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Críticas

Cineplayers

Um filme obviamente com propósitos comerciais duvidosos com um tema tão sério.

2,0

Histórias de tom épico-religioso estavam praticamente esquecidas, relegadas a filmes para a televisão, quando Mel Gibson lançou, cercado de polêmicas, o radical A Paixão de Cristo, mostrando o martírio que foram as últimas horas do Salvador cristão. Em uma indústria em que a controvérsia é diretamente proporcional ao lucro, o filme de Gibson, acusado na época de ser anti-semita (o próprio foi preso por dirigir bêbado tempos atrás e nesta ocasião colocou sua carreira em risco ao fazer declarações ofensivas aos judeus), tornou-se extremamente lucrativo e abriu novamente as portas para o filão.

Contar a saga do nascimento de Cristo foi a idéia que surgiu na cabeça do roteirista Mike Rich (responsável por scripts ruins como Encontrando Forrester e Desafio do Destino), baseado nos evangelhos de Mateus e Lucas, além de extensa pesquisa com historiadores e teólogos. O projeto rapidamente foi posto em produção e a ex-desenhista de produção e agora cineasta Catherine Hardwicke foi convidada a comandar as filmagens. Hardwicke seria a mais indicada já que o tom realista adotado no roteiro de Rich, mostrando as dificuldades da adolescente Maria com a gravidez súbita e o conflito com a sociedade da época, se aproximaria dos dois primeiros projetos da diretora, o terrível Aos Treze e Os Reis de Dogtown, ambos com enfoque em personagens juvenis.

Três narrativas conduzem a trama, e se entrelaçam no desenvolvimento. Uma diz respeito à aflição de Herodes, rei da Judéia, com a profecia citada no Velho Testamento, que indicava a chegada de um messias – Herodes acabou ordenando o Massacre dos Inocentes para se ver livre da ameaça iminente desse homem poderoso que estava por vir. Outra narrativa mostra os reis magos excitados com a perspectiva da chegada do filho de Deus, e a decisão de iniciar o longo caminho até a Judéia, seguindo a estrela-guia. E a narrativa-mestra é centrada em Maria (Keisha Castle-Hughes, indicada ao Oscar por A Encantadora de Baleias), que é surpreendida com a notícia que sua família quer casá-la com José (o semi-desconhecido Oscar Isaac), alguém que ela mal conhece. Atônita com a aparição do anjo Gabriel (Alexander Siddig, de Syriana – A Indústria do Petróleo), recebe a notícia que está grávida do Espírito Santo e que está gerando o filho de Deus. Incrédula, viaja até a prima Isabel (Shohreh Aghdahshloo, indicada ao Oscar por Casa de Areia e Névoa), mulher até então estéril que, também por um milagre, está gerando um filho, que a tranquiliza. Já consciente de sua situação, Maria volta a Nazaré, onde é rechaçada por estar grávida. Surpreendida pela atitude de José, que a assume nesta situação, decide seguir, mesmo com a gravidez avançada, para Belém, para cumprir um decreto de Herodes, cujo objetivo é fazer um censo. Durante a jornada, Maria entra em trabalho de parto dentro de um estábulo e dá a luz ao mais famoso dos homens.

É até previsível que o resultado tenha saído tão ruim. Jesus – A História do Nascimento, por mais que obtenha a simpatia do espectador e seja beneficiado pela época de lançamento, não passa de um filme bem intencionado que falha em todas as suas propostas. O fraco resultado nas bilheterias só faz comprovar isso. O longa peca por uma condução morna e burocrática de Hardwicke – o filme parece ser três vezes mais longo do que realmente é. Todas as situações são mal desenvolvidas e os conflitos são resolvidos de forma apressada e sem maiores desdobramentos. Entediante, era de se esperar que ao menos o clímax emocionasse, mas é tão medíocre quanto todo o resto – exceção única para a trilha sonora onipresente de Mychael Danna, que tenta carregar o filme nas costas. Um total equívoco.

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