Mais um filme de heróis que desperdiça todo o seu potencial para mais nada ser do que um simples produto.
Hellboy é outro filme-produto. Talvez afim de navegar no sucesso que os super-heróis vêm fazendo nas telonas, o popular (ou impopular?) Vermelho apareceu do nada nos cinemas, num filme que, na verdade, é completamente vazio em conteúdo. Não será surpreendente se ele for esquecido por espectadores comuns, porque, afinal, trata-se de uma personagem sem carisma, atirada numa história pouco marcante, cuja fórmula recai no uso exagerado de efeitos especiais.
Hellboy (Ron Perlman) é um demônio, evocado numa cerimônia preparada pelos nazistas no final da Segunda Guerra Mundial. Um pesquisador descobre o diabinho, decidindo levá-lo para casa e cuidar dele. A criatura cresce exageradamente e torna-se um brutamontes mal-encarado, mas ajuda no combate às forças malignas e tem um bom coração, conforme revela seu romance por Liz Sherman (Selma Blair). A premissa é razoável. Quando a história vai realmente se desenvolver, cometem-se vários deslizes, e o enredo (se é que há algum) emperra, deixando pontos mal-explicados ou até mesmo sem explicação alguma, besuntando com inúmeros clichês toda a estrutura do filme - além disso, encontram-se cenas típicas de filme trash.
Depois de fazer seu "chefe" emergir de uma poça de sangue, um grupo diminuto de nazistas tenta capturar Hellboy e fazê-lo abrir as portas para o Inferno, de onde virão bestas gigantescas que irão destruir o mundo (uau!). Para infernizar a vida do super-herói, o grupo libera os Sammaels, bestas da ressurreição, lançando-lhes uma "bênção": a cada besta morta, renascerão duas. Então, Hellboy, seu companheiro Abe Sapien (Doug Jones), o agente John Myers (Rupert Evans) e a mutante Liz Sherman partem em busca dos ovos de Sammael, visando a acabar com o plano dos vilões.
Como se não bastasse a trama superdesenvolvida e inquestionavelmente profunda, as atuações não são das melhores. Talvez seja culpa do próprio enredo do filme, que não requer personagens marcantes. Logo, não há necessidade de brilhantes atuações. Ainda assim, o ator John Hurt, no papel de Trevor Bruttenholm, o pesquisador que cuida de Hellboy, merece um destaque. Percebe-se também um considerável esforço do ator Ron Perlman em fazer do protagonista uma personagem carismática e marcante, mas o máximo que ele consegue é arrecadar um pouco de simpatia por parte dos espectadores. Selma Blair, no papel de Liz Sherman, demonstra-se completamente sem graça. Aliás, ela é sem graça em Legalmente Loira e em Tudo para Ficar com Ele. Ela apenas repetiu a performance realizada em outros trabalhos.
O romance que existe no filme tenta mostrar o lado humano do super-herói, mas as cenas em que ele se desenvolve são curtas, dando a impressão de estarem ali para encherem lingüiça. De qualquer maneira, o romance recebe um final feliz, sem haver qualquer indicação que apontasse para isso. Já que Hellboy veio dos quadrinhos para as telas, conclui-se que o grande atrativo do filme são as cenas de ação, repletas de efeitos especiais. Observa-se um enorme cuidado em deixar tudo visualmente impecável, perfeito. Os cenários seguem uma estética harmoniosa e futurista, e cada peça está cuidadosamente encaixada na paisagem, formando um conjunto visual muito agradável aos olhos.
Infelizmente, o filme comete exageros. Algumas cenas de luta são longas demais, pecando pelo ritmo excessivamente frenético. Os combates não são cuidadosamente arquitetados como em, por exemplo, Homem-Aranha 2. Elas apenas acontecem aqui. Vidros são quebrados, vagões de metrô são brutalmente atacados, tentáculos pegajosos voam, bestas explodem e há socos e tiros para dar e vender. Excetuam-se os horrendos efeitos sonoros, obviamente, que se firmam no alto volume e tornam a ação do filme exageradamente barulhenta, quase infernal. Em contrapartida, ao menos, há uma trilha sonora bem trabalhada e digna de elogios.
Enfim, Hellboy poderia não ter acontecido. Teria poupado inúmeros espectadores perfeitamente sãos de saírem das salas de projeção perfeitamente perturbados. E, pelo visto, há uma continuação a caminho, que provavelmente sairá do nada e chegará a lugar algum - como o primeiro. Uma pena, porque, diferentemente de outros super-heróis, Hellboy não apareceu num filme bom.
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