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Críticas

Cineplayers

Universo de excessos.

4,0
Em festivais de cinema temos a oportunidade de sair da nossa zona de conforto e viajar por mundos inóspitos, e o Olhar de Cinema prima pela vontade de nos levar a viagens distantes por cinematografias diversas e por ambientações frescas; tendo como foco propostas de linguagem desafiadoras e nomes a serem descobertos, o Olhar acerta no alvo com sua flecha experimental mesmo quando o alvo e a flecha são frágeis demais. Tudo é tentativa, mas nem toda tentativa é bem sucedida... e aí chegamos a Grande Grande Mundo, dirigido pelo turco Reha Eden. Não dá pra não dizer que Erdem não tente, não ambicione, não queira, não tenha ideias e não as coloque a prova. Talvez o problema seja ter tudo isso em demasia e misturar absolutamente todas as referências possíveis até formar uma massa disforme, que acaba mais enevoando que revelando e provocando incômodo - não daqueles bons.

Não falta em Erdem talento, isso fica claro na grande parte dos seus fotogramas. O que talvez falte a ele é a experiência artística necessária para não paternalizar o olhar, e não querer educar o olhar do público. Entender que a sutileza é necessária até dentro da sutileza, e que o impacto de uma bela imagem só é possível quando ela não é mastigada à exaustão. Com uma carreira prévia, Erdem impressiona em sua imagética e nas propostas de ambientação, conseguindo impacto visual muito claro e de grande identificação com o público. Mas o excesso de informação e a vontade de contar todas as histórias em uma deve ser um empecilho para uma coesão maior entre intenção e a realização final. De qualquer forma, não podemos deixar de ressaltar os inúmeros acertos de uma produção que é definitivamente acessível, dentro de um quadro autoral. 

Na trama vemos um jovem adulto em busca de manter a comunicação com sua irmã, que foi adotada de um orfanato e que ele está sendo impedido de ver. Ao provocar uma tragédia na família que a recebeu, o rapaz foge com a menina sem rumo pelo interior da Turquia até chegar a uma floresta. O lugar, de aparência a princípio acolhedora, se transforma no novo lar dos irmãos em situações que mesclam inocência com ambiguidade. Quando o rapaz precisa sair do momentaneamente de seu esconderijo para conseguir dinheiro (onde acaba se envolvendo com uma charlatã de circo) e a menina precisa ficar sozinha, o novo universo onde eles estão inseridos começa a transforma-la a princípio, até ele também ser definitivamente afetado. E é daí que começam a misturar realidade opressora com uma atmosfera de pesadelo crescente, numa espiral que o filme parece não dar conta.

Com um protagonista que não tem o talento necessário para carregar uma trama, Grande Grande Mundo tem belos elementos isolados que, unidos, fazem tudo parecer excessivo e pesado, levando o filme a um excesso de informação que confunde e atordoa, sem analisar suas muitas chaves de leitura a contento. Misto de mitologia moderna e antiga com personagens ancestrais (elfos, bruxas, bufões, serpentes representantes do pecado original, etc) com uma proposta de atualização e inserção com um choque de realidade violento, que representa uma óbvia falta de compreensão com as pessoas que sentem diferente dos demais e as degredando, o longa de Erdem fascina por um lado com seu senso estético, por outro não deixa de entediar pela obviedade com que bagunça o todo, nos deixando reféns de um mundo em ruinas sem sentido. 

Visto no 6º Olhar de Cinema de Curitiba


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