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Críticas

Cineplayers

Paulo Vanzolini, um ícone do samba de São Paulo, em merecida homenagem.

4,0

Vinícius de Moraes é dono de uma das frases das quais a cidade de São Paulo nunca aceitou ouvir.  “São Paulo é o túmulo do samba”, disse o poetinha, tentando convencer seu amigo Johnny Alf a voltar a morar na Cidade Maravilhosa. Rixas à parte, São Paulo pode se orgulhar de possuir, ao menos, dois sambistas de altíssimo nível: Adoniran Barbosa (quem não sabe cantarolar “Trem das Onze”?) e Paulo Vanzolini, autor de canções que fazem parte do fino do cancioneiro nacional, como “Ronda” e “Volta por Cima”.

Um Homem de Moral é sobre esse último, Paulo Emílio Vanzolini (o título é um dos versos de “Volta por Cima”), cuja vida musical é das mais inusitadas. Zoólogo de carreira, músico nas horas vagas. Culto, fez seus grandes sambas sem os apelos tradicionais da malandragem e da boa-vida. Sem saber nada de música, obteve respeito e admiração por parte de todos do seu métier, com composições que se tornaram icônicas ao longo do tempo.

Quem realizou o filme foi Ricardo Dias, ex-aluno de Vanzolini que já tinha trabalhado com o cientista no documentário No Rio das Amazonas (1996). Agora, Dias presta uma homenagem ao músico Vanzolini, em uma época propícia ao documentário musical brasileiro com o sucesso de Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei. A idéia surgiu em 1992, quando a gravadora Biscoito Fino fez uma revisão na obra de Vanzolini e gravou 52 canções, com um show realizado em 2003 em ocasião do lançamento do CD.

Dias fez o registro dos ensaios, das gravações e do show, que contou com baluartes cariocas como Martinho da Vila, Chico Buarque, Miúcha e Paulinho da Viola (para acabar de vez com essa besteira de bairrismo), além de intérpretes nativos da Terra da Garoa, como Inezita Barroso, que um dia também foi atriz de filmes da Vera Cruz e da Maristela na década de 1950.

Um Homem de Moral é sustentado basicamente por essas imagens captadas por Dias e editadas intercalando os depoimentos do próprio Vanzolini a respeito de sua vida e carreira, e imagens da cidade de São Paulo. Uma pena, porém, que Dias não tenha tido ambição para algo mais elaborado artisticamente. É tudo chapa branca, sem polêmicas, sem refinamento cinematográfico. Um único momento de brilho é quando a edição cola vários anônimos cantando "Volta Por Cima', já ao final.

Mas a música de Vanzolini é um bom motivo para os mais velhos resgatarem os bons tempos, ou os mais novos conhecerem um viés meio maltratado da música popular brasileira.

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