Três contos distintos de grandes diretores trazem resultados diversos entre si.
A idéia de adaptar para o cinema três contos de Edgar Allan Poe, cada um pelas mãos de um grande diretor, é, sem dúvida, louvável. No entanto, para que funcionasse como longa-metragem, seria essencial que fosse definida uma unidade para a forma de trabalhar a adaptação. Pelo resultado, é possível deduzir que cada um teve total liberdade para trabalhar da forma que quisesse. Com isso, foi-se a possibilidade de um longa coeso, e o que resta são três curtas que não travam nenhum diálogo um com o outro. Assim, o melhor é traçar comentários de forma independente para cada um deles.
Episódio 1 – Metzengerstein
Conta a história de uma nobre que vive na ostentação, guiada somente pelo prazer; até que se encontra com um primo, o qual lhe desperta estranha admiração, e seguem situações que a levam a uma condição próxima da insanidade. Nesse episódio, dirigido por Roger Vadim e com Jane Fonda e Peter Fonda no elenco, não há o menor clima de tensão. O diretor não consegue passar as emoções dos personagens, e tudo soa gratuito e falso. Além disso, o filme peca no visual, especialmente nos figurinos, ao parecer mais anos 60 do que século XIX. Por outro lado, a fotografia é ótima e traz alguma qualidade estética, mas é pouco para salvar um filme sem alma.
Nota: 4,5
Episódio 2 – William Wilson
Conta a história de um homem atormentado, desde a infância, pela presença macabra de um duplo, que o persegue nos mais diversos eventos de sua vida, desde a infância até o derradeiro fim. Contando com o mais rico material entre os três, Louis Malle aproveita e faz um excelente filme. Desde a primeira cena, a tensão do personagem está apresentada, a estranheza está proposta, e o clima é sempre de terror e asfixia. A produção conta com ótima atuação de Alain Delon, que tem o melhor momento ao contracenar com Brigitte Bardot numa cena brilhante. Roteiro redondo e coerência na história completam os méritos e fazem o filme ser ótimo de assistir.
Nota: 8,5
Episódio 3 – Toby Dammit
Conta a história de um ator inglês, típico superstar, que vai à Itália para uma filmagem. Lá, ele lida com a sua decadência, exposta em um programa de auditório. Livremente adaptado do conto “Nunca aposte sua cabeça com o diabo”, a obra de Fellini manda ao espaço a idéia de Poe e cria uma história própria sem muita conexão com as anteriores ou com a proposta. Trazendo um universo típico de Fellini, com delírios visuais e psicológicos dos personagens, mistura de uma realidade com imagens oníricas, o filme peca por sua irregularidade – tanto dos diálogos como da construção dos personagens – e, acima de tudo (ou abaixo!), torna-se uma grande decepção para quem tenha criado a expectativa de ver um material com o clima de Poe.
Nota: 3,5
Assim, no fim das contas, é possível perceber que cada um dos realizadores tomou seu caminho particular, e isso trouxe grande prejuízo à obra. Se uma das características mais fortes da literatura de Poe era a capacidade de criar um efeito sobre o leitor, apenas Louis Malle conseguiu fazer o mesmo no meio cinematográfico.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário