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Críticas

Cineplayers

Outro grande filme de Nolan, porém sua previsibilidade o faz perder força. O elenco é incrível.

7,5

Por mais talentoso que seja, Christopher Nolan sempre vai carregar um peso em suas costas, mesmo sendo um peso que todo cineasta gostaria de carregar. Seu filme de estréia, Amnésia, é uma obra-prima de roteiro e direção, capaz de figurar sem dificuldades em qualquer lista de melhores dos últimos anos. Desde então, o diretor tem realizado trabalhos acima da média (Insônia e Batman Begins), mas sem atingir a mesma qualidade de seu primeiro filme. O Grande Truque sofre do mesmo mal: é um filme repleto de qualidades, porém não alcança o patamar de genialidade de Amnésia.

Passado na virada do século XIX para o século XX, a obra conta a história de dois mágicos, Alfred Borden e Robert Angier. No início amigos, os ilusionistas acabam construindo uma rivalidade que se estende ao longo dos anos e que se transforma em obsessão, cujos resultados serão inevitavelmente trágicos.

Se há algo que torna o cinema de Nolan diferente é a forma com que ele trata o espectador. Em todos os seus filmes, há um intenso cuidado com a trama e personagens, algo cada vez mais raro de encontrar. Suas obras primam pela inteligência e por uma abordagem voltada exclusivamente à história. O cineasta jamais subestima a inteligência do espectador; pelo contrário, empurra a platéia a momentos de reflexão.

O mesmo acontece em O Grande Truque. Na verdade, a estrutura do roteiro, escrito pelo próprio Nolan e por seu irmão Jonathan, faz deste o filme mais difícil do cineasta desde Amnésia. Com o constante vaivém no tempo, sempre sem aviso ou preâmbulo, e narrações de diversos personagens, O Grande Truque é um filme que exige um cineasta de talento para se tornar atrativo aos olhos do espectador. Neste sentido, Nolan comprova mais uma vez sua habilidade em contar histórias, mantendo a narrativa segura, com foco não nos truques dos mágicos, e sim na rivalidade entre os dois, uma escolha que revela-se muito acertada.

Isto pelo fato de que, ao abordar a trama desta forma, O Grande Truque deixa de ser apenas um “filme de mágicos” para se transformar em um estudo da natureza humana. O cineasta tem condições de explorar os personagens e suas motivações, enriquecendo a obra. Se a dedicação completa dos mágicos à sua arte impressiona, é a obsessão quase cega deles em destruir um ao outro que eleva o nível de O Grande Truque.

Claro que, assim, com espaço para os personagens, quem ganha chance de destaque é o elenco. Hugh Jackman oferece aqui provavelmente a sua interpretação mais completa, construindo um personagem tridimensional que passa por diversas transformações na obra. Por outro lado, é difícil dizer que esta é a melhor interpretação de Christian Bale (o ator tem diversos grandes trabalhos), mas seu desempenho em O Grande Truque é o perfeito contraponto à atuação de Jackman. Bale cria um Alfred Borden completamente apaixonado por aquilo que faz, capaz de devotar sua vida a isso. É um homem muito mais frio do que seu rival, uma vez que não hesita nem em machucar aqueles a quem ama.

O elenco ainda traz o sempre ótimo Michael Caine como uma espécie de mentor dos mágicos, David Bowie surpreendentemente bem como um inventor maluco e Andy “Gollum” Serkis como seu ajudante. O ponto fraco fica por conta de Scarlett Johansson, completa e totalmente desperdiçada em um papel pequeno, que certamente não condiz com seu talento e status.

Além deste cuidado com os personagens, Nolan mantém a platéia presa em uma trama repleta de reviravoltas e surpresas (como era de se esperar em um filme sobre a arte de pregar peças nas pessoas). É uma sensação extremamente agradável assistir a um filme como O Grande Truque, no qual é difícil antecipar o que irá acontecer no minuto seguinte e, muito menos, como tudo irá terminar.

Difícil, mas não impossível. A apreciação total de O Grande Truque foi arruinada pra mim quando antecipei duas ou três surpresas do roteiro dos irmãos Nolan, inclusive a mais importante de todas. Isto deve-se, em parte, à direção de Nolan, que acaba deixando muitas pistas sobre o assunto durante a projeção. Mesmo sabendo de antemão o que iria acontecer, a revelação do segredo é feita de forma competente e, ainda que perca parte de seu impacto, não chega a prejudicar a obra como um todo.

Outro aspecto de O Grande Truque com o qual tive problemas foi o que concerne certa invenção utilizada por um dos mágicos. Ainda não fiquei totalmente convencido de que colocar algo, digamos, “impossível” na obra tenha sido a melhor alternativa, uma vez que diminui o talento de tais artistas ao mostrar algo que não é um truque – além, claro, de tirar um pouco da realidade da produção.

Mesmo com estes problemas, O Grande Truque ainda é um filme acima da média. Em certo momento, o personagem de Jackman afirma algo do tipo: “O mundo é sólido. Fazer a platéia pensar, nem que seja por alguns segundos, é atingir algo especial”.

Uma lição, mais uma vez, seguida por Christopher Nolan.

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | terça-feira, 26 de Novembro de 2013 - 17:22

Um filmaço!!!! Nolan é craque. O elenco está perfeito. Só a maquina de Tesla não me convenceu muito....

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