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Críticas

Cineplayers

Tiro! Tiro! Tiro!

4,0

É comum Hollywood flertar com o cinema catástrofe: desde os tempos antes de Guerra dos Mundos (The War of the Worlds, 1953), o ser humano parece consumir com gosto aquilo que lhe causa medo e apreensão: a destruição de sua segurança, a invasão do seu dia-a-dia, a implosão do lugar comum. Se Orson Welles já brincava com o mesmo texto em sua famosa transmissão de rádio de 1938, o cinema parece ter regredido o tema com o passar dos anos. Se antes tais filmes serviam como reflexão do medo, um tratamento psicológico em cima do homem, um estudo mais cuidadoso em cima da arte técnica de se fazer cinema, hoje eles são chamariz de efeitos especiais e explosões descerebradas. A idéia deu lugar à brutalidade. Esqueçam os subtextos, a psicologia, os personagens marcantes: quem vai assistir a um filme desses hoje, não espera nada muito profundo.

Não que eu esteja condenando o público. Longe disso. Certamente é divertido sentar na cadeira do cinema e ir a um mundo que não viveríamos se não fosse à tela de cinema. A questão é: o quanto você agüenta um filme que se propõe a não ter nada além de tiros e mais tiros durante toda sua duração? Os filmes catástrofes têm se afastado dessa idéia construtiva e abraçado mais o realismo de um cinema que tende a focar o documental vestido de ficção. Antes, era a magia do cinema. Hoje, é o que poderemos vivenciar – ou, em alguns casos, um retrato do que já passou. As tragédias naturais e sociais estão na moda e abraçam o engajamento de nossa responsabilidade, como são vistas em filmes que, mesmo desastrados, tendem a ser mais realistas na conscientização do público. O Dia Depois de Amanhã (The Day After Tomorrow, 2004) e 2012 (idem, 2009) são exemplos desse ‘emburrecimento’ que o gênero foi submetido ao longo dos anos, ainda que consigam ter sua parcela considerável de diversão.

Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles (Battle: Los Angeles, 2011) trilha exatamente por este caminho repetitivo e descartável. A história é moralista, sobre um grupo de soldados que deve proteger Los Angeles de uma invasão alienígena, e se vê tecnologicamente e numericamente em desvantagem, ao mesmo tempo em que outras cidades do mundo também estão sob ataque. Não espere nada além disso. Se em filmes também ruins, como Impacto Profundo (Deep Impact, 1998), Independence Day (idem, 1996) e Armageddon (idem, 1998), conseguimos ainda destacar uma coisa ou outra (a seqüência do tsunami gerado pela queda do meteoro, a chegada da nave pelas nuvens e a música do Aerosmith, respectivamente), Batalha de Los Angeles é um conglomerado de combates ligados por meio fio de história, sem nada que nos faça recordar dele depois.

Os personagens não importam, pois sua abordagem soa apressada e artificial, os dramas são mal desenvolvidos, os diálogos contam com aquelas sofríveis frases de impactos e as soluções soam cada vez piores. É praticamente um Falcão Negro em Perigo (Black Hawk Down, 2001) com antenas. Aliás, a comparação não é tão apropriada em técnica, visto que, pelo menos, o filme de Ridley Scott é muito bem filmado. Já Batalha de Los Angeles é um show pirotécnico realizado por alguém com sérios problemas nos nervos, visto que não pára de se chacoalhar um segundo sequer. A câmera torna-se um brinquedo de uma criança de não mais que alguns meses, faltando apenas o inexperiente (ou incompetente?) diretor Jonathan Liebesman colocar na boca e babar nela.

Em contrapartida, Aaron Eckhart demonstra cada vez mais ser realmente um ator merecedor de filmes de primeira linha e comprova que pode carregar um blockbuster nas costas. Já Michelle Rodriguez pouco faz além daquelas caretas machonas irritantes que estamos acostumados a vê-la fazer desde o início da carreira, enquanto Michael Peña tenha talvez a única interpretação que se equipare a de Eckhart de todo o filme – e não é coincidência que seu personagem também seja um dos menos quadradões, o símbolo do civil lutando contra a ameaça. A verdade é que Batalha de Los Angeles depende totalmente do que você espera dele. Se não liga para nada do que foi dito até então, provavelmente terá uma experiência mais divertida, com seus incontáveis cartuchos destinados a grudentos aliens, efeitos especiais convincentes e um som envolvente. Já eu perdi as contas foi de quantas vezes olhei no relógio, esperando tudo aquilo acabar logo.

Observação:
A cabine para a imprensa, realizada no Rio de Janeiro, na sala 2 do UCI New York e com apoio da Sony, contou com a nova tecnologia 4K da empresa, que projeta o filme em uma definição muito maior do que estamos acostumados. A película torna-se história, com uma imagem muito mais nítida, menos embaçada, ainda que o brilho, cores e contraste precisem achar o ajuste ideal – se bem que o filme não ajudou a fazer uma avaliação justa neste sentido, com todo o tremelique e falta de cor, já que é amarronzado demais e com excesso de planos contra o sol. A experiência foi positiva e já está disponível para o público final. Maiores detalhes podem ser encontrados aqui.

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