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Críticas

Cineplayers

Um filme que define o gênero ficção-científica nos anos 1950. O que não é necessariamente algo bom.

5,0

Guerra dos Mundos é um dos três filmes que mais define o gênero ficção científica nos anos 1950, depois que a Segunda Guerra Mundial esfriara e o tema Guerra Fria estava se popularizando. A década foi recheada de filmes B, C, D... Seus efeitos especiais hoje são, obviamente, risíveis, e somente os filmes que possuíam algo mais do que cenas gratuitas de ação com alienígenas conseguiram sobreviver ao teste do tempo. O Dia em que a Terra Parou é um que serve como exemplo: possui uma mensagem muito importante e que foi muito bem apresentada. Em poucos momentos depende realmente dos efeitos especiais para funcionar como cinema.

Adaptação da provável mais famosa obra de H.G.Wells, em Guerra dos Mundos, os marcianos resolvem invadir o planeta com um ataque em massa sobre todas as maiores cidades do mundo. A raça humana deve ser exterminada, sem dó! Uma das primeiras naves marcianas a chegarem na Terra desce em uma pequena cidade dos Estados Unidos, e acaba encantando sua população. É para lá que vai um importante cientista, Dr. Clayton Forrester. Lá ele conhece Sylvia, uma moradora local (Ann Robinson, que teve uma participação especial no remake de 2005 de Spielberg) por quem, claro, logo adquire afinidade. Os dois - e mais toda a população mundial - logo descobrirão o terror quando descobrirem que os seres engraçados que saem dessas naves não são nada amistosos.

Os marcianos estavam limitados a 16 milhões de cores. Sua aparência hoje pode ser considerada bizarra - não sei se na época chegou a assustar, o filme não apresenta um bom desenvolvimento de seu suspense - a primeira aparição de um marciano assemelha-se ao que M. Night Shyamalan fez para apresentar o primeiro alien em Sinais - quem conhece Sinais sabe que este filme é citado lá como uma homenagem. Os olhos são formados por três partes distintas: uma vermelha; outra verde e, finalmente, a última azul. A década de 1950 também apresentou o nascimento da televisão em cores para o grande público, e o diretor Byron Haskin parece ter gostado da idéia e encaixou-a nos modelos de seus alienígenas. Porém na prática eles são lentos e desajeitados. Já as espaçonaves exibem os fios quando se movimentam e também são lentas e muito limitadas. A tecnologia da época era assim mesmo.

O problema disso tudo é que o roteiro do filme baseou-se totalmente na capacidade de encantar ou assustar visualmente. Como hoje obviamente nada dessas peças falsas surpreendem, não há nada para salvar o filme de ser medíocre, visto que os seus personagens são tolos e as situações risíveis. Será que daqui a duas gerações verão o filme de Spielberg será visto da mesma forma? Enfim... quando descobrem que poderão ser rapidamente exterminados em seis dias (Sylvia solta a seguinte pérola em determinado momento: "[...] seis dias para a Terra ser destruída, o mesmo tempo que demorou para ser construída..."), a inteligência do exército começa a retrucar em massa, porém o máximo que o espectador pode ver é um bando de soldados imbecis correndo pra cá e pra lá sem saber o que pode ser feito ao certo. Suas táticas são tão inocentes que fica difícil acreditar que mesmo em 1953 já não eram risíveis.

Ann Robinson como Sylvia possui uma atuação muito ruim. Não sabendo lidar com o terror imaginário da presença de alienígenas (atuar com algo falso era quase uma novidade na época) suas expressões acabaram ficando totalmente sem vida - sua face não muda praticamente o filme todo. O Dr. Clayton possui um pouco mais de atitude, mas as situações que o roteiro expõe para seu personagem são tão pífias que não é possível levar seu personagem à sério. A narração do filme é o melhor momento dele, uma voz grave dá o tom épico necessário para um filme com esse título, mas depois tudo desanda.

Guerra dos Mundos mostra como o cinema de ficção científica na sua época era inocente. A falta de conhecimento científico existente na época torna suas cenas e tentativas de se criar terror risíveis. Ou melhor, talvez seja interessante não rirmos muito, afinal, um dia poderão rir de nós. Mas, como cinema, o filme hoje possui apenas valor como curiosidade histórica, visto que roteiro e interpretações possuem qualidades praticamente nulas. Pessoalmente, detesto remakes, mas em situações como esta eles são bastante aceitáveis, ainda que desnecessários. Dessa vez, com Guerra dos Mundos de Steven Spielberg, Hollywood deu uma bola dentro.

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