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Guerra Mundial Z

(World War Z, 2013)
6,3
Média
496 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Um morto-vivo do gênero.

5,0

Quando realizou A Noite dos Mortos-Vivos (The Night of the Living Dead, 1968), George A. Romero provavelmente não imaginou que aquelas criaturas de seu filme, com o tempo, viriam a se tornar um dos maiores ícones da cultura pop. Mesmo quase quatro décadas depois, os zumbis seguem presentes no imaginário popular, talvez hoje ainda mais adorados do que nunca. Nos últimos tempos, os mortos-vivos puderam ser vistos em diversas mídias e retratados das mais diferentes formas: pelas telonas ou pelas telinhas, já passaram zumbis cômicos, zumbis apaixonados, zumbis tratados como animais de estimação, zumbis lerdos, zumbis velocistas e até mesmo zumbis que não são mais zumbis. Como, portanto, apresentar algo novo a esse já saturado subgênero?
 
No caso de Guerra Mundial Z (World War Z, 2013), a resposta a essa pergunta é uma só: acrescentando uma escala épica à produção. Dirigido pelo versátil Marc Forster, responsável por obras tão díspares quanto Em Busca da Terra do Nunca (Finding Neverland, 2004) e 007 – Quantum of Solace (Quantum of Solace, 2008), o filme aposta na grandiosidade como seu maior diferencial, apresentando – como diz o título – uma verdadeira guerra mundial contra os zumbis, com locações em diversos países e, literalmente, milhares e milhares de mortos-vivos sedentos por sangue. As cenas são impressionantes. Sem medo de utilizar planos aéreos, exatamente com a intenção de transmitir essa escala épica, e a computação gráfica, Forster cria instantes visualmente estarrecedores, com hordas de criaturas escalando muros gigantes e dominando cidades inteiras. São alguns dos momentos mais fantásticos que o cinema de zumbis já produziu.
 
No entanto, infelizmente, Guerra Mundial Z pouco oferece além disso. Desde os primeiros minutos, o espectador já percebe estar diante de um filme que não irá se preocupar muito com história ou personagens: há apenas uma cena curta na qual é apresentada a família de Brad Pitt e, logo em seguida, a correria descerebrada já tem início. A partir daí, verdade seja dita, Forster consegue imprimir um ritmo alucinante à obra, reduzindo ao mínimo possível os momentos mais intimistas. Guerra Mundial Z salta de uma cena de ação de a outra sem muita parcimônia, com os personagens – e, por consequência, o próprio filme – sempre em movimento, o que garante energia e dinamismo.
 
Porém, se por um lado a obra não se arrasta, por outro esse foco quase exclusivo na ação também resulta em uma experiência emocionalmente estéril à plateia. O roteiro, escrito por Matthew Michael Carnahan, Drew Goddard e Damon Lindelof (todos com bons trabalhos no cinema e na televisão) e adaptado de um livro de Max Brooks, parece ter sido escrito em total piloto automático. Não há qualquer tentativa de fazer a plateia conhecer de verdade Gerry Lane e sua família a ponto de se interessar ou de se preocupar com eles. Não apenas os momentos compartilhados entre eles são poucos, uma vez que o protagonista é separado da família logo no início, como também todas as cenas que poderiam gerar algum impacto dramático parecem ter sido cortadas ou tratadas de forma desleixada, como a saída da mulher e de suas filhas no navio. Como resultado, a experiência de assistir aos ataques dos zumbis se torna apenas visual, sem jamais causar alguma espécie de tensão ou sentimento.
 
Além disso, o roteiro ainda sofre pela falta de desenvolvimento, ou ao menos de boa vontade por parte dos escritores. A investigação de Gerry, por exemplo, é incrivelmente fácil e superficial: basta ele chegar a algum lugar e a primeira pessoa com a qual fala já tem informações sobre a epidemia. E o fato de que ninguém sabia onde tudo começou, como fica? Na verdade, Guerra Mundial Z, mais do que apenas um filme sem muita inteligência, é um filme que não respeita a inteligência dos espectadores. Em certo momento, no instante de epifania do protagonista, Forster e seus roteiristas preferem mostrar cenas e falas previamente vistas, em uma representação literal e desnecessária, como se a plateia não fosse capaz de entender o que o personagem descobriu. Como se não bastasse, a trama ainda é repleta de furos e incoerências (que fim levaram os pais do garoto Tomas, por exemplo? Aliás, qual a função dele na história mesmo? E atirar uma granada dentro de um avião? Sério?) e, ao contrário de boa parte das produções do gênero, não busca utilizar os zumbis como metáfora ou alegoria para algum comentário social; eles são comedores de pessoas, e só. E será que Carnahan, Goddard e Lindelof não se deram conta de que decepar um membro para evitar que a infecção se espalhe já foi visto há pouco tempo em The Walking Dead?

