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Críticas

Cineplayers

Um filme que tenta traçar um paralelo entre a ciência e o sobrenatural, mas a imparcialidade do diretor compromete a obra.

6,0

O tema de exorcismo já foi visto, revisto, plagiado, recriado, homenageado, satirizado e muitos outros “ados” nestes tantos anos de cinema. Logo, quando anunciado O Exorcismo de Emily Rose, era de se esperar que o filme fosse uma bomba relógio prestes a explodir. Mas não é que o filme consegue ser muito mais do que simplesmente mais um no gênero?

Baseado na história real da alemã Annelise Michel, que morreu em meados de 1970 após uma série de exorcismos mal-sucedidos, o diretor Scott Derrickson (que também assina o roteiro junto de Paul Harris Boardman) coloca a jovem Emily Rose (Jennifer Carpenter) na mesma terrível situação que a alemã viveu alguns anos atrás. Tom Wilkinson encarna com competência o padre Moore, responsável pelo exorcismo da jovem e que agora responde a um processo criminal que põe em cheque sua probidade religiosa que pode condená-lo por assassinato e omissão de ajuda à vítima. Cabe então à advogada Erin Bruner (em mais um belo trabalho de Laura Liney) defender o padre, mesmo sem acreditar em demônios e similares.

Se não fosse o forte apelo jurídico que encontramos durante toda a projeção do longa, O Exorcismo de Emily Rose seria mais um filme sobre exorcismo no mercado. Mas sua intrigante situação ao emparelhar o que é verossímil ou não na situação, o que é científico ou o que é crença, só não é mais forte porque somos levados a crer no tom sobrenatural que o diretor nos leva. Ao invés de nos desviar da verdade altruísta dos fatos, o diretor nos mantém em uma linha muito linear, nunca deixando que a ambigüidade confrontada entre ciência e sobrenaturalidade caminhem juntas, pois claramente ele toma sua posição e a defende durante toda a duração do longa.

Mas os argumentos são fortes o bastante para nos fazer esquecer disso e apenas acompanharmos a história, que por vários momentos puxa flashbacks para nos tirar do tribunal e nos situar de maneira eficiente nas incômodas situações vividas pela família. Tudo é reforçado por uma parte técnica brilhante, que nos faz realmente nos sentir mal, criado pelo experiente diretor de fotografia Tom Stern (que trabalhou em Estrada Para Perdição, Cowboys do Espaço e Beleza Americana, só para citar alguns de seus mais recentes trabalhos). O excesso de closes nos trazem para dentro do ambiente, pois alguns pequenos detalhes só são perceptíveis graças a essa opção do diretor.

Ainda que incômodas, as seqüências de exorcismo já não impressionam tanto porque, trinta e poucos anos antes, O Exorcista já havia feito algo muito mais competente. Uma pena que o ambiente fúnebre onde a personagem mora seja pouco aproveitado, pois aquela casa, no meio daquele nevoeiro, dá um frio na espinha (é só olhar, por exemplo, o que o lindo cartaz do filme consegue transmitir apenas por uma foto). Mas se você é um daqueles que não acredita nessas coisas todas, nem perca o seu tempo indo ao cinema. O impacto sobre aqueles que acreditam é muito maior nestes tipos de trabalhos.

Se o equilíbrio argumentativo fosse mantido, o filme seria infinitamente melhor. É só ver como os argumentos do sobrenatural sobrepõem facilmente os da ciência, e como os advogados de acusação se limitam a ridicularizar, e não contrapor, os argumentos da defesa. Se o diretor fosse um pouco mais imparcial, não mostrasse que acredita tanto naquilo, as nossas suposições e sensações durante a exibição poderiam gerar muito mais calafrios do que já conseguiram fazer, mesmo com os erros.

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