4,0
Para comemorar duas décadas de lançamento do filme-catástrofe arrasa-quarteirão Independence Day (idem, 1996), Roland Emmerich lança Independence Day: O Ressurgimento, que mantém acesa a tradição dos filmes estrelados por grandes estrelas enfrentando situações catastróficas iniciada por filmes como os da franquia Aeroporto e os filmes de Irwin Allen, como O Destino de Poseidon (The Poseidon Adventure, 1972) e Inferno na Torre (The Towering Inferno, 1974). Aqui, o elenco conta com nomes consagrados do primeiro filme, como Jeff Goldblum, Bill Pullman e Brent Spiner e alguns novos como Liam Hemsworth, Jessie Usher e Maika Monroe.
O alemão Emmerich não quis saber de ousar e apostou no jogo ganho que o transformou em um dos diretores mais rentáveis da história, com seus filmes somando a bilheteria de um bilhão de dólares. Sim, o filme é um espetáculo técnico que poucos lugares fora de Hollywood pode enganar, é um dos primeiros argumentos que podem ser levantados. Mas considerando ser um filme de 200 milhões, orçamento habitual de um filme do Emmerich, não é mais do que a obrigação da equipe.
Já há mais de seis anos sem emplacar um sucesso sólido (o último sendo 2012 (idem, 2009), a continuação de seu hit dos anos 90 surgiu quase como uma necessidade na carreira do cineasta. Mas como esse jogo ganho se desenrola, de fato?
De maneira preguiçosa e nem um pouco ousada. Emmerich persegue de maneira obsessiva o que deu certo antes em seus filmes e nos clássicos de catástrofe setentistas. Temos um número excessivo de personagens, cada um com dramas pessoais, mas que somando todas as cenas a maioria não deve somar dez minutos de projeção e que no final das contas nem influenciam tanto na trama assim. Vemos as novas figuras lidando com uma ocasião sem precedentes em sua experiência, as figuras que se tornaram lendas vivas em 96 que voltam cheia de questões... Problemas afetados ou iniciados pela invasão de uma nova força alienígena em uma Terra que absorveu a tecnologia extraterrestre do primeiro filme e se tornou uma sociedade hipertecnológica em um presente diferente do nosso, em um conflito que cedo ou tarde irá unir todo o elenco, cada um com suas habilidades, para derrotar essa nova invasão.
Houve quem criticou Star Wars VII: O Despertar da Força (Star Wars VII: The Force Awakens) por em um sentido ser muito semelhante a Uma Nova Esperança, com a grande Starkiller repetindo o papel de Estrela da Morte, só que maior e Han Solo repetindo o papel de Obi-Wan Kenobi na hora de ensinar os jovens Rey e Finn. Pois bem, O Ressurgimento do primeiro filme é a mesma coisa do primeiro: tudo igual, mas maior, mais megalomaníaco, mais cheio de efeitos.
O filme repete, inclusive, os defeitos, como forma de reverência: a observação frequentemente distante, em planos gerais e aéreos das catástrofes (sem detalhes para não ofender ninguém), que precisa ser pano de fundo para um genérico heroísmo sempre ostentando fardas e flâmulas dos países, reforçando como seus protagonistas, ainda que com todos os defeitos que possuem, são os heróis devido à sua coragem inabalável, destaque em suas capacidades individuais e fé no grupo e na sociedade. Para isso, recorre à muitos diálogos sentimentais e cheios de lugares comuns, atuações sempre exageradas tanto para comédia quanto para o drama e música emocional ostensiva.