Mas o roteiro de Guerra Mundial Z, mesmo que pouco episódico e genérico, ainda consegue apresentar algumas boas ideias. Certas falas deixam a impressão de que há algum resquício de cérebro por trás de tudo, como quando um personagem diz ao protagonista “Cada ser humano salvo é um zumbi a menos para combater”, uma frase realmente fatal em sua lógica. É uma pena, porém, que esses poucos lampejos de inspiração sejam arruinados pela abordagem excessivamente acelerada do filme. Em certo momento, por exemplo, o personagem de Brad Pitt entra em contato com um zumbi e, após matá-lo, corre diretamente para a beirada de um prédio para que, caso se transforme, não ponha em risco a sua família. É uma ótima ideia, que poderia render um instante de maior impacto, mas tudo é feito de maneira tão rápida que a intenção de Gerry pode até mesmo passar despercebida.

Normalmente um diretor cujos trabalhos voltam-se mais à história e aos personagens, Marc Forster parece encontrar sérias dificuldades na condução das cenas de ação. Sim, quando aposta em planos amplos para ressaltar a imensidão dos ataques, o cineasta acerta no ponto. Porém, isso pode ser dito apenas de um ou dois quadros dentro de cada uma das grandes sequências, e são nessas que Forster demonstra sua falta de experiência com o gênero. Apostando em uma câmera em constante movimento e um trabalho de edição que pode ser chamado de epiléptico, o diretor compõe cenas de ação incrivelmente caóticas, nas quais é impossível ter a mínima ideia do que está acontecendo. É um trabalho equivocado, confuso e incompreensível, que não dá ao espectador qualquer noção de espaço ou da situação como um todo. Aliás, a melhor cena de toda a produção é aquela que se passa no laboratório, quando Forster deixa de lado a ação e acalma o ritmo, apostando na construção de um clima de suspense de verdade.

O maior problema de Guerra Mundial Z, entretanto, não deve nem ao roteiro, nem à direção e muito menos ao trabalho preguiçoso de Brad Pitt no papel principal. O elemento que mais prejudica o resultado final da obra deve-se, muito provavelmente, às exigências do estúdio. O fato é que Guerra Mundial Z é um filme de zumbis no qual não há uma gota de sangue. É algo simplesmente inaceitável. Uma produção do gênero não somente fica melhor com o gore; ela precisa disso. Por que fazer um filme de zumbis se ele será asséptico, voltado às criancinhas? O resultado são momentos estranhíssimos nos quais a câmera de Forster simplesmente corta ou foge de momentos mais “pesados”. A plateia não vê as mordidas e pouco enxerga dos ataques. Até mesmo uma cena na qual o protagonista troca o curativo de uma personagem se acovarda. E isso em uma época na qual nem mesmo a televisão hesita em mostra mortos-vivos sendo decapitados e tendo seus cérebros explodidos.

Como se tudo isso não fosse suficiente, Guerra Mundial Z ainda traz uma das cenas de merchandising mais patéticas que o cinema já viu. É apenas a gota d’água de uma produção repleta de equívocos, displicente e que fica muito abaixo de outros filmes estrelados pelos mortos-vivos.

Ao sair da sala, o espectador fica com uma única pergunta na cabeça: quando começa mesmo a nova temporada de The Walking Dead?

Comentários (27)

Matheus Veiga | domingo, 29 de Setembro de 2013 - 02:52

Porra achei um filmaço

Cristian Oliveira Bruno | terça-feira, 26 de Novembro de 2013 - 18:01

Gostei bastante do filme, principalmente por sua abordagem diferenciada. Pôr um protagonista que não é nem um mocinho abobado, nem um super soldado foi muito inteligente. Dá pra ver que Gerry tem total conhecimento da todas suas ações, tornando crível tudo o que ele faz. Só acho que faltaram mais cenas em família e mais foco (antes do \"apocalipse\") na tentativa de Gerry ficar mais com a família do que no trabalho. O final ficou aberto para uma seqüência que, muito provavelmente, terá muito mais ação.
Acho que o título prejudicou o filme pois todo mundo esperava uma verdadeira guerra mundial contra os zumbis, algo que acontece, mas não é mostrado por não ser o foco do filme.
O merchan pra mim foi bem humorado. O encontro de dois ícones Pop: Pepsi x Zombies.
Gostei e aguardo a parte 2.

Alexandre Marcello de Figueiredo | segunda-feira, 16 de Dezembro de 2013 - 18:30

Não é tão ruim assim. A sequência no laboratório quando Brad Pitt injeta a vacina em si mesmo causa tensão.

Maik Brasil | quinta-feira, 11 de Setembro de 2014 - 15:14

Meu crítico favorito, sempre coerente, mais uma bela crítica, flime muitos mais ou menos e aquela cena final de merchan foi só a gora d'água!

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