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Críticas

Cineplayers

O carisma de Don Cheadle e Brendan Gleeson faz desta comédia policial algo, se não novo, ao menos divertido.

6,5

Derivadas do western americano, as duplas de parceiros policiais empenhados em solucionar um caso qualquer fizeram sucesso nas telonas ao longo das décadas, principalmente por trazerem aquilo que o público sempre espera delas: muita ação e timing cômico perfeito. Para que a fórmula dê certo é essencial então uma química forte entre os protagonistas. Tendo-se isso, o enredo nem é tão importante assim – e o sucesso geralmente é garantido. Foi assim com Máquina Mortífera (Lethal Weapon, 1987) e A Hora do Rush (Rush Hour, 1998), só para citar os exemplos mais famosos. No entanto, já faz alguns anos que nenhuma dupla nova aparece para nos divertir com suas trapalhadas injetadas em pura adrenalina. Ao que parece, o diretor John Michael McDonagh quer ser o Richard Donner da vez com seu novo O Guarda (The Guard, 2011), apostando agora não somente em uma dupla sintonizada, mas também em um conjunto de bandidos cultos e requintados.

Repleta de certo saudosismo, essa comédia policial parece gostar dos próprios clichês de seu roteiro e os usa quase que o tempo todo sem inibições. Por outro lado, apesar do lugar-comum reinar nas situações retratadas ali, os personagens são dotados de características tão surpreendentemente interessantes, que até o bom e velho clichê ganha um novo brilho. Pela sinopse parece se tratar de mais do mesmo no que diz respeito a esses personagens, mas na verdade cada um ali é bem peculiar, a começar pela dupla de protagonistas.

Brendan Gleeson é o sargento irlandês Gerry Boyle, que cuida de uma cidadezinha sem o menor interesse em nada nem ninguém. Quando o FBI passa a fazer uma investigação intensa no local atrás de uma quadrilha de perigosos traficantes de fama internacional que, ao que parece, estão envolvidos em um negócio bilionário, Boyle é obrigado a fazer parceria com o agente especial Wendell Everett (Don Cheadle). Antagônicos, esses dois deverão superar suas diferenças e suas excentricidades para resolver o caso. Na outra ponta, temos bandidos inteligentíssimos e com ótimo gosto para arte e filosofia.

A base propulsora desse filme se encontra, como podemos notar, na inclusão de personagens tão absurdos em um contexto já visto muitas vezes antes no cinema americano. Optando por esse tipo de proposta, McDonagh acaba entrando no terreno da sátira, e ironiza os próprios clichês que utiliza. Ultimamente o cinema americano anda apostando muito na auto-paródia, rindo das obviedades que nasceram de lá mesmo e, assim, podendo esconder sua fragilidade sem perder a compostura. Em alguns gêneros esse recurso é quase sempre falho, como nas comédias românticas, mas aqui nessa comédia policial tudo parece funcionar suficientemente bem.

O grande acerto, além dos ótimos diálogos freudianos entre os vilões, está na escalação do elenco. Don Cheadle é um ator naturalmente sério, e sua postura na pele de um agente nervosinho e impaciente é exatamente o que se exige do personagem. No entanto, o grande destaque vai mesmo para Brendan Gleeson, que foi muito elogiado pela crítica americana e aproveita cada pequena passagem de seu personagem para arrancar grandes risadas.

O mais interessante no personagem que Gleeson ajudou a montar está justamente em seu sarcasmo, indiferença e tédio. Em dados momentos do filme, parece que essas de reações do personagem estão voltadas não para a trama em si, mas sim para o filme que estamos assistindo, como se ele estivesse nos dizendo o quanto é ciente de que tudo aquilo é clichê e sem graça – um jogo metalingüístico muito eficiente. Assim sendo, o espectador tem companhia do próprio personagem na hora de descobrir o quão óbvia é a condução do diretor. Obviamente, isso não perdoa o fato da história ser clichê, mas enriquece um pouco a experiência.

Tudo o que se esperava do filme está lá: os parceiros policiais que não se entendem, a genérica trama de tráfico de drogas, as piadinhas intercaladas com a ação e o desfecho divertido. Mas por alguma razão, O Guarda parece não ter força suficiente para alcançar o sucesso de seus semelhantes. Sua bilheteria não está além do esperado e parece que Gleeson é o grande destaque da produção, ofuscando até mesmo o veterano Don Cheadle. Talvez em alguns momentos se mostre elegante demais, ou blasé demais para se igualar aos filmes de apelo mais popular, e por isso não alcança o seu público-alvo como deveria. Mas para quem está atrás de divertimento descompromissado e não muito cerebral, aqui está o filme ideal para a ocasião.

Comentários (2)

Patrick Corrêa | quarta-feira, 23 de Novembro de 2011 - 13:59

Essa crítica passou despercebida...

😕

Alexandre Koball | quarta-feira, 23 de Novembro de 2011 - 15:38

É que quase ninguém viu o filme pelo jeito...

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