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Críticas

Cineplayers

Melhor do que o esperado.

6,0

Devido à enxurrada constante de fracas comédias vindas do mercado norte-americano, fica muito fácil subestimar um novo trabalho de nome tão genérico quanto Eu te Amo, Cara. A expectativa era negativa também pelo fato do diretor, John Hamburg, ter estado à frente, em 2004, do medíocre Quero Ficar com Polly. Mas, felizmente, esta aqui se trata de uma rara exceção, onde o conteúdo é superior à embalagem. Quem diria, afinal, que um filme com um tema tão banal quanto o de um cara procurar um melhor amigo para não passar vexame no dia de seu casamento poderia render uma comédia sólida, interessante e com algumas piadas quase inteligentes?

Pois é, Paul Rudd é esse cara. Rudd, aliás, vem aos poucos, sorrateiramente, transformando-se em um forte nome da comédia romântica, basta ver seu currículo extenso no gênero. Seus filmes ainda não têm grande força aqui no Brasil, tanto que até mesmo o recente e divertido Ressaca de Amor acabou ficando direto para o vídeo. Lá ele dividiu a cena (e não era o protagonista) com outro ator de Eu Te Amo, Cara, Jason Segel. E os dois, vejam só, haviam dividido as telas como coadjuvantes em Ligeiramente Grávidos. Enfim, embora Judd Apatow não tenha relação alguma com este filme, suas crias acabaram se firmando e hojem fazem parte do núcleo da comédia mainstream norte-americana, substituindo aos poucos a geração da década passada, composta por nomes como Ben Stiller e Adam Sandler.

Eu te Amo, Cara desconstrói um pouco a comédia romântica tradicional, ao fazer do setor feminino do elenco mero coadjuvante e, embora haja todos os elementos básicos como casamento, amigas, festa e fofoca, quem manda mesmo é o núcleo masculino, com piadas cheias de testosterona que remetem a problemas do dia-a-dia de homens de classe média que transitam entre a vida responsável (leia-se: casamento) e os últimos momentos de liberdade da vida de solteiro. E o roteiro leve do próprio diretor Hamburg, ao lado de Larry Levin (responsável pelo roteiro da refilmagem de Dr. Dollitle), torna esses momentos deliciosos de serem acompanhados. O que começa como algo previsível e até mesmo aborrecido acaba ganhando créditos pelo realismo e naturalidade, somados a passagens cômicas de bom gosto e genuinamente divertidas, ainda que jamais originais.

E parte do sucesso do filme (pois ele foi um moderado sucesso comercial, pelo menos em terras ianques) deve-se também à trilha sonora (os dois amigos tocam em uma garagem e são verdadeiros fãs de música) e à fotografia limpa de Los Angeles, denunciando um trabalho tecnicamente competente feito paralelamente ao bom roteiro. Há, claro, muitas limitações, todas elas bem previsíveis: o roteiro é construído em cima de um tema simplório, que pede por estereótipos. Particularmente o núcleo feminino é muito fraco (quando não irritante), e mesmo Zooey, a noiva de Peter (Rudd) deixa bastante a desejar como personagem. Talvez por isso seu amigo Sydney (Segel), em certo momento, questiona o propósito de seu novo melhor amigo querer se casar com ela.

Mas esses problemas são vencidos por uma atmosfera bonita de amizade e camaradagem reais, e podemos notar que há essas características de verdade nas atuações de Rudd e Segel, algo fundamental para que suas cenas fossem bem sucedidas. As piadas funcionam em sua maioria, e o início cafona, onde Peter pede Zooey em casamento, pelo menos desta vez, não é um prelúdio para um filme todo cafona. Mas, claro, humor e cafonice são duas das coisas mais subjetivas que existem, e essas impressões podem ser apenas devaneios de alguém que se identificou bastante com os personagens do filme. Nesse sentido, pode-se dizer que há um público-alvo bem específico para Eu te Amo, Cara, e desta vez, em uma comédia romântica, este público não é o feminino. Só por este motivo este filme poderia ser muito bem recomendado.

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