Um suspense clichê com tantos absurdos na história que fica difícil não sentir raiva do filme.
Às vezes é difícil entender o que se passa na cabeça de um diretor. Depois do ótimo Malícia, fica difícil saber o que levou Harold Becker a fazer um filme tão ruim como Inimigo em Casa. É clichê atrás de clichê, é uma situação atrás da outra onde você se pergunta “por que o personagem não fez isso?”, um gasto estrondoso de dinheiro para nada (custou 53 milhões). Enfim, inúmeros fatos sem explicação. Além disso, é difícil entender o que leva um elenco a aceitar esse tipo de filme. John Travolta é simplesmente imprevisível. Por oras acerta em papéis como o da obra-prima Pulp Fiction: Tempo de Violência (que, por sinal, salvou sua carreira), outrora aceita fazer algumas bombas atômicas que somente o pior dos piores atores aceitariam, como A Reconquista e este em questão, um filme extremamente ruim e dispensável.
O filme trata da difícil relação entre um casal de pais separados com seu filho único. Frank Morrison (John Travolta) é um humilde construtor de barcos de madeira da cidade, e tem uma relação extremamente verdadeira com seu filho. Coisa que não acontece com sua mãe, Susan (Teri Polo, de No Limite do Silêncio), que está prestes a se casar com o novo xodó da cidade, o famoso Rick Barnes (Vince Vaughn, da trágica refilmagem de Psicose). Quando o filho do casal, Danny (Matthew O´Learey) presencia um assassinato cometido pelo padrasto, o filme tenta criar um clima de tensão entre os personagens. Só que a tentativa é falha, a história pára de se desenvolver nesse ponto, não há nada a mais a ser contado. Fica um lenga lenga chato para mostrar o quão mal é o padrasto e o quão bom é o pai verdadeiro.
Obviamente, tudo é clichê. Existe o pai, o único que acredita na história do filho, este que mente para a família e engana sempre a polícia, esta que não acredita que o milionário pode estar envolvido com ninguém, este que está realmente envolvido com alguém do passado, este que entra na história só para cobrar seu dinheiro. Ou seja, não há nada que não tenha sido contado antes. E todos estão muito padronizados, não há nada que surpreenda. Talvez um dos únicos pontos fortes do filme seja a presença do estranho Steve Buscemi, que dá sempre um clima de dúvida entre sua personalidade, talvez pela aparência natural do ator. Você nunca sabe se suas atitudes serão boas, más, enfim, ele dá um ar de mistério. Pena que vai embora tão cedo.
E é incrível como, em pleno novo milênio, ainda exista pessoas que não saibam fazer um trailer. O trailer de Inimigo em Casa não diz apenas como é o filme para que as pessoas sintam curiosidade de assistir. O trailer é, na verdade, um curta metragem do filme. Só pode ser, porque ele vai desde a apresentação dos personagens até a cena final! Ou seja, se já não tinha nada para contar, imagine depois do trailer mostrar exatamente isso! O que agrava ainda mais a qualidade da fita, pois é completamente perceptível que o mesmo filme de uma hora e meia poderia ser contado perfeitamente em 15 minutos.
Há ainda outros erros bem graves, como personagens que estão na trama à toa (como a mulher de Frank), ou seja, que não servem de nada para a história, estão ali simplesmente para ‘encher lingüiça’; ou então atitudes extremamente surreais, como o menino ter entrado no carro do padrasto pouco antes do assassinato. Aliás, essa cena é uma embolação só. Imaginem: sua mãe está no seu quarto, conversando com você. Ela diz que irá levar seu padrasto no andar inferior, até o carro, e já volta. No tempo dela sair você coloca um casaco, desce pelo encanamento da casa, abre o carro e se esconde. Até aí tudo bem, mas isso antes dela simplesmente descer a escada da casa e sair, um caminho extremamente mais curto! O que aconteceu para ela e o padrasto chegarem depois? Pararam na cozinha para tomar um café? Patético. E a ação do menino? Se ele odeia tanto o padrasto, por que diabos ele entraria no carro? A explicação de Becker (em um dos diálogos do filme, pelo menos isso ele escondeu bem) é que o menino queria ir até a cidade, onde o pai mora. Mas é bem óbvio que ele acharia outro meio, menos esse, se fosse uma história levada a sério.
Mas os erros não acabam por aí, apenas não vou ficar me estendendo. Há diversas perguntas sem respostas (como o menino levaria toda a polícia até a casa da mãe antes mesmo do padrasto voltar? Como ele poderia esquecer que há duas portas em seu quarto?) que, sinceramente, me deixam cada vez com mais raiva do filme em questão.
Inimigo em Casa não é só um filme ruim, é uma ofensa aos filmes do gênero, que tanto já foram consagrados. O incrível é que ainda consegui encontrar pessoas que gostaram do filme, mas sempre um público mais casual que gosta dessa história do bem contra o mal. Só que, mesmo para esse público, o filme não consegue agradar completamente. Para quem curte Cinema então, saibam que aqui se encontra um dos maiores lixos atômicos dos últimos anos. Se o filme não quisesse ser levado a sério, bem que poderia divertir um pouco com boas risadas. Mas é isso, depois não digam que eu não avisei.
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