Furtado aposta em um roteiro cheio de reviravoltas para contar uma história bonita de amor divertida.
2003 pode ficar marcado na história do cinema brasileiro onde constatou-se uma das maiores injustiças, em termos de bilheterias, já vistos em território nacional. Enquanto o médio (embora alguns outros redatores do site discordem de mim e chamem de "fraco") Carandiru, inspirado na obra escrita do Dr. Drauzio Varella, tenha arrastado aos cinemas nacionais um público pagante de mais de 3 milhões de telespectadores, graças a seu marketing absurdamente exaustivo; um outro filme, sem tanto alarde, mas com muita qualidade, vem aos poucos chamando atenção de muitos que o assistem.
O Homem que Copiava é uma obra de Jorge Furtado. Furtado é muito conhecido atualmente, no Brasil, por escrever os episódios do seriado Os Normais, que junto com A Grande Família é um dos seriados de maior prestígio e sucesso dos últimos anos na TV aberta brasileira, um ramo tão pouco explorado pelos diretores; entretanto, seriados não são fáceis de se fazerem e mais difíceis ainda de se manterem. Entre outros trabalhos de Furtado, como diretor/roteirista, destacamos suas participações em mini-séries nacionais consagradas como A Comédia da Vida Privada, Memorial de Maria Moura e Agosto. Seu mais recente trabalho visto nas telonas havia sido Caramuru - A Invenção do Brasil, uma divertida comédia habitada no Brasil de 1500 relatando de forma "nonsense" a chegada dos portugueses ao país.
Bem, depois de conhecer ou relembrar um pouco mais a respeito da carreira do talentoso Jorge Furtado, vamos falar um pouco a respeito de sua obra máxima, por enquanto, que estreou recentemente nos cinemas nacionais, entretanto, de forma disforme. Em algumas cidades, o filme já estava sendo mostrado, em outras, não... Enfim, todo aquele caos que estamos acostumados e que estão fadados, a maioria dos filmes aqui neste país feitos não deixou de ocorrer, assim como o filme de Furtado também, mesmo com o apoio e a divulgação (fraca é verdade) da "Globo Filmes" por trás.
Lázaro Ramos (Carandiru), Leandra Leal (Chatô, O Rei do Brasil), Luana Piovani e Pedro Cardoso (Bossa Nova, O Que é isso Companheiro?) formam os dois casais principais que tomam lugar na trama de Furtado. A película conta a respeito da vida de André (Lázaro Ramos), que de forma muita engraçada se apresenta ao público como "operador de fotocopiadora", como o mesmo gosta de ser chamado. Intencionalmente ou não, na cabeça de quase 100% do público presente nos cinemas a palavra/marca "Xerox" vem à cabeça quase instantaneamente. André, pacientemente, explica: "Sim, essa é uma das marcas".
André trabalha na mesma loja que Marinês (Luana Piovani) e acaba se apaixonando perdidamente por Silvia (Leandra Leal). Com isso, o desajeitado garoto inicia seu plano para conquistar a garota de qualquer forma. Ele passa a espioná-la com seu binóculo em sua casa todas as noites até descobrir que ela é atendente de uma loja que possui o mesmo nome dela. Resolve entrar e arriscar-se a comprar um presente para sua mãe como desculpa para conversar com Sílvia, um ótimo plano é verdade, se André não fosse tão pobre assim... Essa seqüência e as que a seguem, relacionadas a ela, são muito, mas muito engraçadas e inteligentes.
O casal secundário do filme, mas não menos importante, Marines e Cardoso, estão um show a parte. Luana Piovani, que confesso a vocês, caros leitores, nunca me inspirou confiança atuando, mudou meus antigos conceitos a respeito da mesma. Ela adaptou a personagem completamente a si, adotando mil e um estereótipos possíveis e imagináveis para uma garota como ela. Suas falas não são inteligentes, longe disso, mas ainda assim, muito divertidas; suas ações dão um brilho complementar a tudo isso. Cardoso está impecável também, faz bem o estilo jovem suburbano que quer subir na vida e faz de tudo para conseguir uma garota. A imagem do "carioca malandro" está, de uma forma ou de outra, intrepidamente preso a seu personagem. Podemos reconhecer isso quando o mesmo fala pela primeira vez a André a respeito de seu trabalho, ou quando apresenta uma de suas peças ao menino, e diz: "Essa daí é do século passado, de 1400 e não sei quanto..." Cômico.
Bem, é impossível falar do casal principal do filme (André e Silvia) sem antes falar da narração da película, que é de extrema qualidade, mesmo nível do aclamado Cidade de Deus. Lázaro Ramos é extremamente competente ao narrar O Homem que Copiava, sabe prender o público e ser engraçado utilizando-se de expressões simples. Leandra Leal assume, no final do filme, a narração e, para surpresa de todos nós, é muito boa também. A química dos dois jovens atores na tela está boa, o que não compromete o filme. Seus diálogos são em sua grande maioria simples, contudo, bem executados.
Um outro ótimo ponto que pesa e conta a favor desta película, ainda mais se tratando de produções nacionais, é que o filme não traz cenas violentas e nem cenas de sexo ou nudez. Jorge Furtado não utilizou nenhum desses artifícios para promover seu filme. Aliás, Furtado é o grande responsável pelo sucesso do filme, sua direção está impecável.
E para finalizar essa grande produção, o diretor nos da um final muitíssimo agradável, não vou entrar em detalhes para não estragar a surpresa de muitos, mas apenas adianto que O Homem que Copiava é um daqueles filmes que te fazem voltar aos cinemas para perceber as pistas que o diretor esconde durante o filme para que, enfim, o telespectador possa juntar todas as peças do quebra cabeça, como: O Sexto Sentido, Femme Fatale, e outros.
O Homem que Copiava é de longe a melhor produção Brasileira de 2003. Um pecado perdê-la. Portanto, corra aos cinemas mais próximos que ainda estiver passando a obra do promissor Jorge Furtado.
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