Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

O pior do subgênero "espíritos em minha casa nova" muito bem representado.

2,0

No final dos anos 80 uma família americana se mudou para uma casa próxima a um hospital, onde o filho mais velho passava por um traumático tratamento contra câncer. Após algumas manifestações aparentemente sobrenaturais, os moradores descobrem que a casa onde estão vivendo já serviu como funerária no passado, e então encontram evidências de que algumas experiências mediúnicas também ocorriam no local.

Esta é a história do livro Dark Place: The Story of a True Haunting, de Ray Garton, e de A Haunting in Connecticut, documentário de 2002 exibido na série A Haunting, do canal Discovery Channel, que relatava a dolorosa estadia da família Snedeker na casa assombrada. Como se um livro e um episódio de uma série não fossem o suficiente, a suspeita história verídica acabou se tornando também um filme, The Haunting in Connecticut, ou como foi batizado no Brasil, Evocando Espíritos.

Histórias de casas mal-assombradas já não assustam mais há muito tempo. Um dos subgêneros mais explorados do terror retorna nesse suspense descartável e tedioso, que dentro de seus pouco mais de 100 minutos de duração consegue incluir praticamente todos os clichês e convencionalismos do terror, desde vultos que desaparecem rapidamente a portas que rangem e batem sozinhas. Com o “baseado em uma história real” estampado em seu cartaz, Evocando Espíritos procura atrair para as salas aquelas pessoas que, inconformadas com a trivialidade presente na vida real, adoram se assustar com ficções compostas por espíritos malignos, monstros e todo o arsenal de criaturas que Hollywood for capaz de criar.

Se a trama já não fosse suficientemente aborrecida e nada inventiva, a construção do suspense de Evocando Espíritos se suporta nas maiores convenções do gênero. Os roteiristas Adam Simon e Tim Metcalfe, que provavelmente assistiram a todos os filmes de assombrações e retiraram deles o que os mesmos tinham de pior (no mal sentido da expressão), construíram sua história de forma tão inverossímil que até mesmo os espectadores menos exigentes perceberão que estão sendo manipulados. O longa, que se inicia como uma espécie de A Casa Amaldiçoada em família, logo se inspira em O Exorcista e apresenta seu pior personagem: o Reverendo Popescu, uma espécie de Padre Merrin interpretado por um nada inspirado Elias Koteas. Tudo o que é de risível no longa tem associada a presença do personagem, como a investigação para saber o que se passou na casa antigamente para que ela fosse habitada por espíritos e também a desprezível reviravolta que acontece no final do filme.

Falando nos fracos personagens e também nas atuações, Virginia Madsen bem que se esforça, mas sua participação é ofuscada pela aglomeração de aberrações, e não estou falando dos espíritos, que a cerca. Kyle Gallner, que interpreta o jovem doente, real protagonista do filme, segura suas duas únicas expressões durante toda a duração da trama: quando ele não está com sua expressão número 1, “estou sofrendo”, a troca pela número 2, que pode ser intitulada “sou capaz de resolver todo mistério, mas lembre-se que tenho câncer”. A direção nada memorável do estreante Peter Cornwell também deve ser lembrada e responsabilizada por Evocando Espíritos, pois o mesmo não se esforça para salvar a película do esquecimento em nenhum momento. Se uma ou duas cenas são realmente interessantes, como a do vômito ectoplasmático expelido pelo médium, que estampa um dos cartazes do longa, as mesmas não tornam todo o material mais apreciável.

Mas, mesmo com todos os defeitos, Evocando Espíritos realmente assusta por um motivo pouco explorado no filme: o câncer do garoto adolescente. O sofrimento do rapaz e de sua família, que se desdobra para suportar e vencer o mal que gradativamente consome a vida do jovem, deveria ser encarado como o verdadeiro elemento aterrorizante presente na história.

Comentários (0)

Faça login para comentar.