Guardo com muito carinho a versão televisiva transformada em filme no Brasil do começo dos anos 90 de It, um dos grandes clássicos de Stephen King. Foi com ela que tive meus primeiros contatos com o cinema de horror - do qual nem sou muito fã por ser um medroso assumido -, ao lado de amigos queridos com a história do palhaço Pennywise que assombrava a pacata cidade de Derry. Alguns anos se passaram e essa mesma história foi novamente adaptada ao cinema em 2017 com a ideia de serem duas partes, dando a entender que essa versão seria mais fiel ao extenso livro de King, que possui mais de 1.100 páginas. Voltamos para 2019 e o Capítulo 2 chega nesta quinta a todos os cinemas do país. Mas seria ele suficiente para terminar de maneira satisfatória essa história?
Para ser muito sincero, esta sequência é muito inferior ao trabalho anterior. Primeiro, por sua duração excessiva, de quase três horas, que ao invés de filtrar partes realmente relevantes à trama e adaptar o que fosse necessário, tenta ao máximo inserir tudo o que for possível das páginas do livro; há uma enorme barriga, principalmente na metade do filme. Em segundo, porque os atores adultos (a trama se passa 27 anos depois) não têm o mesmo carisma dos jovens, incluindo os famosos e ultra-talentosos Jessica Chastain e James McAvoy, que parecem pouco inspirados; e olha que é preciso se esforçar muito para que McAvoy faça um trabalho morno depois de comandar filmes como Fragmentado e desconstruir um personagem já icônico em X-Men. Pelo menos todo o cast adulto é imensamente parecido com o juvenil, o que é relativamente raro no cinema. E, por fim, a história aqui é chata pra caramba.
Os sustos ainda estão lá, mas eles agora são muito mecânicos e previsíveis: com um momento ou outro de gelar a espinha, a grande maioria das vezes em que o filme tenta assustar acaba sabotado por sua própria super produção, enchendo de efeitos especiais e acabando com algo crucial para o suspense, que é a expectativa, a extensão da tensão, a tortura intelectual, onde nomes como Hitchcock brilhavam e poucos têm o talento para reproduzir. As obras de King, no geral, funcionam muito bem na literatura, na imaginação, mas quando se tornam visuais perdem mais da metade do impacto. Não é a toa que Kubrick fez o melhor horror baseado em uma obra sua, O Iluminado, de 1980, justamente tendo cortado toda essa parte mais visual e trabalhado com o psicológico de Nicholson e seu Jack Torrance. King ficou furioso com as alterações.
É um fato que essa segunda obra deixou de ser horror para se tornar um drama com aqueles ex-jovens, vinte e sete anos mais velhos, que precisam pausar suas vidas para enfrentar novamente o palhaço que se alimenta do medo - um personagem muito interessante, por sinal. Enquanto o Pennywise de Tim Curry tinha uma aparência mais dócil, a criação de Bill Skarsgård acaba sendo visualmente ameaçadora, o que força nossa suspensão de descrença para acreditarmos que alguma pessoa confiaria naquela figura bizarra. Convenhamos: palhaços, por si só, não são figuras lá muito agradáveis. Quem inventou a ideia de que eles são empáticos a uma criança certamente tinha a intenção de traumatizar alguém, não diverti-la.
Mas voltando ao drama, o tema do filme é óbvio: o passado e como lidamos com ele no presente. Os personagens do “futuro” reencontram problemas antigos, seja em traumas que se repetem, como o marido que abusa de Beverly igual ao seu pai, ou então Ed, que casou com uma mulher muito semelhante à sua mãe. É compreensível que eles não queiram voltar à cidade para enfrentar Pennywise novamente; eles já sobreviveram uma vez, que outras pessoas lidem com isso agora. Além do medo de perderem tudo o que construíram ao longo dessas quase três décadas, o retorno do palhaço significa perigo real para aqueles que o enfrentarem - e como ele se alimenta de medo, há lógica nos comportamentos. O que fica difícil de acreditar é que, depois de tudo o que passaram juntos, eles simplesmente tenham esquecido o que viveram.
Por tratar de traumas e passado, sua narrativa vai e volta em flashbacks muitas vezes desnecessários, com dramas redundantes e personagens em excesso, colocando uma gordura na barriga do filme, que facilmente poderia ter uns quarenta minutos a menos. Há uma tentativa em deixá-lo épico, grandioso, com efeitos especiais e monstros gigantes e tecnologicamente complexos, mas quando a ação parte para esses lados, o tédio vem junto. O filme é muito mais interessante quando decide desenvolver temas do que quando tenta impressionar. Pelo menos segue o padrão de qualidade do primeiro - custou o dobro, 70 milhões - e entrega visuais exuberantes tanto nas coloridas paisagens da década de 80 quanto no outro tipo de arte, completamente diferente, na desinteressante vida adulta de 2016.
O que talvez tenha sido a maior - e melhor - surpresa do filme seja seu humor, quase sempre encabeçado pelo Richier de Bill Hader. Diversos momentos são de rolar de rir, a grande maioria por um humor voluntário mesmo, e não por uma galhofa involuntária que acaba tomando conta da trama lá pelos quarenta e cinco do segundo tempo. A diversão, pelo menos nesse sentido, está garantida. Só fica difícil indicar com mais propriedade, principalmente para os fãs de terror.
A longa duração prejudicou demais o filme. Se o Capítulo 2 tivesse foco-narrativo eficiente com certeza seria ao primeiro.
Rodrigo, Bernardo, Heitor e cia, por favor, não façam o Cineplayers Cast de It 2! Assim como refilmagem do Rei Leão é muito muito desnecessário. Por que não faz cast do filmes Harry & Sally ou então Muito Além do Jardim o meu filme favorito.
Vai ter não, 99 Bacurau e 100 será uma edição especial!
Pelo menos o Rei Leão a gente também conseguiu falar do original de 94. Esse nem isso, já que a versão de 90 também não é lá grandes coisas hahahaha
Fiquei muito decepcionado com este filme, e prefiro nem relembrar. Estou ansioso pelo cast sobre Bacurau. Até fiquei com medo de vocês não fazerem. precisamos falar mais sobre nosso cinema, tem tanta coisa legal que as pessoas não conhecem. Estes dias mesmo estava indo comprar meu ingresso para ver Bacurau (pela segunda vez) um casal estava ao meu lado, o moço perguntou; - O que era esse tal de Bacurau. A namorada dele respondeu: - É um filme Brasileiro, não presta. parece que filme brasileiro virou sinônimo de coisa ruim, ou mal feita, ou inferior. Triste, muito triste!
o pior é que o povo vê centenas de filmes ruins dos EUA todo ano e não desenvolve o mesmo preconceito contra cinema americano. Se fosse seguir por esse raciocínio, ver Esquadrão Suicida e A Maldição da Chorona já era desculpa pra nunca mais ver um filme americano na vida hahahaha
Filme excessivamente longo, mas ainda sim continua um bom filme de horror, sem muita exigência vc gostara do filme.