A permanente aproximação do cinema do espanhol Carlos Saura com a música, que já rendeu filmes como Tango e Salomé, tem mais um exemplar em Fados, no qual ele presta uma homenagem ao tão típico cancioneiro português.
Mas o que se constata é que Saura vem, crescentemente, fazendo um cinema preguiçoso. Fados, talvez, nem seja cinema por definição – chega até ser difícil enquadrá-lo em um gênero, e rotulá-lo como documentário é uma saída mais fácil.
A construção do filme se dá pela colagem de números musicais, sem lógica de ordem aparente e praticamente sem conexão uns com os outros. Dentre essa estrutura, surgem homenagens, como a Amália Rodrigues (que recebeu uma cinebiografia recentemente, Amália), e momentos constrangedores, como a apresentação do fado em hip-hop - depois desta música, a edição estende-se a um diálogo, o único caso de todo o filme, e que não tem qualquer motivo de existência.
O Brasil não foi esquecido, e três músicos brasileiros foram convidados a se apresentar: Toni Garrido, Caetano Veloso (emulando a forma lusitana de falar) e Chico Buarque, todos sem qualquer brilho.
O melhor momento de Fados é quando Saura foge do modelo de encenação adotado ao longo do filme (videoinstalação, dançarinos coreografados, luz marcada) para mostrar in loco uma autêntica casa de fados, na qual vários artistas se apresentam seguidamente, em um crescente de emoção genuíno, longe de toda a artificialização do restante.
É provável que o filme seja bem-recebido pela enorme colônia portuguesa no Brasil, e também pelos fãs mais ardosos do cineasta. Porém, para os mais exigentes e os não-iniciados, será uma experiência das mais fatigantes.
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