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Críticas

Cineplayers

Um filme impressionante que vale a pena assistir. Um choque visual.

7,5

Paradoxo. Não existe melhor termo para definir Irreversível, o polêmico filme do semi-estreante diretor Gaspar Noé (Irreversível é seu segundo longa). O filme é uma bomba de opiniões controversas, e a cada vez que você pensar nele (e acredite, não serão poucas, pois ele possui cenas que ficam gravadas na memória) pode ter uma opinião, geralmente, contrária a anterior.

Em um primeiro instante pode se pensar que o filme é feito para impressionar, abusando da violência e cenas chocantes. Em um segundo momento pode se chegar à conclusão de que o filme é a realidade nua e crua, afinal Gaspar Noé só estaria expondo o que os demais diretores nos pouparam até hoje.

Pode achar ainda que a forma que o filme é exibida - de trás para frente, como em Amnésia (Memento) - é confusa (realmente, inicialmente é bastante confusa) e elimina algumas surpresas, assim como pode achar essa forma de exibição interessante, pois vai passo-a-passo nos elucidando o que há poucos minutos era só confusão visual.

É um tipo de filme que precisa ser visto  com atenção, lendo atentamente as entrelinhas. Apesar de possuir um enredo simples - após mulher ser violentamente estuprada, seu namorado parte em busca do estuprador e descarrega nele todo seu ódio - é capaz de nos fazer pensar em nossas vidas e nos caminhos que ela pode trilhar, seja para bem ou para mal. Afinal, quem. estando no lugar do namorado da vítima, agiria diferente? Como as coisas que deveriam ser de um jeito, por uma fatalidade, vidas e destinos são bruscamente alterados, de maneira irreversível, como sugere o título do filme.

Por ser caótico e confuso, o início do filme foi alvo de duras críticas, pois o espectador não tem idéia do que esta acontecendo, quem são os personagens, quais suas motivações, qual o sentido de tanta violência exibida gratuitamente.

Apresentar o filme de trás para frente foi um recurso ousado do diretor Gaspar Noé, pois como comentei, tanto se pode achar interessante ir compreendendo a trama, ao vê-la sendo costurada durante os retrocessos, como também se pode achar desmotivador e tedioso. Pois o filme segue uma linha que vai da ação frenética à calmaria do momento íntimo dos dois principais protagonistas.

Mas ao contrário de Amnésia, esse recurso não é tão impactante, pois a trama simples não confunde, não se fica perdido nos acontecimentos durante os retrocessos. De certa forma isso é bom, principalmente para quem assiste no cinema e não dispõe do recurso de voltar o filme para ver um trecho que não entendeu, mas isso também tem um ponto negativo, pois a falta de surpresas dá um tom monótono ao filme, pois após os dois grandes choques visuais, que são o assassinato do estuprador e o estupro de Alex, só nos resta acompanhar os acontecimentos, já cientes dos resultados.

Esse recurso talvez funcione melhor em uma trama complexa, como Amnésia, mas em um filme simples como Irreversível torna-se apenas um diferencial. Algo para evitar que o filme torne-se comum, ao apresentar acontecimentos já vistos em vários outros filmes. Para ilustrar, tome exemplos o recente Bem-me-quer, Mal-me-quer (com Aldrey Tatou), ou Lágrimas do Sol (com Bruce Willis). São filmes que não são ruins, mas não apresentam nada de novo do que já não tenha sido visto.

O mais curioso de Irreversível talvez seja reparar na metralhadora de sentimentos que o filme é. Os personagens Marcus, Pierre e Alex estão sempre aos extremos. Em certo momento temos um Pierre excitado, falante e desinibido, em outro um Pierre recatado e calmo. O mesmo acontece com Marcus, que em um momento calmamente acompanha a excitação de Pierre ao conversar com Alex (sua ex-namorada) e em outro, estimulado pelo consumo de entorpecentes, se torna extremamente desinibido, querendo levar o agora inibido Pierre a aproveitar o máximo da festa em que se encontram. E da mesma forma é Alex, que em um momento esta excitadíssima, dançando e aproveitando a festa em outro, ao ver a desinibição de Marcus e constatar o motivo, se torna fria e aparentemente cansada. A câmera acompanha todos esses sentimentos. Das tomadas longas e com closes nos momentos calmos à ação frenética, sem parar uns instante, em  momentos de maior tensão.

O filme pode incomodar na cena do estupro, que é longa e angustiante e o principal motivo de muitos deixarem a sala antes do término do filme. Mas é interessante se for encarado, ao menos para o espectador tentar se conhecer melhor. Pois certamente ele será pego em pensamentos, tentando em algum momento justificar os motivos dos acontecimentos. Alex tem parcela de culpa nos acontecimentos? Podia ser evitado? O estuprador teve realmente o que merecia ou foi rápido demais? Essas são certamente questões que passarão na mente de muitos. Dificilmente alguém saíra tranqüilo, da forma que entrou ao iniciar a sessão.

Irreversível é um filme impressionante, que vale a pena ser visto. Infelizmente por tratar de um filme pouco comercial, ele ficou disponível em pouquíssimas salas aqui no Brasil, na maioria cineclubes. E assistí-lo em DVD ou VHS, em uma TV, certamente vai abrandar bastante o impacto das cenas iniciais, na boate Rectun.

Vale mais pela boa interpretação dos atores e a psicologia contida nas entrelinhas do que pelo choque visual e trama em si.

Comentários (3)

viktor simoes thomaz de oliveira | quarta-feira, 05 de Outubro de 2011 - 21:46

"E um tipo de filme que precisa ser visto COM ATENÇÃO,lendo atentamente as entrelinhas."
Se voce nao estivesse tão atento as "entrelinhas" e se estivesse com mais atenção á narrativa do filme, não escreveria "...pois apos os dois grandes choques visuais,que são o assassinato do estuprador e o estupro de Alex..." e "...o estuprador teve realmenta o que merecia ou foi rapido demais?..." Agora pode ler nas entrelinhas este comentario,afinal ja passaram 8 anos e voce ja deve de ter revisto o filme. abração. -VK-

Vinícius Dalla Corte | quinta-feira, 16 de Fevereiro de 2017 - 18:48

Ed Carlos, quando tu diz "O estuprador teve realmente o que merecia ou foi rápido demais?" está errado pois, o estuprador não foi morto pelo Pierre e sim a pessoa que estava ao lado dele e que começou a briga. Trazendo ainda mais indignação ao espectador, porque depois de tudo, o culpado saiu ileso.

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