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Críticas

Cineplayers

Não é exatamente ruim, e sim apenas medíocre em sua [falta de] ambição. Dispensável.

4,5

Simplesmente não consigo compreender a falta de ambição de certos cineastas. Chega a ser impressionante acompanhar a preguiça de diretores e roteiristas em oferecer algo novo aos espectadores. Pelo contrário, estas pessoas satisfazem-se em requentar velhas fórmulas que uma vez deram certo, mascarando a falta de idéias com uma embalagem eficaz e chamativa. É o caso de Flyboys.

Dirigido por Tony Bill, o filme conta a história do Esquadrão Lafayette, um grupo de pilotos do exército francês na Primeira Guerra Mundial. Para aumentar sua força, os franceses aceitavam pilotos de outros países, treinando-os para lutar nos céus contra os alemães. É ali que surge Rawlings, um jovem americano pouco ligado a regras e disciplina. Enquanto deve aprender a voar e combater, Rawlings faz amizade com o resto da equipe e se apaixona por uma jovem local, Lucienne.

Flyboys não é um daqueles filmes que se pode chamar de porcaria com toda a ênfase. Na realidade, não há nada de completamente repulsivo na produção. O que existe, e aos borbotões, são constantes acessos de mediocridade, um medo de alcançar vôos mais altos em termos narrativos que acaba, inevitavelmente, prejudicando a obra como um todo.

O roteiro, escrito a seis mãos por Phil Sears, Blake T. Evans e David S. Ward é completamente dominado por estereótipos e lugares-comuns. A personalidade dos integrantes da equipe, por exemplo, é uma coleção de clichês: há o líder jovem e indomável, rebelde por natureza; o negro que sofre com o preconceito; o veterano solitário, que não se relaciona com os demais; aquele que quer agradar ao pai; e por aí vai.

Claro que isso não seria problema se fosse apenas o ponto de partida para um desenvolvimento maior dos personagens. No entanto, tal fato jamais acontece e o tratamento superficial do texto continua por toda a projeção. Além disso, os relacionamentos entre os personagens são igualmente previsíveis. Por exemplo, assim que se conhecem, um dos rapazes recusa-se a dormir no mesmo quarto que o negro. Alguém duvida que, tempos depois, eles ganharão o respeito um do outro?

E Flyboys é repleto destes momentos tolos, inclusive alguns capazes de ofender a inteligência do espectador. Determinado personagem, por exemplo, passa o filme inteiro em estado de choque, sem conseguir voar. Até que, ao final da projeção, quando o protagonista está em apuros, o até então traumatizado piloto surge, como num passe de mágica, para liquidar o inimigo que ameaçava seu companheiro.

Já em outra cena, o cúmulo do exacerbado patriotismo ianque. Um dos pilotos é atingido e seu avião cai em meio a uma batalha, com franceses de um lado e alemães do outro. Claro que o protagonista não deixaria seu companheiro ali. Ele consegue pousar o avião, correr em meio às balas, chegar ao local do acidente, resgatar seu amigo, fugir em meio às balas e voltar para o seu avião. Convenhamos, é pedir demais da boa vontade espectador.

Como se não bastasse, Flyboys é desnecessariamente prolixo, com pelo menos meia hora a mais do que o necessário para contar uma história tão fraca. Certas subtramas servem apenas para estender a duração do filme, como o passado do personagem Beagle. Aliás, as mais de duas horas de projeção acabam prejudicando também aquilo que a produção tem de melhor: as batalhas aéreas.

Na verdade, parece ser exclusivamente neste ponto que o diretor Tony Bill concentra seus esforços (admito também que gostei do plano em que os aviões surgem da neblina). Com ótimos efeitos especiais, as batalhas encenadas pelo cineasta realmente demonstram a crueza de tais disputas, especialmente se comparadas aos combates modernos de um Top Gun, por exemplo. Bem encenadas, elas perdem a força unicamente pela longa duração do filme, pois acabam soando repetitivas perto do final.

Enquanto isso, James Franco demonstra que não tem capacidade nem para ser protagonista de um episódio de Maria do Bairro. Inexpressivo ao extremo, o ator não convence tanto nas cenas de ação quanto nas cenas mais intimistas. Aliás, o mesmo ocorre com o restante do elenco, homogeneamente fraco. Até o sempre interessante Jean Reno é prejudicado pelo descaso dos cineastas com a narrativa, e seu capitão passa o filme inteiro como uma incógnita para o espectador.

Pelo menos, Flyboys não pode ser considerado uma decepção, uma vez que oferece exatamente aquilo que prometia. É um filme pouco ambicioso, com falhas na estrutura da história, mas que oferece alguns belos momentos nos céus. Em outras palavras, recomendado apenas para os aficcionados destas incríveis máquinas voadoras.

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