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Críticas

Cineplayers

Apuro estético e inovações estilísticas marcam esta adaptação do romance de Cornélio Penna.

7,0

O cinema é, dentre todas as artes, a mais rotulada. E poucas vezes se tem notícia, dentro da produção nacional – feita hoje ou ontem - de um filme como Fronteira, que foge a quase todo estereótipo.  Pode-se até classificá-lo como “autoral” – ainda que tenhamos que dividir essa autoria em duas partes, o escritor Cornélio Penna, autor do romance que o inspirou, e o diretor Rafael Conde -, mas não é fácil encontrar uma palavra que o defina.

Não é uma obra para ser entendida, na acepção mais ordinária do termo, mas sim apreciada. Conde, embebido da escrita invulgar e enigmática do primeiro romance de Penna, liberta-se de qualquer amarra convencional preexistente para dar vazão à voz lírica do escritor. Se foi bem-sucedido, só ele mesmo tem a resposta.

Claramente perceptível é que Conde, ao ter em mãos uma obra praticamente infilmável, não tentou destrinchá-la para agradar paladares menos refinados, e sim deixou-se guiar pelo fluxo inconstante da consciência. Não à toa, longos minutos de projeção se passam sem um início narrativo. A câmera apenas vaga por um enorme casarão, espreitando-se em paredes deterioradas pelo tempo, à procura do que mostrar e como mostrar. Imagens vão se sucedendo sem qualquer linearidade aparente, em uma pequena mostra de como a arte cinematográfica pode ser perturbadora.

A história de Fronteira é a não-história, é o não-racionalismo. A cronologia se esvai, o fluxo narrativo age como uma recordação, nem escondendo nem revelando. Sabe-se apenas que existe a jovem Maria Santa, sua tia e um viajante. Em comum, apenas a ocupação de um mesmo espaço, dúvidas existenciais e um grande problema moral. As relações entre os três personagens é confusa, implícita e vaga. Não sabemos quem é o viajante. Não sabemos quem é a tia – nem mesmo sabemos se é uma tia realmente. Sabemos (ou pensamos saber) apenas quem é Maria Santa, o pilar nos quais os outros dois personagens gravitam. 

Os elementos estéticos de Fronteira, entretanto, nada têm de vulgar. A mise-en-scène imposta é extremamente plástica. Impressionante como cada enquadramento parece realmente estudado, como cada luz é posta em sua expressividade maior, como os atores se movimentam como se estivessem em um palco. Uma combinação empolgante, marcada por uma trilha sonora atonal e extremamente eficaz na construção climática.

Não é difícil, porém, saber o resultado que um filme desses terá com o público. Fronteira certamente será esquecido – ou nem conhecido, caso queira. Mas dentre uma produção que se pauta pelo comercialismo barato, é um filme que de destaca pela proposta e pela realização apurada.

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