Mais direto e brutal que o anterior e, consequentemente, mais divertido.
Aos que detestaram a psicologia farofa para campanhas contra má formação familiar embutida por Rob Zombie na refilmagem do clássico Halloween - A Noite do Terror, de John Carpenter, uma boa notícia: esta continuação, em boa parte do tempo, esquece de retornar às bobagens utilizadas para justificar o instinto assassino de Myers, que acabavam tirando todo o estímulo e a sensação de onipresença passada pelo personagem do original, um semi-demônio que parece estar escondido em todos os cantos, sempre à espreita – o jogo de perspectiva de câmera de Carpenter é brilhante, tão bom quanto o dos melhores filmes de Dario Argento, e em meia hora você já imagina que qualquer plano seja olhar subjetivo de Myers e/ou contenha ele oculto em algum canto, se bobear até dentro dos armários.
Halloween II é um filme muito mais direto e brutal que o seu antecessor, embora ainda tenha algumas grandes gorduras – as cenas de alucinações da irmã de Myers com sua família e unicórnios, especialmente na meia hora final, ainda retornam ao nível estapafúrdio dos flashbacks do filme anterior. Consequentemente, também é um filme mais divertido, pelo menos para o público que gosta de viajar em um bom filme de horror para viver uma realidade absolutamente desvirtuada da nossa, sem falsos moralismos, onde assassinatos soam simplesmente como grandes prazeres estéticos, sinfonias de violência que proporcionam um intenso deleite visual.
Correndo risco de ser taxado de louco: o grande mérito de Zombie ao se prender estritamente nas ações de Myers, no caso, matar obsessivamente qualquer ser vivo que apareça em seu caminho, é fazer torcer pelo assassino, vibrar a cada facada dada, cada pisão na cabeça, cada jorro de sangue proporcionado por esse cara doente (vá lá, Zombie já tirou o brilho, agora pra mim é apenas um cara). E é realmente ótimo ver como o diretor parece mais à vontade para criar e se desprende daquele discurso inspirado pelas conversas com a assistente social do seu bairro para se deixar levar pelo prazer de estraçalhar personagens inúteis, que no final das contas entram no filme somente para morrer em cenas registradas de forma seca, violenta, com um controle de câmera menos esquizofrênico que seu habitual e, talvez por isso mesmo, mais interessante e criativo.
Há pelo menos duas seqüências que poderiam entrar em qualquer filme de horror dos últimos anos com facilidade – até em A Invasora, que provavelmente dos dessa nova leva é o que tem as seqüências de morte mais insanas e delirantes. A primeira é logo no início, e é praticamente uma injeção de heroína na veia. Se passa em um hospital, envolve enfermeiras, corridas noturnas, assassinatos vistos detrás de janelas sem que nada possa ser feito e cerco em casebres de madeira. Nem o fato de ser um sonho tira o brilho. Já a segunda tem credenciais ainda melhores: bordel de beira de estrada praticamente vazio e escondido do mundo, uma puta e um cliente fazendo sacanagens, Myers desfigurando a cara de um homem com pisões e estourando a cabeça da mulher contra um espelho. Tudo filmado em bons e expressivos planos, que valorizam a brutalidade da ação.
Infelizmente ainda falamos de Zombie, e por mais que os melhores momentos do filme sejam realmente bons o diretor põe tudo a perder com uma meia-hora final recheada de babaquices. Constrói gancho para um terceiro filme enquanto transforma nosso querido assassino em um abestalhado com feição de lenhador nórdico e cérebro de minhoca. Mas é um pouco lógico que nem tudo poderia ser perfeito. De qualquer forma é um filme pelo qual não se dá nada, mas que, para os entusiastas do gênero, pode ser uma boa diversão. Basta apenas deixar as perdições de Zombie em segundo plano.
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