Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Esqueça a Pixar de monstros bonitos e infantis. Agora ela cresceu, nos deu ação e muita, mas MUITA diversão!

8,0

Esqueça a Pixar de comédias com animais fofinhos. Com Os Incríveis, a empresa toma uma nova diretriz de produção e coloca humanos com super poderes à frente de seu mais novo trabalho. Não que a comédia tenha sido colocada de lado, mas agora ela divide a tela com cenas de ação impressionantes, com personagens que, mais uma vez, exploram todas as possibilidades que suas características lhe concedem. O nível de animação também está absurdo, com movimentos fluentes ao máximo, superando inclusive grandes produções como Final Fantasy: The Spirits Within e O Expresso Polar, e uma arte de deixar o queixo caído com o tamanho de detalhes em tela.

Lembre-se que este é o penúltimo título da parceria Disney/Pixar, que se concluirá no final do ano que vem com Cars. Aliás, este parece que será mais um trabalho genial da Pixar, onde desde o primeiro trailer (que passa antes de Os Incríveis) mostra-se interessante e inovador. E, novamente, sem bichos fofinhos para atrair a criançada como protagonistas. Lembre-se também que a Disney manterá os direitos sobre os personagens criados pela Pixar durante a parceria, então não se assuste se continuações forçadas e sem criatividade de Monstros S.A. ou Os Incríveis surgirem nos próximos anos, isso já é esperado. Toy Story 3 e 4, inclusive, já foram anunciados pela empresa e, a menos que haja uma excelente justificativa por trás dos dois títulos, tudo indica que a Disney está querendo lucrar em cima dos nomes envolvidos no projeto.

Deixando a burocracia de lado, vamos a uma sinopse do que acontece em Os Incríveis. Ah, claro, só para avisar, utilizarei os nomes da excelente versão original, e não os sofríveis nomes traduzidos pela versão dublada do longa. Bob Parr é um ‘homem como qualquer outro’, que trabalha em uma agência seguradora e vive o stress do cotidiano como qualquer um de sua idade. O que ninguém sabe é que, há 15 anos, ele era o famoso e cobiçado Senhor Incrível, super-herói de força excepcional que combatia os crimes com disposição e prazer.

O Senhor Incrível teve de interromper suas atividades quando um suicida processou o governo, logo após ter sido salvo por ele. Há então uma onda de processos em cima de super-heróis e, sem dinheiro para todas as indenizações, o governo decide proibir ações heróicas no país. Agora casado e vivendo a rotina de uma pessoa normal que tem de trabalhar, sustentar a família, limpar a casa e tudo mais, Bob Parr revive alguns momentos de heroísmo junto de seu fiel companheiro Lucius Best, antes o Senhor Gelado, clandestinamente pelas ruas.

Quando uma oportunidade de voltar à ativa aparece para Bob, ele não pensa duas vezes antes de aceitá-la. Só que ele não conta nada para sua família, que acredita que todo o dinheiro ganho por Bob nos últimos tempos tem sido por um crescimento em seu emprego. E é nesse exato momento que uma nova ameaça aparece e Bob, junto com sua família, tem a chance de recuperar todo o prestígio perdido com o passar dos tempos.

Apesar de ter escrito três parágrafos com a sinopse, não falei nada demais sobre a história. Acreditem, as grandes sacadas estão em como essas coisas acontecem, nas pequenas sacadas geniais do roteiro (escrito pelo próprio diretor Brad Bird), e não no âmbito geral da situação. Fora também que o filme tem três atos muito bem definidos, e cada parágrafo correspondeu a um, todos muito bem balanceados: conhecemos como os heróis eram famosos e importantes, conhecemos sua rotina atual e, em um terceiro ato maior, quando a história realmente acontece, a verdadeira ameaça a ser combatida.

