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Jéssika

(Jéssika , 2018)
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Sensibilidade que falta

6,5

Representatividade trans ainda é um tabu em diversas áreas, tanto nas discussões sobre o tema quanto no próprio ato de inserção no mercado quantas pessoas trans, mulheres ou homens, têm livre circulação empregatícia hoje? A presença de Galba Gogoia nas rodas de festivais, independente de se fazer necessária, é um refresco a uma circulação viciada e muitas vezes regada por um certo protecionismo. Sua visão despojada de um universo que ela conhece de perto traz textura ímpar a Jéssika.

Na trama, pouco já não foi visto, mas é o toque de Galba que constrói o novo. O momento no qual observamos Veronica Valentino comer com vontade o lanche de sua mãe e fumar na beira daquela janela é muito simbólico do ponto de vista da construção da intimidade, da repressão social e familiar, do apontamento das sutilezas e do despojamento que demarcam o naturalismo. A própria decisão de empunhar uma mala pelas ruas suburbanas já é, por si, extremamente político e desafiador, conseguimos perceber as intenções transgressoras já nesse plano, o ato de voltar pra casa.

O posicionamento, a princípio cruzada entre mãe e filha, se transfere para a frontalidade na segunda cena entre elas e se encerra num distanciamento já potencializado para outro registro, com o nascimento de uma cumplicidade antes nunca alcançada, o entendimento que o luto outorga. Valentino, embora crua, estabelece relações com a câmera de entendimento empático e consegue vender uma verdade cênica muito palpável, que ajudam na composição do todo.

Embora a lapidação dos diálogos não seja o forte do filme, os silêncios breves nascidos daquele reencontro repercutem mais nas atrizes e na obra, que reverbera uma potência de realidade emocional, seja nas lágrimas ou seja no sorriso esperançoso. Filmada quase sempre de perfil, Veronica respira aliviada no final da jornada daquela mulher em colisão com o seu passado, que precisa de um colo, um abraço, ou apenas de uma palavra: enfim, Jéssika.

Crítica da cobertura da 3ª Mostra SESC de Cinema de Paraty

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