O pior roteiro e os melhores efeitos definem esta terceira aventura do aranha. Apesar das falhas, é muito bom.
Ao sair da sessão de Homem-Aranha 3, tinha a certeza que ele não era tão bom quanto seus defensores dizem, mas também não tão ruim quanto seus detratores acusam. Comparando com os outros da franquia de Sam Raimi, diria que este tem o pior roteiro, mas as melhores cenas de ação e efeitos especiais; o que, convenhamos, é o que mais se espera de um filme de ação. Os filmes do Homem-Aranha são divertidos, têm ação, sabem convencer, mas só porque sempre tiveram um roteiro melhor elaborado do que outros filmes de herói, muitas pessoas esperavam algo diferente dessa vez.
O filme continua exatamente de onde o segundo parou, inclusive com uma recapitulação dos dois primeiros longas durante os créditos iniciais (imagina isso como vai ficar no sexto filme), assim como foi feito em Homem-Aranha 2. Peter agora se sente famoso através do aranha, curte um relacionamento mais maduro com Mary Jane, vai bem nos estudos, tudo na mais perfeita harmonia. Porém, depois da chegada de uma estranha gosma negra vinda do espaço, Peter começa a agir de forma estranha e passa a lutar contra as sensações que essa gosma causa em sua personalidade (o visual EMO é alguma insinuação de Sam Raimi, com direito, aparência atraente e bad boy?).
Ao mesmo tempo, Thomas Haden Church, que teve a carreira resgatada por Alexander Payne em Sideways – Entre Umas e Outras, encarna Flint Marko, um fugitivo que sofre uma alteração nuclear em seu corpo e passa a ter poderes especiais, tornando-se conhecido como Homem Areia. James Franco retorna como Harry Osborn, filho do milionário Norman Osborn, ainda procurando vingança pelo que Homem-Aranha supostamente fez a seu pai, tomando também sua identidade como o novo Duende Verde. Há ainda Eddie Brock (Topher Grace, famoso por seus papéis na televisão e em Traffic), um fotógrafo que entra na disputa com Peter Parker por um emprego no jornal onde Peter trabalha e que, por mais uma das maravilhosas coincidências do filme, acaba se tornando Venom, um dos maiores vilões recentes do aracnídeo vermelho e azul (tais coincidências não me incomodam, tornam tudo mais fantástico, ao contrário do que muitos acham).
Três vilões, cada um com suas motivações para matar o Aranha, e um Peter Parker cheio de conflitos internos para resolver em um único filme. Legal, né? Nem tanto.
Tanta gente junta para ser desenvolvida pelo roteiro teve um fim muito óbvio: filme longo demais e que não consegue costurar tão bem todas as pontas criadas pelo roteiro. O melhor de todos é o Homem Areia, que tem todos os seus conflitos e motivações bem definidos, ganhando também boa parte da projeção para desenvolvimento, ao contrário de Venom, desafeto assumido de Sam Raimi, que o colocou no filme apenas para atender aos pedidos dos fãs. Tudo dele é meio na pressa, meio desleixado... Desde o modo como cai na Terra, se apossa de Peter e como sua participação termina no filme, tudo é muito mal desenvolvido.
É uma pena que Sam Raimi tenha pego um dos vilões mais famosos do Aranha (que talvez precisasse de um filme só para ele) e o utilizasse dessa forma aqui, apenas como mero impulso para tudo o que Peter faz ao longo do filme. Venom aparece menor, mais fraco, com menos impacto do que tem realmente. Talvez isso seja apenas uma introdução do personagem na série (lembre da amostra do laboratório), mas que fica com um gostinho broxante de mal uso, isso fica.
Ainda há um problema com Harry Osborn, que vem sendo tratado com carinho desde o primeiro filme para agora, em um ato completamente desesperado do roteiro, ter sua participação banalizada em Homem-Aranha 3. As seqüências finais do personagem são bisonhas de clichês, motivadas por um diálogo que poderia ter acontecido há muito tempo, reduzindo o personagem de uma maneira que não havia acontecido com ninguém ao longo de toda a franquia de Homem-Aranha feita por Sam Raimi no cinema (ele praticamente ignora a força que o espelho tem sobre a mente de Harry).
Há ainda Gwen Stacy, que os fãs do Aranha com certeza sabem que ela terá uma participação importante nos futuros filmes da franquia, assim como o professor de Peter. Interpretada por Bryce Dallas Howard (recentemente esteve em A Dama na Água, Manderlay e A Vila, filha do diretor Ron Howard), a atriz está mais sensual do que o habitual e é bem utilizada como o início de um triângulo entre Peter, Gwen e Mary Jane.