Completando a família temos Helen Parr, a antiga Mulher-Elástica, agora mulher de Bob, e dois filhos do casal, Violet Parr, jovem impopular no colégio por ser retraída e com poderes de invisibilidade e de criar barreiras energéticas poderosas, e Dash Parr, um moleque de dez anos energético que consegue correr como uma bala. Qualquer semelhança com o famoso Quarteto Fantástico da Marvel pode não ser uma mera coincidência, mas não fora confirmada por Brad em momento algum. A única diferença seria o pequeno Dash, cuja inspiração é o clássico The Flash. De resto, toda a família teriam poderes semelhantes com os personagens da Marvel. Completando os personagens principais, temos um incrível Samuel L. Jackson, ótimo como sempre, simplesmente perfeito para o papel de Homem Gelado, o vilão do filme Síndrome e a charmosa Miragem.

É impressionante como tudo o que acontece em certo momento do filme é aproveitado de maneira brilhante no futuro, como comédia ou como uma cena de ação. Somando o já tradicional humor da Pixar, temos cenas de ação muito bem construídas, mais uma vez aproveitando ao máximo as possibilidades com uma criatividade invejável. Outra coisa perfeita é o balanceamento dos personagens, quando nenhum fica com mais destaque que outro. Há cenas para todo mundo, cada um tem o seu momento. O roteiro e a direção ficam por conta de Brad Bird, responsável por outra obra-prima da animação, O Gigante de Ferro. A Warner virou as costas para ele e já deve estar arrependida, uma vez que Os Incríveis já é um sucesso de bilheteria e, O Gigante de Ferro, o motivo de sua saída da empresa, já é um cultuado filme e vem fazendo um certo sucesso na venda de DVDs pelo mundo.

Mas não é só de criatividade que Os Incríveis respira, pois tecnicamente o filme é brilhante. A Pixar vem demonstrando uma evolução gritante de um trabalho para o outro. Se a água já era considerada difícil de se reproduzir em uma animação, feita com maestria em Procurando Nemo, e pelos suaves com movimentos verossímeis, encontrados em Monstros S.A., Os Incríveis prova que o mais difícil é mesmo reproduzir seres humanos nas telonas. Como o filme não tem intenção de ser real, os bonecos ficaram o mais parecidos com seres humanos possíveis sem que isso soasse real. Seus movimentos são extremamente fluidos, sem haver um tranco aqui ou um movimento estranho ali: tudo é satisfatório para que você embarque de cabeça na aventura esquecendo que é digital.

O trabalho na arte é simplesmente sublime. Para exemplificar, escolho a cena em que Dash Parr está sendo perseguido pela floresta, em particular a parte em que ele salta e, ao cair, vê que está em um precipício. O modo como os criadores conseguiram captar a dimensão da situação foi brilhante, a profundidade, inclusive deixando a parte mais ao fundo desfocada. Esse desfoque é genial, já que não há câmeras no filme para se trabalhar no foco, mas como estamos acostumados a isso, em uma cena ou outra há trabalho com foco nos personagens, mas produzidos intencionalmente. A quantidade de detalhes em cena, a escolha das cores... Que trabalho primoroso da Pixar.

Como de praxe, além do trailer de seu próximo trabalho, também tivemos a oportunidade de assistir à um curta metragem da empresa. Desta vez, o escolhido fora Boundin’, a história de um carneiro que se sente deprimido quando homens vêm ao seu belo lar e arrancam-lhe sua lã, deixando o bicho pelado e esquelético. Além de uma forma de protesto, vale como uma lição de amor próprio para as crianças. Não é um curta-metragem para rir, e sim uma pequena deliciosa obra musical, todo em pequenas rimas. Não chega a ser uma obra-prima como os outros trabalhos da Pixar, mas ainda assim é uma animação acima da média.

Vale destacar que Os Incríveis não é uma sátira aos filmes de ação, ele se encaixa no gênero por mérito próprio. Junte todo o bom humor característico da Pixar, implemente um excelente trabalho técnico com músicas caprichadas e adicione uma pitada de ação de primeira que você terá a perfeita fórmula do sucesso do filme. Não que seja fácil executar essa receita, mas a Pixar conseguiu, e de forma muito mais que brilhante. Desde já um dos mais esperados DVDs do ano para a minha coleção. Falta um ano ainda, mas não vejo a hora de assistir à Cars!

Comentários (0)

Faça login para comentar.