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Críticas

Cineplayers

O mapa sobre o qual já vivemos.

7,0
O bullying sempre existiu, mas deixou de ser um tabu discuti-lo há algum tempo e hoje até consegue ser tema principal de filmes como este Extraordinário (Wonder, 2017), um dos feel good movies da temporada, que está nos cinemas de todo o Brasil. O motivo do sucesso é simples: boa história sentimental, atores carismáticos, situações simples e cotidianas que fazem rir e chorar... Além de ser um bom filme no geral.

Auggie Pullman (o prodígio Jacob Tremblay, de O Quarto de Jack) é um jovem que teve várias complicações na formação e, por isso, acabou crescendo distante da vida social comum e amigo próximo das cirurgias. Prestes a começar a quinta série nas aulas em casa, sua mãe decide que é hora dele frequentar uma sala de aula de verdade e tentar uma vida 'normal', mesmo ciente do quão complicada essa mudança poderia ser.

Solitário, Auggie constantemente se vê como um astronauta: fã de ciência, o menino vê no espelho daqueles que vão para o espaço um reflexo de sua paz; lá, ninguém pode incomodá-lo. Não à toa, é fã de Star Wars e Halloween. O primeiro por se passar no espaço e ter seres das mais diversas fisionomias - ele seria normal naquele universo. O segundo por ser uma festa onde todos se fantasiam e ele deixa de ser uma aberração e pode viver como um garoto qualquer, nem que seja por um dia.

A real é que o bullying encontrado por Auggie é apenas uma hipérbole daquilo que acontece na sociedade como um todo: a necessidade de aceitação. Seja ele, sua irmã ou os amigos problemáticos também destacados pelo roteiro, o filme deixa Auggie como o centro de um universo muito maior e comum. Ele é o exagero extrapolado para enxergarmos aquilo que geralmente passa batido por nós. Então, quando Via, irmã de Auggie, e Miranda, sua melhor amiga, começam a serem aprofundadas, vemos que Auggie não é tão diferente assim. 

A discussão toda acaba sendo sobre inclusão social, quase uma utopia para uma faixa etária tão problemática quanto à aceitação. Não a toa que o professor que desde o início apoia Auggie é negro e provavelmente homossexual - representação de toda a luta igualitária que vem acontecendo atualmente na sociedade. Desde o almofadinha metido a bonzão até a menina negra que senta para lanchar com Auggie, todos estão ali com suas vidas, seus próprios problemas e próprios sonhos. Nessa matilha humana, vive aquele que consegue aceitar, entender e superar as próprias dificuldades.

O que chama a atenção também em Extraordinário é a sua narrativa, que toma coragem de capitular os acontecimentos de acordo com o jovem a ser abordado. Assim, mesmo Auggie sendo o cerne da história, conhecemos também sua irmã, seu melhor amigo e a melhor amiga de sua irmã, todos confirmando a teoria de que aparências enganam e a selva social é carnívora e traiçoeira. 

O pai, interpretado por Owen Wilson em um papel que já o vimos fazer diversas vezes, e a mãe, Julia Roberts, poderosíssima e uma das melhores coisas no filme, tentam de toda maneira ajudá-lo, desde conselhos politicamente incorretos até a presença constante em sua vida; mas os mesmos possuem suas próprias preocupações que nem sempre os filhos conseguem notar. No final, são crianças como você; o que você vai ser, quando você crescer?

Então, ainda que toque em assuntos relevantes, mas sem aprofundá-los, que tenha uma abordagem mais leve e músicas direcionando aquilo que devemos sentir, Extraordinário acaba sendo um filme muito bom por levantar tais questões de maneiras simples e compreensíveis até para os mais jovens - o que torna o filme obrigatório para famílias debaterem os temas e educarem os seus filhos. É uma reflexão necessária em uma época tão cruel, de tantos advogados e juízes de redes sociais, quando sempre há uma pessoa, com sentimentos a serem destruídos, por trás de todas aquelas brincadeiras maldosas. 

Como filme, é engraçado e tocante, mas como ferramenta social é um importante marco para essa nova geração Minecraft.

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