Concluímos nossas matérias sobre a trilogia principal de um dos maiores ícones do cinema.
Enquanto algumas trilogias são marcadas pela decadência progressiva de suas seqüências, a série Indiana Jones sofreu algo curioso: o primeiro episódio, Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark, 1981), lançado sem expectativas em 1981, foi um enorme sucesso, o que gerou uma óbvia seqüência, Indiana Jones e o Templo da Perdição (Indiana Jones and the Temple of Doom, 1984), em 1984, duvidosa. Porém, em 1989, quando foi lançado Indiana Jones e a Última Cruzada (Indiana Jones and the Last Crusade, 1989), teoricamente o último filme da franquia (retomada em 2008, quase vinte anos depois), o mundo estava por imortalizar o arqueólogo mais amado da história do cinema; sim, Jones havia chegado ao máximo que essa homenagem às aventuras poderia chegar.
A história resgata a origem da série: Indiana Jones (Harrison Ford), com a ajuda do pai, Henry Jones (Sean Connery), parte em busca do Graal, o lendário cálice sagrado de Cristo. Nada de feiticeiros e templos de rituais macabros, isso é passado. Óbvio que o cálice também é procurado pelos alemães, perigo muito mais eminente neste filme, visto que a Segunda Guerra Mundial estava mais próxima de eclodir e até Hitler faz uma pontinha no longa.
Como todo filme da franquia, este aqui também inicia com o logo da Paramount transformando-se em algo real, seguido por um mini-filme aventura do herói. Só que, dessa vez, não é Ford que encarna o papel de Indiana: o jovem River Phoenix (que faleceu tragicamente pouco tempo depois) foi o encarregado de viver o papel durante a adolescência de Indy, em uma de suas primeiras aventuras, que conta um pouco mais sobre os pensamentos do personagem, explica o início de sua fobia por cobras e ainda tem uma aparição relâmpago de Connery, fazendo suspense para sua real chegada, tempos depois.
Tudo está com o mesmo aspecto, mas não a mesma proporção: com duas horas e sete minutos de duração, A Última Cruzada poderia ter, facilmente, três horas. Isso porque as passagens estão maximizadas: Jones visita mais lugares dessa vez (mais do que os dois filmes anteriores juntos), enfrenta inimigos mais poderosos, as cenas de ação são empolgantes ao extremo (retornarei a esse ponto mais a frente), o humor está ainda mais constante, mas sem tirar a seriedade de tudo o que acontece, a companheira de Indy não é apenas uma mulher, mas uma verdadeira femme fatale, e até o final, apesar de menos explosivo, é muito mais impactante do que todos os outros filmes anteriores. Lembrando de Connery, podemos dizer até que o filme tem dois protagonistas, e não apenas um.
A dupla que Harrison faz com ele é simplesmente brilhante: apesar da diferença de idade entre os dois parecer ser muito maior do que é na vida real, o pai e filho arqueólogos funcionam como contra-ponto perfeito para tudo: “Estão tentando nos matar”, “Eu sei, pai!”, “É uma experiência nova para mim”, “Acontece comigo o tempo todo!”. A química é simplesmente perfeita e os diálogos / situações, brilhantes. Eles são, simplesmente, a alma do filme. O conflito pai e filho é sempre usado, desde o primeiro momento em que Connery aparece em cena (se preocupando mais com o vaso do que com o filho), até o fim, quando descobrimos de onde vem o nome Indiana Jones e como o pai chamava, carinhosamente, seu progenitor.
As cenas de ação são um destaque a parte: com um orçamento claramente mais largo para serem realizadas, elas acontecem a todo o momento, e em todos os cenários passados pelo doutor. Baseando-se em grande número em perseguições, as seqüências de ação são bem feitas e, em nenhuma delas, você encostará o cotovelo no braço da cadeira para bocejar. Desde o filme introdutório, onde o jovem Indy foge dos arqueólogos no trem do circo, até a resolução dos enigmas finais, passando por todo o confronto com nazistas, o combate aéreo, a luta no tanque (repito, a luta no tanque!), tudo é feito com o mais absoluto cuidado para agradar aos fãs de tais passagens. Há, obviamente, também, seqüências com animais nojentos, mais uma característica da série, e dessa vez o nervoso da vez será passar por ratos. “Meu pai odeia ratos”. Nós também.
Se há um defeito que pode ser indicado, diria que é a pressa em algumas situações. Óbvio, como falei, acontece tanta coisa no filme que ele poderia caber em três horas de duração, mas a principal passagem em que isso é perceptível é quando Indy vai para o centro do nazismo, para recuperar o diário de seu pai. Ali muita coisa poderia acontecer, mas fomos resumidos a um “basta eu gritar” e pronto, acabou. Indy saiu inteiro. Ok, ele é garanhão e tudo mais, mas depois de tudo o que havíamos visto, fica difícil aceitar esse tipo de pressa. Imagino o tanto de material que não teve que ser cortado para que o filme coubesse em duas horas de duração e não descaracterizasse à homenagem aos filmes de aventura que a série sempre foi. Só que, por méritos total da equipe, o que ficou não nos faz sentir falta de nada.
E já que falei de novo sobre os nazistas, cabe aqui mais um parágrafo sobre eles: verdadeiros vilões da série (feiticeiro que arranca o coração da vítima está lá na esquina dançando frevo e comendo paçoca), fica muito fácil saber que eles são perigosos, mas não pelo que está no filme, e sim por sabermos quem eles são. Se você parar para pensar, pouco antes da guerra acontecer, nazistas procurando o Santo Graal que pode dar a vida eterna e juntando com o pré-conhecimento histórico que todos temos, fica um vilão de fácil aceitação pelo público. Desconsiderando o conhecimento pré-filme, só percebemos que eles são realmente uma ameaça lá para a metade da coisa, quando já estaríamos perdidos o suficientes para perder o fio da meada. Só que como isso não acontece, sabemos perfeitamente os perigos que eles podem oferecer ao nosso arqueólogo sem que o filme precise reservar maiores momentos para isso.
Como não se empolgar quando a canção tema premiada da série começa a sonorizar durante uma bela cena de ação? Os premiados Efeitos Sonoros (Oscar) são realmente fascinantes: propositalmente exagerados, um soco fará um estalo maior do que uma espoleta, assim como o chicote ecoará muito mais potente do que é na verdade. Isso é mágica, isso é cinema, isso é arte. Um filme que faz balançar a emoção entre euforia da ação, a comédia com sorrisos e o drama nas lágrimas, só pode ser uma obra imortal.
Quando os personagens caminham para o pôr-do-sol, felizardos foram aqueles que puderam acompanhar toda essa magia no cinema. Tudo bem, tivemos um quarto episódio e ele serviu para nostalgia e ouvir a trilha no cinema, mas queria ter nascido um pouco antes para ter visto este novo clássico no cinema antes da era da computação gráfica.
"Estão tentando nos matar”, “Eu sei, pai!”, “É uma experiência nova para mim”, “Acontece comigo o tempo todo!”
Esse filme é genial. Saudades de filmes assim. Parabéns pelo texto, também sou muito fã das aventuras do Indiana Jones. Poderia ter parado aqui. Mas ainda querem fazer mais filmes e mais filmes...