O retrato de um adolescente ressentido, e não talentoso.
Eu Matei Minha Mãe, estreia na direção de Xavier Dolan, exala em todos os seus poros um filme de adolescente. Em tempos de Apenas o Fim e o sucesso repentino de Matheus Souza, é interessante ver este filme vindo do Canadá que conquistou Cannes este ano levando três prêmios em mostras paralelas.
Assim como em Apenas o Fim é importante perceber sobre o que realmente é o filme. Nenhum deles retrata a sua geração, como podem apontar alguns críticos. Eu Matei Minha Mãe não tenta mostrar um conflito de gerações, e sim apenas uma relação muito mal sucedida, presumidamente autobiográfica, entre mãe e filho.
A versão canadense do menino prodígio é Xavier Dolan: ele dirige, escreve, editou uma parte do filme (a cena da pintura) e vive Hubert, o protagonista. Ele é um menino de 16 anos que vai receber uma herança aos 18 anos e vive esperando ansiosamente este dia, em que poderá se livrar de sua mãe (Anne Dorval), por quem nutre um ódio enorme.
Essa relação nunca é bem trabalhada justamente pela falta de um roteiro consistente, de personagens tridimensionais. Dolan, aos 20 anos, apresenta uma visão muito particular de sua adolescência no roteiro, tratando o protagonista como um injustiçado que tem sua vida arruinada pelos pais que não o entendem, e a mãe, vilã cuja única função para existir é estragar sua vida.
A atuação de Anne Dorval consegue salvar um pouco este tratamento da personagem da mãe, mas o jeito irritante de Hubert ultrapassa uma simples construção de personagem, e demonstra mais a inabilidade de Dolan de criar uma mise-en-scène adequada, desbocando no engraçado, mas inconsistente; interessante, mas mal realizado.
A fotografia muito escura, e a direção de arte bastante primária auxiliam em dar o filme um ar bem pobre tecnicamente falando, e isso acaba prejudicando ainda mais o já frágil roteiro. A diferença entre as mães de Hubert e de seu namorado, por exemplo, soam cômicas e bem falsas, para pontuar a diferença de relações entre a mãe e o filho.
E com um personagem tão insuportável como o protagonista, e que o roteiro ainda acaba abraçando (as declarações para a câmera em preto e branco reforçam essas impressões), o filme nunca consegue sair do lugar comum e aproximar suas personagens dos espectadores, ou ainda dizer alguma coisa de relevante sobre uma parcela de sua geração.
O que foi apresentado nas telas parece apenas uma versão audiovisual de um adolescente ressentido, e não talentoso.
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