Em 26 de dezembro de 2004 um tsunami no Oceano Índico devastou a costa tailandesa e deixou milhares de mortos, feridos e desabrigados. Por si só trágico, tal evento visto no cinema, seja em documentário ou ficção, já seria naturalmente chocante e triste. Com uma improvável história real nas mãos sobre uma família espanhola em férias no local no dia das ondas gigantescas, o diretor Juan Antonio Bayona consegue a difícil tarefa de torná-la pouco crível.
Aliás, o cinema atual está se especializando em pegar fatos verídicos e transformá-los em verdadeiros espetáculos cinematográficos livremente inspirados na realidade, caso, por exemplo, do recente francês Intocáveis (Intouchables, 2011). A narrativa é tão descompromissada com o mundo real que o espectador acreditaria ser possível se tratar de mais uma ótima piada dos irmãos Coen, assim como fizeram em Fargo – Uma Comédia de Erros (Fargo, 1996).
O Impossível (Lo imposible, 2012) é isso. A impossibilidade dentro de uma história real. Desde o primeiro minuto, o melodrama desesperador toma conta. Nada está acontecendo, as personagens estão todas em um avião rumo ao destino das férias, mas o cenário de tragédia já começa a ser desenhado. Pouco demora a entrar em cena uma desconexa trilha sonora. Quase onipresente, a música instrumental é apenas mais um apelo mal empregado para atingir o único objetivo do filme: fazer o espectador chorar. É melodrama que não acaba mais. Faz-se de tudo. Aumento o som, o tom das notas, constrói uma mise en scène mecânica.
Não dá para dizer que é possível passar sem alguma emoção pelas duas horas de projeção, afinal com tanta insistência pelo choro, se o espectador não se entregar por bem, ao menos será vencido pelo cansaço. Mas vale a pena se entregar à emoção. Senão, será uma tortura. À exceção da bela sequência das ondas invadindo o resort de luxo no qual a família se hospedara e da cena de destruição que se seguiu, tudo é bastante fake. Até as personagens. Lucas, por exemplo, entra para o hall das crianças adultas irreais do cinema. Ele é abordado como um menino mais maduro, racional e sensato que os pais. Não dá para levar a sério, apenas para se irritar.
Com a intenção clara de emocionar, dane-se qualquer outra possibilidade que a história poderia render. Nada do drama de famílias destruídas, de moradores em meio a um estado de calamidade pública, da repercussão, do contexto e desdobramentos daquele incidente. Só interessa aquela família em busca de superar uma tragédia coletiva de forma individual – e outra criança perdida ajudada por Lucas e sua mãe é apenas pretexto para não se ter essa impressão. É muito pouco para ser levado em consideração com um esforço válido de cinema, ainda mais pela pegada chore agora ou sinta-se insensível para sempre.
Nesse sentindo, O Impossível começa a ficar fake em meio a tanto esforço de tornar aquele drama naturalmente triste em algo sentimentalóide. Os diálogos são de dar desespero pela fragilidade da dramaturgia. É impressionante como o diretor conseguiu transformar aquele caos natural após tamanha tragédia em algo organizado. Não funcionou. Virou dramalhão. Depois de secar as tão empurradas lágrimas, resta ver que a experiência fora totalmente vazia.
4,5
Não falou nem das atuações? Baita critica.
risos
"Não falou nem das atuações? Baita critica."
Falou o Doutor Epaminondas
Pessimo texto para esse.
Gosto bastante do filme e embora concorde com parte da crítica, a nota esta bem abaixo da qualidade da produção. Emocionante como poucos, o filme ainda conta com uma das melhores atuações de Naomi Watts e Ewan MacGregor, além de uma parte técnica soberba (a cena do tsunami é de um realismo exemplar).