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Críticas

Cineplayers

Nada funciona nessa comédia romântica que é uma verdadeira vergonha a todos os envolvidos.

3,0

Em 2003, uma comédia britânica repleta de astros se tornou um grande sucesso em todo o mundo. Assumindo uma estrutura multinarrativa, Simplesmente Amor conquistou plateias com personagens cativantes, histórias bacanas e muito, muito charme. Conhecendo como Hollywood funciona, pode-se dizer que demorou bastante para que os estúdios norte-americanos decidissem produzir uma obra parecida, ao menos em termos de estrutura. No entanto, ela veio, atendendo sob a alcunha de Idas e Vindas do Amor e, infelizmente, é um esforço tão embaraçoso que chega a ser uma sacanagem compará-lo com o ótimo filme de Richard Curtis.

Escrito por Katherine Fugate (cujo trabalho de maior destaque no currículo é Um Príncipe em Minha Vida), Idas e Vindas do Amor constrói um mosaico de diversas histórias românticas situadas em um único dia, mais especificamente o Dia dos Namorados. Entre elas, estão a trama do florista que pede a namorada em casamento, apenas para descobrir que ela prefere a carreira; a garota que fica sabendo que o namorado é casado; o famoso atleta que vive sozinho sem família; a soldado retornando para casa quando conhece um estranho no avião; o garotinho que se descobre apaixonado pela primeira vez; e muitas outras.

Pois o desastre de Idas e Vindas do Amor é anunciado logo nos créditos iniciais. Ainda antes de aparecer na tela o nome do diretor Garry Marshall (responsável por Uma Linda Mulher), o espectador já é bombardeado por três ou quatro piadinhas totalmente sem graça, deixando claro o que está por vir. E a previsão se cumpre com louvor. A partir deste momento, o filme se desenrola em um sem-número de histórias completamente estéreis em termos de emoção, criatividade e diversão, apostando quase que única e exclusivamente no elenco famoso para prender a atenção da plateia. Como se poderia esperar, isso não é o suficiente e a produção se torna um longo suplício de duas horas.

Os problemas de Idas e Vindas do Amor são muitos e um acaba influenciando o outro. Por exemplo, o roteiro tenta costurar doze ou treze histórias com dezenas de personagens principais. Como consequência, o tempo de tela para cada um é drasticamente reduzido, o que impede qualquer desenvolvimento e identificação entre eles e a plateia. É preciso um cineasta talentoso para resolver esse obstáculo e a única solução proposta por Marshall parece ser a de colocar rostos conhecidos em frente às câmeras, como se isso fosse o suficiente. Enquanto isso, ele deixa de lado qualquer noção sobre narrativa e personagens, conduzindo o filme de forma a fazer com que todas as histórias sejam absolutamente sem graça (algumas realmente constrangedoras, como a de Taylor Lautner e Taylor Swift) e os personagens desprovidos de qualquer personalidade.

Isso ocorre não somente devido à mão pesada de Marshall na direção,mas também graças ao acúmulo de lugares-comuns presentes no roteiro. A falta de originalidade é tanta que Idas e Vindas do Amor chega, inclusive, a roubar de Simplesmente Amor a história do garotinho apaixonado por uma colega da escola. Da trama dos dois amigos que inevitavelmente vão se apaixonar à do velho casal cuja relação é balançada por um segredo do passado, todas são picadas pelo mosquito da previsibilidade, falhando em proporcionar um único momento de surpresa ou ousadia (ok, justiça seja feita, a resolução da história de Julia Roberts ainda gera um pequeno sorriso). Idas e Vindas do Amor é um filme pensado, desenvolvido e realizado sobre clichês e estereótipos.

Além disso, a quantidade de tramas é extremamente prejudicial ao ritmo da produção. Como é comum em filmes com essa estrutura, as histórias oscilam em termos de qualidade e, mesmo que esta qualidade seja pouca em todas elas, algumas ainda são melhores que outras, fazendo com que o resultado final fique repleto de altos e baixos (ou melhor, baixos e muito baixos). As poucas tramas que ainda poderiam gerar momentos interessantes, como a da atendente de tele-sexo, são desenvolvidas sem qualquer imaginação, seguindo a estrutura básica e formulaica do gênero. Marshall não cria um único plano inventivo ou consegue dar fluidez à sua narrativa – é bem provável que o espectador olhe mais vezes para o seu próprio relógio do que para a tela.

E não deixa de ser uma pena ver um elenco tão variado e de renome limitado em um filme raso como Idas e Vindas do Amor. Ainda que acostumados ao gênero, os atores e atrizes da produção nada podem fazer com um roteiro que não oferece a eles o mínimo de material com o qual trabalhar. Com isso, bons intérpretes como Jamie Foxx, Jennifer Garner e Anne Hathaway ficam presos às suas próprias personas cinematográficas, sem oferecerem o mínimo de personalidade aos seus papéis. O crime é ainda maior quando outros atores são vergonhosamente subaproveitados, como o talentoso Bradley Cooper e – sacrilégio – a veterana Shirley MacLaine. Todos os personagens, sem exceção, não surgem na tela como pessoas reais, mas bonecos correndo de um lado para o outro e murmurando bobagens sobre o amor, sem qualquer credibilidade

Com diálogos embaraçosos (“Ela é como a luz do sol”), completa falta de imaginação e nenhuma identificação com a plateia, Idas e Vindas do Amor figura, desde já, como um dos piores filmes do ano. Não há um sentimento honesto, uma piada genuinamente engraçada, um personagem crível ou carismático. Se o objetivo é assistir um filme com diversas histórias sobre o nobre sentimento, o negócio é visitar a locadora para rever o encantador Simplesmente Amor. E ainda sai mais barato.

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