Uma ficção científica que não deve ser levada à sério: efeitos especiais incríveis e ação descontrolada.
Esse filme não deveria ser criticado pelas liberdades que toma em relação à história original de Isaac Asimov, como muitos fizeram, afinal a produção deixa bem claro que o roteiro é simplesmente “sugerido” por ela. Entender o objetivo do que está se vendo é muito importante para não se soltar informações erradas e opiniões equivocadas. Dito isso, Eu, Robô é uma belíssima mistura de ação, ficção científica e filme policial. Will Smith está em sua melhor forma física, e tem algumas cenas de ação de tirar o fôlego. E a história, mesmo não apresentando nada de inovador para os dias atuais, consegue prender a atenção se o espectador conseguir ignorar as liberdades que ela toma com a lógica e a física. Eu, Robô é muito divertido, mas somente se visto como sendo despretensioso. Tentar encontrar algum significado grandioso para o que se passa na tela seria forçar a barra, mesmo que existam algumas questões interessantes abordadas pelo filme.
O diretor Alex Proyas é conhecido principalmente por dois filmes: O Corvo, de 1994, e Cidade das Sombras, de 1998, este último sim, um filme imensamente cultuado e dono de um roteiro intrigante e esperto. Sendo Eu, Robô, um filme de estúdio lançado na temporada de arrasa-quarteirões nos Estados Unidos, é claro que o foco teria que ser menos cerebral. Mas a pergunta que deve ser feita é: isso serve como uma desculpa para os clichês, as forçadas no roteiro, e os furos na história? Não exatamente, mas como o filme é muito divertido isso pode sim ser perdoado sem problemas.
A história nos remete a temas atualmente popularizados pela trilogia Matrix. Se você assistiu Animatrix, vai ter a sensação de ter visto a mesma história antes. Mas não se engane, mesmo Matrix, suas seqüências ou Animatrix não passam de uma reformulação de idéias já existentes muito antes de os Irmãos Wachowski idealizarem todo o mundo de seus filmes. Então pode-se dizer que Eu, Robô não é exatamente original, mas por usar a licença das histórias de Asimov, tem todo o direito de recontar essa história: em um futuro próximo, o mundo vive dependente de robôs, e uma nova geração deles está preste a inundar o mercado. A diferença é que essa nova geração, por algum motivo (que não interessa aqui e agora) tem a opção de NÃO seguir as três regras básicas dos robôs (inventadas pelo próprio Asimov), que garantem a segurança dos seres humanos. O detetive Spooner (Will Smith) logo se vê envolvido no que parece uma grande conspiração, na qual os robôs querem exercer superioridade sobre os seres humanos, e vai atrás de pistas para tentar provar que está certo, enquanto enfrenta inúmeros perigos que parecem querer afastá-lo dessa investigação.
O mundo imaginado para 2035 parece-me ainda muito fantasioso, relembra bastante o de Minority Report - A Nova Lei. Aliás, uma boa analogia seria identificar Eu, Robô como sendo uma mistura de Minority Report (o poder de controlar uma nova tecnologia na mão de pessoas inescrupulosas) com Blade Runner (a mesma figura do detetive), em um pacote mais acessível para o grande público e, principalmente, muito mais divertido. Os efeitos especiais são realmente bons, embora em nenhum momento sente-se que o que se vê não é gerado por computação gráfica. Ainda assim, são, até o momento, os melhores efeitos especiais vistos em um filme de 2004, e isso é um grande elogio. Uma curiosidade: segundo o próprio ator Will Smith, o desenho dos robôs foi inspirado nos computadores da Apple. E isso é realmente bem evidente durante o filme. Já em termos de trilha sonora o trabalho feito pode ser considerado apenas ordinário, o típico “não fede nem cheira”, em linguagem chula.
A direção é bem estilizada, inspirada (aí sim podemos dizer isso) por Matrix, com seus movimentos em câmera lenta. Na seqüência de ação final o diretor ousa bastante com algumas rotações de câmera mirabolantes, criando um impacto visual que diverte bastante, mesmo que, para o roteiro, isso seja inútil. Eu, Robô não foi feito para ganhar nenhum Oscar de interpretação, ainda assim Will Smith é um belo estereótipo de ação, a figura ideal para um filme como esse. Suas piadinhas nem sempre têm muita graça (o clima do filme por vezes chega a ser bastante sombrio) mas ele cumpre muito bem o seu objetivo. Já os outros coadjuvantes não se destacam, a cientista de robôs interpretada por Bridget Moynahan é uma figura até mesmo irritante, servindo mais para passar informações aos espectadores e fazer a história ir em frente do que para criar qualquer tensão emocional. Não há muita tensão sexual entre ela a o personagem de Will Smith, o que me surpreendeu de forma positiva (pelo menos esse clichê o roteirista evitou).
Como eu já havia comentado lá no início, Eu, Robô levanta algumas questões bacanas que podem ser analisadas por fora, depois da sessão, caso for do interesse do espectador, como o perigo que representa o poder centralizado nas mãos de uma só pessoa ou empresa (temos o exemplo hoje da Microsoft, mas é bom crer que ela não está armando nenhuma conspiração para dominar o mundo). Podemos também analisar se é realmente necessário criar robôs, em um futuro quando a tecnologia permitir, com um alto grau de inteligência artificial (afinal, para que recriar novos seres pensantes, se já somos mais de seis bilhões entupindo o planeta). Enfim, Eu, Robô não é um filme profundo (e se teve esse objetivo não foi muito feliz), mas faz pensar o necessário para se tornar uma diversão com um bom nível de conteúdo. Mas o melhor mesmo são as cenas de ação e o desenrolar dos acontecimentos, que ocorre com bastante suspense. Um filmão!
Muito bom filme, apesar da confusão no título....