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Críticas

Cineplayers

Nia Vardalos e a Grécia salvam comédia romântica do esquecimento total.

5,0

As meninas –  jovens, adolescentes, ou mulheres já feitas – é que devem comemorar o cinema da última década. A quantidade exorbitante de comédias românticas produzidas para esse público-alvo nunca foi maior. E com a quantidade excessiva, como prega a ordem natural do mercado, vem a qualidade deplorável desses produtos feitos sem coração, sem cuidados especiais, com o propósito único de continuarem proporcionando sonhos inatingíveis para as garotas e pesadelos correntes para os garotos. Em 2002, um minúsculo filme desse gênero aportou e, por algum motivo que até hoje não ficou claro (pois o fenômeno jamais foi repetido desde então), conquistou multidões ao redor do mundo. Casamento Grego foi um filme deveras simpático, mas só fez aumentar a aposta dos estúdios para comédias românticas fantasiosas.

Falando Grego, claro, não é uma continuação de Casamento Grego. Nem de longe. Mas o mercado brasileiro é notório em tentar enganar seus espectadores, e a impressão que se passa é a tal. É óbvio que uma das motivações para a produção do filme foi o sucesso de improvável repetição de Casamento Grego. Na Itália, seu título é ainda mais apelativo que o brasileiro – “My Big Fat Greek Holidays”. No final, nada disso deu certo, pois Falando Grego foi um fracasso retumbante nas bilheterias e sequer se pagou (tarefa que ficou para o lançamento em DVD apenas, o que nunca é bom para qualquer estúdio) então dificilmente veremos mais filmes “gregos” de argumento genérico e estrelando Nia Vardalos em Hollywood.

Georgia (Vardalos) voltou para Grécia para tentar a sorte como guia turística em uma agência de segunda linha. Frustrada no amor e na vida profissional (principalmente por causa da rivalidade com um guia inescrupuloso), conta os dias para retornar aos Estados Unidos, mas em sua última excursão, eis que descobre o amor, e sua cabecinha fica dividida entre razão (retornar) ou emoção (permanecer com o amor). Isso é só a história principal. Acompanhamos seu trabalho durante uma semana com o mesmo grupo de turistas, de todos os cantos do mundo. Assim temos a imperdível oportunidade de conhecer gente de todo o planeta. E o filme trata de estereótipos culturais de forma quase ofensiva (contra americanos, canadenses, australianos, etc.), mas quando vê-se que os principais criticados são os próprios gregos (através de referências ao semi-clássico Zorba, o Grego), deve-se ignorar tais ofensas e entender que esses estereótipos são apenas mais um recurso do roteiro para tentar gerar humor barato.

Pois veja bem: Falando Grego é como uma novela barata, com seu roteiro esquemático, limitadíssimo e sempre óbvio. Mas o filme consegue ser, ainda assim, agradável. Nia Vardalos não tem a beleza de revista pornográfica das grandes celebridades de Hollywood. Ainda bem! Aqui ela aparece linda (ajudada por uma maquiagem cavalar, claro) e sua presença é inspiradora, a melhor coisa de Falando Grego. Não sua interpretação, que fique bem claro, pois não há nada nela que desperte paixão (o material é limitado demais para isso), apenas na presença da atriz. Já o roteiro, ele é o problema maior, apelando para truques baratíssimos, como por exemplo, convocar o sobrinho do interesse amoroso de Vardalos dentro do filme para que uma garota emburrada da excursão tenha algum passatempo durante o passeio pela Grécia, quase como uma transa armada para a adolescente. Deprimente! A soma e a insistência desses momentos torna a experiência pobre, mas funciona para deixar o filme bem leve e agradável de ser acompanhado – mais um candidato à matinê televisiva de nossos canais abertos no futuro.

Entre tantos poucos pontos positivos, outro que surge é a paisagem da Grécia, amparada sempre por um céu azul maravilhoso (como se lá nunca ficasse nublado). Ela simplesmente salva a obra de uma produção baratíssima, que apela até para o chroma-key (tela azul) quando certamente não precisaria (ou quando não deveria). O diretor Donald Petrie é o mesmo de Miss Simpatia e Como Perder um Homem em 10 Dias e aqui, com seu trabalho em Falando Grego, parece cair um ponto (pelo menos) na escala qualitativa. Sua direção é limitadíssima e preguiçosa, os filmes acima são muito superiores. Ainda assim, no conjunto, Falando Grego não é um desastre completo pelos seus elementos positivos esporádicos, e certamente o público-alvo, que poderia muito bem dispensar esta que é apenas mais uma comédia romântica nas prateleiras das locadoras, vai se deparar com uma diversão casual dentro do esperado.

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