Saltar para o conteúdo

Indiana Jones e O Templo da Perdição

(Indiana Jones and the Temple of Doom, 1984)
7,4
Média
597 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Continuação bem abaixo do filme original; ainda assim, vale por ser Indiana Jones.

5,0

Três anos após ter lançado Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark, 1981), Spielberg embarcou em sua primeira seqüência da carreira com Indiana Jones e O Templo da Perdição, o segundo filme da franquia Indiana Jones; só que, na verdade, se passa antes do original, funcionando como um prequel para o personagem. O curioso foi perceber que, após anos sem vê-lo e tirar a poeira do DVD, quase todas as recordações boas que tinha sobre o filme ficaram lá atrás, pois o resultado do longa é quase desastroso. Depois de uma brilhante estréia, Indy havia embarcado em uma furada demoníaca ao invés do espírito inocente e grandioso de aventura a que havíamos sido apresentados.

Talvez o maior defeito seja mesmo sua história: ela é simplesmente ruim. Depois do mini-filme inicial padrão da série, em que Indy foge de avião das garras de um inimigo, após o logo da Paramount ter se tornado algo real, encaramos a linha vermelha que nos leva à Índia, onde o avião de Indy se choca contra as montanhas. Lá, ele descobre que uma pobre vila teve sua pedra sagrada roubada por um feiticeiro e resolve ajudá-los. Ele só não contava com a magia negra do local, que revela-se ser muito mais do que uma lenda, para dificultar sua vida.

A questão aqui é que o filme, depois de sua abertura cheia de ação e da introdução do problema na vila da Índia, passa-se quase que totalmente no mesmo lugar, e Indiana Jones não é isso, é exploração, descobrir novos lugares, é aventura. Erroneamente, o filme dedica mais de meia hora de seu tempo apenas em um ritual macabro, realmente algo não agradável de se acompanhar. O grande problema disso é que é algo totalmente diferente do que vimos em Os Caçadores da Arca Perdida; essa passagem inteira não tem absolutamente nada a ver com Indiana Jones, e a minha expressão ao embarcar novamente nesse mundo foi um incômodo tédio.

Depois de um longo hiato de uns quarenta e cinco minutos sem a menor ação, Indy deve escapar do local e libertar as crianças, usadas como escravos pelo templo que dá nome ao filme. Além de altamente macabro, com algumas cenas bastante violentas, de tortura e adoração ao demônio, ficamos muito a mercê de se interessar pelo tema ou não. Só quando o relógio já bate quase uma hora e meia de produção é que Indy, logo após recuperar seus pertences e gradualmente ser iluminado por um carrinho minerador, o tema volta a tocar forte para sua aparição. Pena que ali já é tarde, o estrago todo já estava feito.

Domado de um final que resgata o espírito Indiana de ser (a seqüência em que dois homens vêm girando suas espadas e Indy procura a pistola para executá-los igual ao homem no mercado do primeiro filme é hilária), o longa, mesmo que em poucas passagens, consegue marcar positivamente, salvando-o de uma tragédia total, como o mentiroso salto do avião usando um bote inflável (demais!) ou então a corrida marcante de carrinhos pelos trilhos perigosos da mina, talvez a cena mais famosa de todo esse longa (e que havia sido cortada do primeiro filme, sendo aproveitada apenas nesse segundo trabalho).

Além de Harrison Ford reprisando o maior papel de sua carreira de maneira extremamente eficiente (é divertidíssimo ver as caras e bocas que faz enquanto passa perigo), mesmo que prejudicado pelo roteiro ocioso e sem sal que toma grande parte do tempo do filme, ainda há três destaques no elenco, um positivo, um mediano e um bem negativo: em ordem, Ke Huy Quan interpretando o pequenino Short Round (sim, é o japinha de Os Goonies (Goonies, The, 1985)), Amrish Puri como o feiticeiro Mola Ram e Kate Capshaw como o par romântico de Indy (ela viria a se casar com Spielberg depois do filme e é sua mulher até os dias de hoje).

Divertido, com timming cômico perfeito e sendo uma boa companhia para Indy na maior parte do tempo, Round é um jovem que deveria ter aparecido mais vezes na série, tamanho o “paizão” que Jones demonstra ser para ele. Já o feiticeiro Mola Ram é até um bom vilão, mas aparece tarde demais no longa, faz algumas maldades, mas sinceramente não há tempo em tela para sentirmos algo mais por ele. É um personagem que acabou sendo muito mal aproveitado. Já a irritante Willie é uma das personagens mais detestáveis que já vi na série. A torcida para que algo de ruim acontecesse a ela foi uma surpresa, e fica difícil saber se a culpa é da atriz ou da personagem; acho que um meio a meio é o mais justo aqui. Ao mesmo tempo em que ela deveria ser irritante, ela convence demais. O problema é que não pelo talento, e sim por exageros e caretas durante todo o filme.

Uma observação aqui: apenas como curiosidade, Spielberg seguiu o mesmo raciocínio para nomear seus personagens. Se Indiana Jones é o nome do cachorro de George Lucas, Short Round é o nome do cachorro do roteirista Willard Huyck e Willie o de Steven Spielberg. Outra curiosidade legal é que, fã confesso de David Lean, Spielberg filmou no Sri Lanka, em algumas locações iguais as de A Ponte do Rio Kwai (Bridge on the River Kwai, The, 1957), por causa da dificuldade imposta pelo governo da Índia para filmar no país, o mesmo problema que Lean teve que enfrentar alguns anos antes.

Uma pena que Indiana Jones e o Templo da Perdição não seja tudo o que poderia ser. Compacto demais, não consegue captar e transmitir o espírito de aventura que todos esperamos de Indy, tornando-se o pior filme dos quatro lançados sobre o herói até hoje. Mesmo que Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, 2008) tenha os seus defeitos, ele é muito mais aventura anos quarenta do que essa tortura aqui, mas também muito menos do que o próximo capítulo a ser abordado em nosso especial, Indiana Jones e a Última Cruzada (Indiana Jones and the Last Crusade, 1989); a melhor de todas as aventuras do arqueólogo mais querido do cinema.

Comentários (1)

Marlon Tolksdorf | terça-feira, 11 de Dezembro de 2012 - 21:17

Discordo totalmente desta crítica, Rodrigo.

Acho este capítulo divertidíssimo, as coisas vão acontecendo sem parar, achei o tema interessante e o desenvolvimento também, sei lá, me agradou muito. 😁

Faça login para comentar.