Mais um filme fraco, sem graça e com originalidade zero da Disney. Assim fica difícil fazer sucesso com animação convencional.
Final de ano, mais uma animação “tradicional” da Disney chega aos cinemas. As aspas no tradicional agora parecem obrigatórias quando se trata de animações, já que boa parte delas agora são feitas em 3D, totalmente por computador. Então, querendo ou não, acabo sendo obrigado a destacar que esta NÃO é uma animação do novo estilo. O velho método de animar frame-a-frame está sendo abandonado pela Disney, pelo menos é o que ela garante para breve (porém, o Japão ainda nos trará boas surpresas nesse estilo – ano que vem será lançado o novo filme do diretor de A Viagem de Chihiro, Hayao Miyazaki). A verdade é que os números das bilheterias não mentem: as famosas animações anuais da Disney, em sua forma tradicional, não rendem mais como antigamente. Lilo & Stitch é a única exceção recente. Os filmes acabam encontrando seu público, mas títulos como Atlantis, A Nova Onda do Imperador, Planeta do Tesouro, enfim, as animações mais recentes do estúdio, não geraram exatamente rios de dinheiro como antigamente fizeram, por exemplo, O Rei Leão, Aladdin, ou Mulan.
Oras, mas o problema está no público, que “enfrescou” e só quer saber de desenhos computadorizados? Certamente não! A qualidade dessas novas animações não é mais a mesma, é simples assim. Tecnicamente falando, a Disney está fazendo um ótimo trabalho, mesmo em animações de estilos assumidamente mais simples, como A Nova Onda do Imperador ou mesmo este Irmão Urso, com traços mais simples e cenários não tão incrivelmente detalhados. A parte sonora também continua impecável: sempre há pelo menos uma bonita canção (que geralmente acaba concorrendo ao Oscar) em cada nova animação. Neste filme, há pelo menos três. Mas o problema é que a história é sempre a mesma: os mesmos clichês, as mesmas piadas bobinhas, a mesma lição fácil de moral. Tudo bonitinho e bem embalado, com um trailer engraçado, boa campanha de marketing, cartaz caprichado, mas falta a velha magia do estúdio.
Os novos desenhos da Disney, falando de forma generalizada (há exceções), não têm ousadia nenhuma, optam sempre pelo caminho fácil para tentar ganhar o espectador. E isso é particularmente irritante. Falarei a partir de agora especificamente de Irmão Urso, mas a “bronca” vale para os últimos filmes citados lá em cima, no primeiro parágrafo. A originalidade foi pelo ralo. Irmão Urso é sobre um índio que foi transformado em urso, após matar um animal dessa espécie. A “Mãe Natureza” (ou os espíritos da floresta, o que seja) vingou-se dele com essa transformação, e agora, em forma de urso, o índio deve fazer uma jornada até uma montanha para tentar se redimir com os espíritos. No caminho, há várias aventuras: ele descobre como é estar na pele do animal caçado, interage com diversos bichinhos fofos e estúpidos, e encontra um companheiro de viagem, um ursinho chato que está perdido da mãe, e resolve acompanhá-lo em sua jornada.
Faz tempo que me surpreendo com o fato de como a Disney escapa de levar qualquer tipo de processo. Inúmeros – MUITOS – elementos encontrados em Irmão Urso são chupados descaradamente do sucesso (e da ótima animação) recente, que NÃO é da Disney, A Era do Gelo. Desde mamutes, passando por inscrições rudimentares em pedras, um cenário desolador de lava pelo qual devem atravessar, índios com lanças que à princípio são inimigos dos animais. Tem muito mais, é só ver os dois para sacar na hora. Não digo que A Era do Gelo é uma lição de animação em termos de originalidade, mas ele pelo menos sabia manter a história com elementos pelo menos bem reciclados, mesmo que não novos. Há, claro, outra tonelada de elementos chupados dos próprios filmes anteriores da produtora. O Rei Leão seria uma lembrança óbvia. No final das contas, não há elemento algum que já não tenha sido visto antes.
Claro, se você só quer ter 90 minutos de distração para seus filhos, Irmão Urso é recomendado. O filme é recheado de piadas visuais, como batidas, tropeços, caretas, etc. Para os adultos, há algumas poucas piadas mais sutis, que só os mais atentos conseguirão detectar. Consegui rir com uma ou duas delas. A cena mais engraçada de todo o filme, porém, está nos créditos. Fique atento para o animal refletido no gelo. A história, tirando o fato de não ser original, é adequada para a criançada, traz uma mensagem bacana de amor à natureza (se eles prestarem atenção, claro) necessária para os dias atuais.
Tecnicamente é um filme bom, com um colorido intenso e algumas cenas de babar, sempre com uma natureza esplendorosa. Os personagens em si possuem traços simples, na linha dos de A Nova Onda do Imperador (porém um pouco mais detalhados) e até mesmo algum desleixo com suas formas, como o pequeno ursinho Koda, que tem uma aparência esquisita em alguns momentos. Mas é, no geral, um filme visualmente mais divertido que Atlantis e Planeta do Tesouro, talvez mesmo por essa simplicidade. A trilha sonora é o ponto mais forte. Na versão brasileira, todas as músicas são dubladas, e todas elas ficaram muito boas, em relação com o pouco que ouvi das músicas originais. As vozes dubladas aqui (Selton Mello de novo, como em A Nova Onda...) são convincentes, embora algumas vezes dessincronizadas. Nada que um pirralho de oito anos vá perceber.
Irmão Urso não é um filme horrível, é apenas comum e bobo demais. Um estúdio como a Disney poderia fazer algo melhor. O problema é que esse desleixo todo – que ocasionou o fraco número de arrecadação para seus filmes recentes – vai fazer acabar uma tradição, segundo a própria empresa já confirmou (vai lançar apenas mais um filme de animação “tradicional” ano que vem). Então, é triste ver um reinado que começou com Branca de Neve e os Sete Anões, que hoje ainda sobrevive muito bem, terminar de forma tão fútil. Pelo menos ainda temos os japoneses... eles sim são os atuais reis da animação tradicional.
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