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Críticas

Cineplayers

Visualmente impressionante, a fraca história continua mantendo Hellboy no segundo escalão de filmes de heróis.

6,0

Não tendo gostado muito do Hellboy original, e tampouco de O Labirinto de Fauno (sim, é verdade), foi sem maiores pretensões que fui assistir a Hellboy II. O filme havia estreado nos Estados Unidos há várias semanas cercado de críticas maravilhosas mas destroçado nas bilheterias pelo lançamento, uma semana depois, de O Cavaleiro das Trevas. Confesso que, apesar de não dar muita importância à saga de Hellboy e de ser indiferente quanto ao resultado do filme, uma pontinha de curiosidade havia em mim, pois afinal estamos falando do novo filme do futuro diretor de O Hobbit, que será lançado em 2011 (espera-se!). As críticas positivas diziam respeito à genialidade (ou quase isso) na criação dos visuais do filme, lotado de criaturas impressionantes, bizarras e imaginativas, como poucas vezes se vira no cinema nos últimos anos – sendo uma das últimas vezes, justamente, no lançamento de O Labirinto de Fauno. Será que é para tanto?

Não, não é para tanto. Os críticos parecem estar de boa vontade com Guillermo del Toro. Ele é um outsider que Hollywood aceitou bem. Mas também é um diretor acima da média e, no mínimo, está se esforçando para fazer diferente. Em Hellboy II del Toro aproveitou o maior orçamento de sua carreira e colocou sua imaginação para funcionar – é dele também o roteiro do filme, baseado nos quadrinhos não tão populares (agora um pouco mais depois do lançamento do primeiro filme em 2004) de Mike Mignola. Chegou até a negar a direção do sexto Harry Potter, prova final de sua moral altíssima. E de muita auto-confiança em seu trabalho!

Hellboy II é um personagem muito caricato, sem dúvida, visualmente pelo menos, com aqueles chifres cortados e o seu vermelhão característico. Mas há algo em seu tom auto-paródico, sua arrogância para com os inimigos e sua insegurança na vida pessoal que me impedem de gostar realmente do personagem. Ele continua o mesmo do primeiro filme, agora, porém, não há a necessidade de ser apresentado aos espectadores (e quem não assistiu ao primeiro filme se verá em um cenário um tanto quanto confuso). Mas gostei da cena envolvendo Hellboy na adolescência, de uma bizarrice sem tamanho (fica difícil descrever, só assistindo para comprovar), demonstrando que del Toro não estava nem aí para regras, e arriscou fazer diferente em diversos momentos.

E fez diferente mesmo! O filme possui literalmente dezenas – talvez centenas – de criaturas estranhas, geralmente de aparência repulsiva. Não é um filme bonitinho, mas é sem dúvida encantador. A cada esquina há uma nova surpresa, às vezes pequenas do tamanho de insetos; outras vezes, gigantescas como estátuas de vários metros de altura. Assistir ao filme é mergulhar em um delicioso e estranho mundo à parte do nosso – tão rico quanto o País das Maravilhas. Esta sequência é muito mais rica do que a primeira. Del Toro já pode ser considerado mestre no cinema de fantasia – bom para os fãs de Tolkien, que poderão confiar o filme mais antecipado dos últimos anos a uma mente criativa e absolutamente capaz de fazer a transcrição de O Hobbit para as telas de forma bem feita.

Infelizmente, a história não acompanha a qualidade visual (o que acredito que também aconteceu com O Labirinto de Fauno, apenas para justificar de forma ligeira minha opinião negativa sobre aquele filme). É a mesma velha história do bem contra o mal, com o mal com mais um plano mirabolante e um vilão estereotipado (neste caso, seu objetivo é ressuscitar um exército dourado indestrutível para dominar o mundo – enredo semelhante ao recente terceiro episódio de A Múmia). A história é apenas boa o suficiente para manter o interesse mínimo necessário, mas o que anima mesmo neste caso é esperar pelo visual da próxima cena – e não pela cena em si. Cenas de ação e efeitos especiais (os criados por computador, e não a direção de arte soberba) são bons, mas passam longe de inovar. Com relação aos efeitos, o filme evidentemente beneficia-se de passar quase todo à noite, pois Hellboy deve passar incógnito ao público e à imprensa, embora exista uma subtrama envolvendo a sua aparição e de sua equipe nos jornais que ficou desenvolvida pela metade.

Hellboy continua sendo um filme de heróis menor, do segundo escalão. Visualmente, porém, este trabalho está na linha de frente e se descata em meio a tanta competição. É muito superior em relação ao que foi seu antecessor (que já era interessante nesse quesito – e só nesse também) mas, como foi demonstrado nas bilheterias, não foi o suficiente para conquistar muito mais fãs. A história foi claramente montada para ter uma continuação – há a necessidade evidente de um desfecho para o personagem e seu destino em nosso mundo. Não tenho dúvida que del Toro honraria esse trabalho e entregaria outro filme divertido e visualmente espetacular. Não sei, porém, se o grande público se importaria com isso. Recomendado, sem dúvida, mas para quem tem a mente aberta para a fantasia.

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