Enquanto não está explodindo coisas, lotando a tela de detalhes visuais e explodindo os tímpanos com a malha sonora, o filme é um exemplar do que há de mais cansativo no cinema-catástrofe, o que faz com que muitos críticos apontem a “falta de roteiro” desses filmes. Não é que falte roteiro; mas ele é esquemático, a mesma história de sempre. O grupo de pilotos de caça corajosos e audazes liderados por Hemsworth no filme é o mesmo que você pode ver em A Patrulha da Madrugada (The Dawn Patrol, 1930). O ator desempenha o mesmo papel que Douglas Fairbanks teve dirigido por Howard Hawks e o cientista de Jeff Goldblum é o equivalente das figuras de Gene Hackman, Paul Newman e Steve McQueen nas produções catastróficas e apocalípticas de Irwin Allen.
Com isso, dirão muitos, resta o cerne da obra, seu interesse principal, o que levou o espectador a comprar ingresso: a catástrofe, os maremotos, as explosões, as pontes partindo ao meio, os pontos turísticos sendo esmagados… Mas isso já não foi visto antes? Depois de um tempo, todos esses filmes novos de catástrofe ficam muito parecidos, e é incrível que ainda atraiam tanto interesse e conquistem tanto público. Curiosidade do público em ver o nosso mundo como o conhecemos sendo destruído? Ter uma experiência controlada de caos em larga escala?
Apertem Os Cintos, O Piloto Sumiu! (Airplane!, 1980) lançado quase quarenta anos atrás, já avacalhava com todos os clichês de forma ácida e dolorida, inclusive repetindo diálogos de filmes verdadeiros de forma fanfarrona. Depois da sacanagem do trio ZAZ é de se admirar que ainda conseguiram fazer qualquer coisa levando a sério e vender a ideia que o desastre cinematográfico ainda teria uma sobrevida.
Mas essa mescla de efeitos especiais de ponta, roteiro tão excessivo quanto simplista e elenco milionário trabalhando de maneira burocrática volta mais uma vez, tomando as salas de cinema e propagandas pelas cidades ao redor do mundo para chamar a atenção das pessoas e fazer com que elas se interessem em ver o mundo se acabando mais uma vez, com a necessidade por espetáculo sendo espremida até o bagaço. Como seu elenco, Emmerich não tem mais fôlego: alterna ação e drama, ação e drama, ação e drama… Com sua ação sendo o eterno jogo de gato-e-rato só que agora com luzes e revestimentos “invocados”. Sim, o conflito que move o cinema de ação é a eterna medição de forças entre dois lados que representam forças antagônicas, com elas ganhando novas significações com o passar dos anos.
E agora, uma nova significação foi tentada: Emmerich aborda uma grande comunidade global, ligada por ideais de paz e por tecnologia, sendo palco da mesma situação de vinte anos atrás, até a catástrofe cansar mais uma vez, cair no ostracismo e de repente deixar saudades para todos. A catástrofe pode ser reciclada, recauchutada, substituída, ser objeto de nostalgia. O tema rende com o passar das décadas, desfilando exemplar atrás de exemplar de maneira incansável. Incansável, sim, mas exaurido também.
Quando as catástrofes setentistas tiraram do cinturão da miséria os filmes B de situações apocalípticas e deram uma roupagem classe A, com caras conhecidas, grande orçamento, grandes efeitos especiais, diretores reconhecidos, ajudou o cinema de entretenimento a desatolar de uma situação que só conseguia basicamente apresentar para o seu público as mesmas comédias e os mesmos musicais. Não tardou para virarem sempre o mesmo desastre, e aí vir a inovação da computação gráfica, e aí virar sempre o mesmo desastre computadorizado.
No filme é nítido: os criadores sabem o que devem oferecer, mas não sabem mais para onde atirar. Para destruir, é preciso criar primeiro. Se tudo que havia até então era frágil, clichê e pouco imaginativo, em uma extensão tão grande, inevitavelmente cria a sensação de monotonia. E olha que estamos no terreno do blockbuster, onde nossos sentidos basicamente deveriam ser estimulados de maneira ininterrupta… Mas até quando repetir é satisfatório e a partir de que ponto o propósito se perde?
Depois da sentir pela centésima vez a impressão de “acho que já vi isso antes”, fica a sensação que ver o mundo acabar já foi mais empolgante.