Kirsten Dust, aliás, está mais bonita e radiante como Mary Jane, que passa o filme lutando para conseguir tornar bem sucedida sua carreira no teatro e confronta-se amorosamente com Peter, que mal lhe dá atenção em meio a toda sua fama. Tobey Maguire mais uma vez está fantástico, totalmente à vontade no papel e com mais apelos cômicos do que nunca (principalmente quando a franjinha cai em sua testa). Sinceramente ainda não entendi se Sam Raimi quis fazer algum tipo de relação entre os EMOs e o modo como Peter age, mas que isso ficou sugerido e caindo para a comédia, isso ficou.
Agora, pare e pense um pouco: dê uma olhada nos parágrafos anteriores e pense isso tudo acontecendo e sendo desenvolvido em apenas duas horas e vinte de filme. É óbvio que não vai dar para fazer tudo bem feito, e isso só prova o que disse: alguns não receberam a devida atenção. No começo, tudo é muito bom, Raimi distribui bem o espaço em tela, mas conforme o final vai chegando, algumas coisas obviamente foram aceleradas para caber tudo em um filme só. Não dá, incomoda mesmo sabendo que a proposta de Homem-Aranha é apenas divertir, o que prejudicou o resultado final.
E já que falamos em diversão, apesar de todos esses defeitos, Homem-Aranha 3 ainda sai com uma imagem bastante positiva ao seu final. Com o orçamento que teve e o talento de Sam Raimi para dirigir seqüências de ação, era mais do que óbvio que tudo o que iria acontecer em Homem-Aranha 3 seria gigantesco; e é isso mesmo que acontece durante todo o longa, lotado das melhores cenas de ação da trilogia, mais cavalares e grandiosas, e com uma pitada de humor sempre que possível – assim como todos os outros filmes da série (eu caio na gargalhada com aquela motinho em que Peter anda).
Os efeitos especiais são o ponto alto do filme. Se você já tinha ficado impressionado com o que vira anteriormente, prepare-se para um show da equipe técnica em cima do Homem Areia, pois o trabalho é absurdo de bem feito. Não soando falso nunca, ele está infinitamente mais impressionante do que o visual de Venom, que de impactante mesmo só teve a face (que ainda é retirada durante os diálogos). Você vai ficar grudado na cadeira do cinema durante toda a seqüência em que Homem-Aranha conhece Gwen, durante a luta dele com o Homem Areia no meio da cidade, a perseguição de Harry logo no começo do longa e, é óbvio, com todo o desfecho (de ação) do longa. Tudo esplêndido, grandioso, maior e melhor do que antes.
E talvez isso explique toda essa divisão de opiniões que tem acontecido diante de Homem-Aranha 3: com seus três tipos de público (os que amam ação e efeitos especiais; os que acreditavam na continuação de Homem-Aranha 3 com bons roteiros; e os que não esperavam muita coisa melhor do que os filmes anteriores), fica fácil entender aqueles que odiaram, amaram e simplesmente viram o que esperavam do filme.
E isso porque não vou entrar no mérito de toda a série Homem-Aranha ser totalmente chupada da antiga trilogia Superman (descobrindo os poderes; perdendo os poderes; utilizando de forma ruim os poderes), o que sempre me incomodou e impediu de dar notas maiores para os filmes. Fica fácil entender também porque, nos primeiros dias, foi sucesso absoluto de bilheteria e sua queda absurda na semana seguinte, quando o boca a boca já fez o seu trabalho.
Tendo em mente todos os defeitos que falei anteriormente, vai ser fácil gostar de Homem-Aranha 3. Vamos ver como a franquia vai caminhar daqui para a frente, afinal, não sabemos se os atores e direção irão permanecer, o que pode ocasionar em uma queda brutal no orçamento do longa e, conseqüentemente, no impacto visual que ele sempre teve (filmes mais baratos saltam aos olhos). Pense em Harry Potter: sete filmes vão sair, todos com a mesma qualidade técnica. Se Homem-Aranha quiser continuar no topo, é bom seguir pelo mesmo caminho como franquia.
Mesmo inferior aos outros da série, ainda é muito superior aos demais filmes de herói que estão infestando Hollywood nos últimos anos. Homem-Aranha sempre foi uma sessão da tarde caprichada e cara. E é assim que deve continuar por muito tempo.
As cenas de ação são insossas, efeitos especiais como sempre mal feitos, mas consegue empolgar, até começar o lado emo do Peter e aquele Venom aparecer de forma rápida e mal desenvolvida. Mais fraco dos três.
Crítica excelente.
Excelente crítica, Rodrigo.
E a dúvida: Peter fica com a Mary Jane ou não?
Disparado o pior dos três. Parker emo!!!!????!!!??? Venom sem sal. O melhor do filme é Flint Marko, sem dúvida!!