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Exorcismo, O

(The Exorcism, 2024)
3,5
Média
5 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Boas ideias que não encontram sua completude.

2,0

Russell Crowe de batina em cima de uma lambreta a caminho de praticar um exorcismo. Por incrível que pareça, essa foi uma das imagens mais… emblemáticas, se é que isso pode realmente ser dito, de O Exorcista do Papa (The Pope's Exorcist, 2023) filme que “introduziu” Russell Crowe a um gênero que nunca havíamos visto o ator abraçar: o terror de possessão. E digo entre aspas porque mesmo antes de O Exorcista do Papa ser concebido, O Exorcismo (The Exorcism, 2024) já havia finalizado suas filmagens ali em 2019, entrando num processo complicado de pós-produção (dificultado ainda mais pela epidemia da COVID-19) e que, em dado momento, foi escanteado como descarte pelo estúdio. O que só mudou após o pequeno barulho que o ator na pele de um exorcista conseguiu causar no circuito comercial.

Grande parte da funcionalidade de O Exorcista do Papa era que, no fundo, nada ali se levava a sério, ao mesmo tempo em que o diretor Julius Avery respeitava e trabalha com alguma inventividade dentro dos códigos básicos de um filme do gênero - e nesse caso, lembrou muito a mesma eficácia do diretor em Operação Overlord (Overlord, 2018). E se a imagem de Crowe como um padre exorcista ainda se mantinha fresca na mente do público (uma arrecadação de 77 milhões contra um orçamento de 18 milhões certamente quer dizer alguma coisa), é no embarque desse balaio que O Exorcismo finalmente encara as telas de cinema, e com uma ideia metalinguística potencialmente das mais interessantes para essa dobradinha religiosa do ator: Crowe já não é mais um exorcista, mas um ator que irá interpretar um padre exorcista numa produção cinematográfica.

E partindo da mente de Joshua John Miller, filho de Jason Miller, intérprete do Padre Karras no clássico O Exorcista (Exorcist, The, 1973), existe esse óbvio impulso do diretor em retrabalhar a encenação do filme que marcou a carreira de seu pai, ao mesmo que lida com o imaginário popular de filmes de horror amaldiçoados em seus sets, num flerte com o faz-de-conta que, conceitualmente, ofereceria diversas possibilidades para que o filme se cercasse de camadas que fortaleceriam seu caráter mais assustador. Irônico ou somente decepcionante perceber, então, que apesar de Miller se cercar destas boas ideias, a narrativa é levada adiante como se não soubesse que estas ideias estão ali.

Dessa posição do cinema como maldição, dessa possessão que toma forma à partir da encenação fantasiosa como catalisadora de traumas do passado e da incomunicabilidade familiar - o personagem de Crowe tem uma péssima relação com a filha - Joshua John Miller pouco aproveita. O cinema rapidamente perde a importância logo após a narrativa indicar que tal elemento seria primordial para ela, contentando-se com o que há de mais básico no estabelecimento dramático de um filme do gênero: traumas parentais, elipses nada criativas acompanhadas de uma alta trilha sonora buscando algum jump scare fajuto, encenação mergulhadas em sombras como se isso auxiliasse no clima sombrio da situação toda… ou Miller realmente não se deu conta das boas ideias que o cercavam, ou simplesmente decidiu ignorá-las para se debruçar sobre o feijão com arroz do terror contemporâneo.

Fiquemos com a imagem de Russell Crowe de lambretinha mesmo.

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