Óbvio demais, quadrado demais, aborrecido demais.
Bum! É chegado o momento do novo ataque da Globo Filmes nos cinemas brasileiros. Nada mais garantido para a produtora do que lançar uma versão cinematográfica de uma de suas séries televisivas mais queridas atualmente. O público já conhece os atores, os personagens, as situações, o filme é “dublado”, então o sucesso é praticamente garantido. Dirigido por Maurício Farias, o mesmo do abominável O Coronel e o Lobisomem, A Grande Família é uma absoluta perda de tempo: embora haja algumas piadinhas engraçadinhas, o filme é enfadonho, longo demais e feio em vários sentidos. Vamos desenvolver essas idéias...
Três versões de uma mesma história são apresentadas ao público, no melhor estilo Rashomon de ser. Explico: a partir do recebimento de um resultado de exame que pode indicar câncer a Lineu (o divertido Nanini), vemos três variações dos acontecimentos subseqüentes: uma pessimista, onde Lineu aceita a morte; uma realista, onde ele mantém o pé no chão; e uma otimista, onde ele usa esse fato como motivação para viver intensamente seus “últimos dias”. Obviamente todos já viram o final no trailer, e ainda que não o tenham visto, fica óbvio descobrir que personagens adorados pelo público como esses jamais iriam passar por alguma tragédia e terminarem mal.
O grande problema de o roteiro ter sido estruturado dessa forma é que não há real variação entre as três histórias. Ambas são extremamente parecidas – e aborrecidas. Como já comentei, algumas piadinhas são interessantes – Agostinho (Pedro Cardoso) é o dono delas todas – mas não são o suficiente para alavancar uma história absolutamente convencional e previsível. Falar que o filme parece “um episódio de TV [muito] prolongado” seria óbvio demais, porém é a pura realidade. Alguns coadjuvantes ficaram renegados a papéis irritantes, quase constrangedores, como o de Mendonça (Tonico Pereira) e Beiçola (Marcos Oliveira), que só apareceram no filme para constar.
A direção é totalmente medíocre. Se Maurício Farias já tinha mostrado seu convencionalismo monótono em O Coronel e o Lobisomem, aqui é tudo ainda pior. O formato televisivo foi mantido para o longa-metragem, o que de certa forma era esperado. Porém agüentar isso durante 105 minutos ininterruptos é pedir demais de qualquer amante do cinema minimamente exigente. De tudo isso, o único ponto não-negativo foi o fato de a produção ter se segurado no merchandising. Ele está lá, mas de uma forma não irritante, o que, indubitavelmente, é um enorme progresso para filmes populares brasileiros. O que mais me assustou, porém, foi a qualidade da fotografia: a imagem ficou desprezível. Filmes caseiros têm mais qualidade do que este em termos técnicos.
A Grande Família é o típico filme que, ao final de sua sessão, gerará comentários óbvios como “bacana, não?”, por ter atendido às expectativas medíocres de um grupo de telespectadores zumbis. A verdade é que não dá para ser injusto: dentro de sua própria mediocridade, o filme não ficou a dever nada. Deveria ter havido mais ousadia para romper o formato quadrado da série televisiva, com humor mais sofisticado. Mas aí o telespectador não iria entender o filme e sairia reclamando adoidado. Do jeito que foi feito, foi bom para ele, o espectador, e ruim para o cinema.
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