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Críticas

Cineplayers

O melhor filme sobre a guerra do Iraque.

9,0

As guerras costumam servir como ponto de partida para grandes histórias no cinema. O mais recente dos combates, o conflito iraquiano, já foi explorado há pouco tempo, mas nenhuma obra foi realmente capaz de realizar um registro natural e estarrecedor sobre os meandros de uma ocupação militar em um país no qual o inimigo não é um exército, mas, sim, insurgentes dispostos a dar a própria vida com o único intuito de aniquilar os ocupantes, por mais que nem todos os combatentes norte-americanos estejam de acordo com os motivos pelos quais são obrigados a encarar a morte todos os dias.

Guerra ao Terror, que em uma decisão precipitada chegou ao Brasil diretamente em DVD, dedica-se a mostrar os últimos dias no Iraque de um destacamento de elite especializado no desarme de bombas e na investigação de atentados com o uso desse artefato. Meticuloso na abordagem do cotidiano desses soldados, o filme parece quase um documentário estarrecedor do dia a dia de homens que acordam com a incerteza de chegar vivo ao fim dos trabalhos e que assistem à banalização da vida, sem perceber que, por vezes, esse sentimento já está enraizado neles próprios.

Nesse sentindo, o personagem interpretado por Jeremy Renner é o mais rico e interessante. Fugindo do estereótipo do sargento substituto que despreza e maltrata seus inferiores na linha hierárquica, o roteiro explora a personalidade de um homem que mescla prazer pelo combate com momentos de pura humanidade e que, por isso, gera no espectador compaixão por entender o amor daquele homem por seu trabalho. E é por isso que o final de Guerra ao Terror se torna tão emblemático.

Jeremy explora a riqueza de seu personagem e o torna ainda mais interessante por meio de sua atuação expressiva e sóbria, mesmo dando vida a um personagem complexo e que poderia, dependendo da composição, despertar antipatia no espectador. Sua atuação é marcante e colabora para uma das principais características do longa-metragem: as inesquecíveis interpretações. Anthony Mackie, intérprete do sargento Sarborn, já surge como um homem desgastado que, assim como os letreiros do filme, conta os dias para partir do Iraque. E, conforme a história progride, o personagem aumenta sua degradação emocional e Mackie transmite o desgaste do sargento sem precisar dizer muito. O soldado Eldridge, vivido por Brian Geraghty, é o que mais transparece seus sentimentos, externalizando a seus companheiros ter atingido seu limite e condenando a todo instante, mesmo que nas entrelinhas, aquela guerra que considera absurda.

A riqueza nas composições, e que consequentemente credencia o elenco aos prêmios de melhor atuação coletiva do ano, provavelmente não seria atingida se não fosse o trabalho da diretora Kathryn Bigelow, que domina com precisão os elementos narrativos. Bigelow explora os recursos de câmera de forma impecável, criando um ambiente de constante tensão ao mostrar para o público a paz impossível em uma guerra, até mesmo nos momentos de lazer – brincadeiras que muitas vezes são associadas à violência, como jogos em que o prazer maior é desferir socos contra os companheiros de destacamento.

Além de um retrato do conflito, Guerra ao Terror é um competente demonstrativo da natureza do homem que, colocado em situações de perigo e risco extremo, muitas vezes perde sua humanidade para agir de acordo com instintos primários como a agressão – física ou psicológica – ou ser tomado por sentimentos como o ódio. Por vezes deixando de lado a humanidade, mesmo que esse tipo de comportamento não seja consequência das pressões de uma guerra, mas, sim, pelo fato de encontrarem numa batalha o espaço ideal para deixar aflorar os instintos mais primitivos do homem, sem que isso se transforme em algum sentimento de culpa.

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | terça-feira, 26 de Novembro de 2013 - 17:28

Não sei porque, mas esse filme não me pegou muito, não. Achei um filme muito bom, principalmente as cenas final e inicial, mas não achei tudo isso. Acho, inclusive, que os Oscar que levou foram puramente políticos, pois a direção era feminina e não tinha nenhum concorrente aquele ano (dar um Oscar de Melhor Filme para Avatar seria um ultraje), mas é um bom filme. Apenas superestimado.

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