).

Esse fato até seria perdoável se a história do assalto também funcionasse, o que não ocorre. Em momento algum o espectador tem noção sobre quais as habilidades dos protagonistas ou sobre como a união de forças entre eles pode fazer o roubo dar certo. O próprio golpe, aliás, é extremamente simplista em sua execução e o roteiro, que primeiramente apresenta o assalto como praticamente impossível, jamais explica com propriedade como a dupla tornou tudo aquilo tão fácil. Tudo isso sem contar os diversos furos, como os policias descobrirem que o alarme soou e, ao invés de avisarem os seguranças da joalheria, optarem por pegar o trânsito para chegar a tempo.

Até o momento do assalto, porém, Jogo entre Ladrões não passa de um filme comum, mas possível de ser assistir, conduzido com certo ritmo por Mimi Leder. A partir daí, Humphrey viu a necessidade de surpreender o espectador e a trama começa a passar por uma série de reviravoltas que não fazem o menor sentido. São surpresas gratuitas e nada orgânicas, que não se sustentam diante de uma reflexão sobre toda a história. Em determinado ponto da narrativa, Leder e seu roteirista perdem a mão de vez e a coisa abandona qualquer resquício de lógica – cabe ao espectador parar de buscar uma compreensão sobre o que está acontecendo e simplesmente torcer para que tudo tenha fim o mais breve possível.

E nem mesmo o carisma da dupla de protagonistas é capaz de salvar Jogo entre Ladrões. Em um filme como esse, no qual os personagens são criminosos, é fundamental que algo seja oferecido para estabelecer uma identificação entre eles e a plateia. No caso de Jogo entre Ladrões, Leder tenta superar os problemas do roteiro nesse sentido ao colocar em tela dois atores com bom apelo junto ao público. Mas tanto Morgan Freeman quanto Antonio Banderas parecem estar no piloto automático e o espectador jamais chega a “torcer” por eles. Na realidade, ambos não conseguem fugir das personas com as quais já são consagrados: Freeman exalando classe e respeito e Banderas encarnando um latino sensual (e o espanhol deve estar precisando de dinheiro, pois interpretou exatamente o mesmo personagem no péssimo Mais do que Você Imagina).

No final das contas, ainda que Jogo entre Ladrões não chegue a ser uma atrocidade (tem coisa muito pior por aí e que, de quebra, precisa de mais milhões para ser realizada), é um filme fraquíssimo, repleto de problemas, que será esquecido dentro de muito pouco. Isto é, se já não o foi.

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