O alemão Emmerich não quis saber de ousar e apostou no jogo ganho que o transformou em um dos diretores mais rentáveis da história, com seus filmes somando a bilheteria de um bilhão de dólares. Sim, o filme é um espetáculo técnico que poucos lugares fora de Hollywood pode enganar, é um dos primeiros argumentos que podem ser levantados. Mas considerando ser um filme de 200 milhões, orçamento habitual de um filme do Emmerich, não é mais do que a obrigação da equipe.
Já há mais de seis anos sem emplacar um sucesso sólido (o último sendo 2012 (idem, 2009), a continuação de seu hit dos anos 90 surgiu quase como uma necessidade na carreira do cineasta. Mas como esse jogo ganho se desenrola, de fato?
De maneira preguiçosa e nem um pouco ousada. Emmerich persegue de maneira obsessiva o que deu certo antes em seus filmes e nos clássicos de catástrofe setentistas. Temos um número excessivo de personagens, cada um com dramas pessoais, mas que somando todas as cenas a maioria não deve somar dez minutos de projeção e que no final das contas nem influenciam tanto na trama assim. Vemos as novas figuras lidando com uma ocasião sem precedentes em sua experiência, as figuras que se tornaram lendas vivas em 96 que voltam cheia de questões... Problemas afetados ou iniciados pela invasão de uma nova força alienígena em uma Terra que absorveu a tecnologia extraterrestre do primeiro filme e se tornou uma sociedade hipertecnológica em um presente diferente do nosso, em um conflito que cedo ou tarde irá unir todo o elenco, cada um com suas habilidades, para derrotar essa nova invasão.
Houve quem criticou Star Wars VII: O Despertar da Força (Star Wars VII: The Force Awakens) por em um sentido ser muito semelhante a Uma Nova Esperança, com a grande Starkiller repetindo o papel de Estrela da Morte, só que maior e Han Solo repetindo o papel de Obi-Wan Kenobi na hora de ensinar os jovens Rey e Finn. Pois bem, O Ressurgimento do primeiro filme é a mesma coisa do primeiro: tudo igual, mas maior, mais megalomaníaco, mais cheio de efeitos.
O filme repete, inclusive, os defeitos, como forma de reverência: a observação frequentemente distante, em planos gerais e aéreos das catástrofes (sem detalhes para não ofender ninguém), que precisa ser pano de fundo para um genérico heroísmo sempre ostentando fardas e flâmulas dos países, reforçando como seus protagonistas, ainda que com todos os defeitos que possuem, são os heróis devido à sua coragem inabalável, destaque em suas capacidades individuais e fé no grupo e na sociedade. Para isso, recorre à muitos diálogos sentimentais e cheios de lugares comuns, atuações sempre exageradas tanto para comédia quanto para o drama e música emocional ostensiva.
Enquanto não está explodindo coisas, lotando a tela de detalhes visuais e explodindo os tímpanos com a malha sonora, o filme é um exemplar do que há de mais cansativo no cinema-catástrofe, o que faz com que muitos críticos apontem a “falta de roteiro” desses filmes. Não é que falte roteiro; mas ele é esquemático, a mesma história de sempre. O grupo de pilotos de caça corajosos e audazes liderados por Hemsworth no filme é o mesmo que você pode ver em A Patrulha da Madrugada (The Dawn Patrol, 1930). O ator desempenha o mesmo papel que Douglas Fairbanks teve dirigido por Howard Hawks e o cientista de Jeff Goldblum é o equivalente das figuras de Gene Hackman, Paul Newman e Steve McQueen nas produções catastróficas e apocalípticas de Irwin Allen.
