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Críticas

Cineplayers

Um dos filmes baseados em quadrinhos que foi mais a fundo na tradução da linguagem para o cinema.

7,5

Mais um filme baseado em quadrinhos Marvel ganha tratamento hollywoodiano. Desta vez, O Incrível Hulk foi escolhido para ganhar vida e entregue nas mãos do competente Ang Lee. O que é ao mesmo tempo um triunfo e um karma para os produtores, já que convidar um diretor do peso de Ang Lee pode não ser uma decisão comercialmente favorável.

O Hulk é um personagem atípico em comparação aos outros já adaptados para a tela. Ele não é necessariamente um super-herói, mas uma espécie de Dr. Jeckill & Mr. Hide, um cientista vítima de um acidente que se torna um monstro e tem que fugir dos que o perseguem.

Todos os personagens da Marvel são criados em cima de um tema: o Homem-Aranha lida com amadurecimento, os X-Men com preconceito e perseguição, o Hulk com dupla personalidade e auto-controle, lidar com a sua fera interior. O diretor Ang Lee enfoca esse aspecto dando ao filme ares de psicodrama, adicionando traumas e relações conflituosas entre pais e filhos, Bruce Banner (Eric Bana) e seu pai David (Nick Nolte) e também Betty Ross (Jennifer Connelly) e seu pai o General Ross (Sam Elliott). Aqui reside o centro nervoso do filme e não nas cenas de ação, esse é o preço que se paga em contratar um diretor como Ang Lee, relacionamentos sempre são o ponto fundamental de seus filmes, mas como aliar isso a um blockbuster de verão feito pra alienar platéias e vender brinquedos?

Por esse fato Hulk resulta um filme desconcertante e assim como seu personagem, esquizofrênico. Sério, mas envolto em uma aura de personagens e situações caricatas o que, analisando mais a fundo, é exatamente o que existe na alma de toda história em quadrinhos de super-heróis! É uma história adulta em um ambiente fantasioso e absurdo, Ang Lee capturou isso na tela como nenhum diretor conseguiu até agora, o que foi ressaltado ainda mais por um tratamento visual extravagante que coloca inúmeras fusões e telas divididas dando ao filme a sensação de uma graphic-novel em movimento.

Outro problema do filme reside nas concessões feitas por ele para não torná-lo muito anti-comercial, apesar de compreensíveis essas cenas acabam entrando em choque com o tom maduro da história. Hulk não mata ninguém, mesmo causando uma destruição enorme. Ele tira soldados dos tanques antes de destruí-los, tornando a coisa meio forçada e cômica. Felizmente eu me envolvi bastante com os personagens e a trama para que isso não atrapalhasse muito minha diversão, mas será que a maioria do público que está indo ao cinema ver “Hulk Esmaga!” vai se importar com os personagens e dramas humanos, com cenas contemplativas onde Banner obeserva um musgo numa pedra que lhe traz lembraças de infância e que ocupam grande parte das mais de duas horas do filme? Dificilmente. Mas devo dizer que essa foi uma das principais razões que me levaram a gostar dessa adaptação, Lee e sua sensibilidade oriental definitivamente deram personalidade ao filme, ao contrário do derivativo e inferior Demolidor por exemplo.

O elenco é bastante seguro com destaque para Jennifer Connelly, linda como sempre e que dá veracidade ao seu relacionamento com Banner. Outro destaque um tanto polêmico é o de Nick Nolte, canastrão mas que rouba cenas como o enlouquecido pai do Bruce, vivido pelo ainda pouco conhecido Eric Bana, que é um ator australiano com potencial e esse filme vai ser sua projeção.

O aspecto técnico do filme faz jus ao seu porte de filme-evento, além da montagem criativa que eu já citei, o filme tem boa trilha sonora de Danny Elfman, mais inspirado aqui do que em Homem-Aranha. Os efeitos são bons e por vezes espetaculares, o tão discutido Hulk digital é incrivelmente detalhado em closes e possui boa integração, mas se movimenta de maneira leve demais para uma criatura desse tamanho e densidade. A animação acaba dando uma sensação de Cartoon e vai se tornar mais um item de reclamação aos que se desagradarem do filme. As cenas de ação são espetaculares e bastante exageradas, exatamente como o Hulk dos quadrinhos se comporta, mas para aqueles que só assistiram ao velho seriado vai causar uma estranheza. Ouvi alguém da platéia perguntar “Ele voa?”  ao ver os saltos gigantescos do personagem.

Hulk é o filme de quadrinhos que foi mais a fundo na tradução da linguagem para o cinema, apesar de dramático, o filme não deve ser levado tão a sério pois no saldo final não pretende ser mais do que um gibizão e consegue isso com estilo. Afinal, quadrinhos de heróis também tratam de relacionamentos humanos entre uma salvação da terra e outra, ora! O próximo filme certamente deve agradar mais ao grande público, já que toda a exposição necessária foi feita nesse primeiro episódio e no segundo o Hulk já pode sair esmagando logo de cara.

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | quinta-feira, 28 de Novembro de 2013 - 13:59

O filme é bom e bem dirigido, mas depende muito do visual, por motivos óbvios. E isso pesou pro insucesso deste bem filmado e dirigido filme de Ang Lee

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