Com isso, dirão muitos, resta o cerne da obra, seu interesse principal, o que levou o espectador a comprar ingresso: a catástrofe, os maremotos, as explosões, as pontes partindo ao meio, os pontos turísticos sendo esmagados… Mas isso já não foi visto antes? Depois de um tempo, todos esses filmes novos de catástrofe ficam muito parecidos, e é incrível que ainda atraiam tanto interesse e conquistem tanto público. Curiosidade do público em ver o nosso mundo como o conhecemos sendo destruído? Ter uma experiência controlada de caos em larga escala?
Apertem Os Cintos, O Piloto Sumiu! (Airplane!, 1980) lançado quase quarenta anos atrás, já avacalhava com todos os clichês de forma ácida e dolorida, inclusive repetindo diálogos de filmes verdadeiros de forma fanfarrona. Depois da sacanagem do trio ZAZ é de se admirar que ainda conseguiram fazer qualquer coisa levando a sério e vender a ideia que o desastre cinematográfico ainda teria uma sobrevida.
Mas essa mescla de efeitos especiais de ponta, roteiro tão excessivo quanto simplista e elenco milionário trabalhando de maneira burocrática volta mais uma vez, tomando as salas de cinema e propagandas pelas cidades ao redor do mundo para chamar a atenção das pessoas e fazer com que elas se interessem em ver o mundo se acabando mais uma vez, com a necessidade por espetáculo sendo espremida até o bagaço. Como seu elenco, Emmerich não tem mais fôlego: alterna ação e drama, ação e drama, ação e drama… Com sua ação sendo o eterno jogo de gato-e-rato só que agora com luzes e revestimentos “invocados”. Sim, o conflito que move o cinema de ação é a eterna medição de forças entre dois lados que representam forças antagônicas, com elas ganhando novas significações com o passar dos anos.
E agora, uma nova significação foi tentada: Emmerich aborda uma grande comunidade global, ligada por ideais de paz e por tecnologia, sendo palco da mesma situação de vinte anos atrás, até a catástrofe cansar mais uma vez, cair no ostracismo e de repente deixar saudades para todos. A catástrofe pode ser reciclada, recauchutada, substituída, ser objeto de nostalgia. O tema rende com o passar das décadas, desfilando exemplar atrás de exemplar de maneira incansável. Incansável, sim, mas exaurido também.
Quando as catástrofes setentistas tiraram do cinturão da miséria os filmes B de situações apocalípticas e deram uma roupagem classe A, com caras conhecidas, grande orçamento, grandes efeitos especiais, diretores reconhecidos, ajudou o cinema de entretenimento a desatolar de uma situação que só conseguia basicamente apresentar para o seu público as mesmas comédias e os mesmos musicais. Não tardou para virarem sempre o mesmo desastre, e aí vir a inovação da computação gráfica, e aí virar sempre o mesmo desastre computadorizado.
No filme é nítido: os criadores sabem o que devem oferecer, mas não sabem mais para onde atirar. Para destruir, é preciso criar primeiro. Se tudo que havia até então era frágil, clichê e pouco imaginativo, em uma extensão tão grande, inevitavelmente cria a sensação de monotonia. E olha que estamos no terreno do blockbuster, onde nossos sentidos basicamente deveriam ser estimulados de maneira ininterrupta… Mas até quando repetir é satisfatório e a partir de que ponto o propósito se perde?
Depois da sentir pela centésima vez a impressão de “acho que já vi isso antes”, fica a sensação que ver o mundo acabar já foi mais empolgante.
Essas críticas dos editores não vão me desanimar. Crítico raramente aceita filmes despretensiosos assim.
Crítico de Cinema, a Geni da sua Cinefilia
Mas Matheus, neste caso, tenho que concordar com o Brum.
Eu entendo Luís. Brum fez uma boa crítica mas gostaria também de recomendar outra (não que a crítica que recomendo seja melhor ou pior que a do Bernardo D.I. Brum, é porque é boa e só por isso que recomendo essa outra crítica também).
http://observatoriodocinema.bol.uol.com.br/criticas/2016/06/critica-2-independence-day-o-ressurgimento