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Críticas

Cineplayers

Um filme bom, mas que tem os seus erros que não devem ser ignorados.

6,0

O aguardado reencontro entre o diretor Jean-Pierre Jeunet e a atriz Audrey Tautou provocou bastante polêmica antes mesmo de sua estréia. Tudo porque o órgão que rege as produções francesas não considerou o filme como francês legítimo (há a aplicação de dinheiro americano no projeto, via Warner), impedindo-o de receber recursos e de concorrer em festivais como produção francesa (inclusive foi preterido ao Oscar por A Voz do Coração, que acabou sendo finalista da categoria de filme estrangeiro).

Acho que o projeto anterior do diretor fora bastante superestimado. O Fabuloso Destino de Amélie Poulain nada mais era uma belíssima embalagem com pouco conteúdo, mas que tinha o grande mérito de ser uma comédia romântica em tom de fábula, tornando-a diferenciada. Por isso mesmo, minhas expectativas para com este novo filme não eram lá das grandes. Afirmo que aqui ele não comete o erro do outro filme, pois desta vez há uma história forte o suficiente para segurar a atenção, mas ainda assim ele não conseguiu fazer uma boa obra.

O roteiro foi adaptado de um premiado livro de Sébastien Japrisot pelo próprio Jeunet. Ele situa a ação na Primeira Guerra Mundial, quando a francesinha Mathilde (Tautou) não se conforma com a notícia que seu grande amado fora morto nas trincheiras - ele teria sido executado pela própria tropa francesa por ter se mutilado, com a intenção de ser mandado de volta para casa. Mathilde crê que ele, Manech (interpretado por Gaspard Ulliel), está vivo, pois caso contrário ela sentiria isso. Parte então em uma busca sem limites atrás de provas que confirmem que o amado está vivo, inclusive pondo em risco a herança deixada pelos seus pais.

Essa jornada de Mathilde (que é manca por causa de uma poliomielite contraída quando criança) vai ser entremeada de situações, pistas falsas, tramas paralelas e personagens pouco ortodoxos. Para desenvolver a trama, Jeunet recorre a flashbacks, mostrando os fatos durante a guerra. Não é difícil adivinhar que estes são os melhores momentos de uma trama meio morna, confusa e cheia de detalhes. É verdade que o apuro técnico e visual do diretor permance no topo. Se no filme anterior ele abusou da fotografia esverdeada, aqui ela assume tons mais pálidos e cheio de contrastes entre luz e sombra, que acaba sendo de estonteante beleza. As recriações dos campos de guerra e os belos lugares onde Mathilde visita e os apurados figurinos mostram que a grande quantia gasta na produção do filme, uma das maiores da história do cinema da França, foram extremamente bem gastos. Não é à toa que o filme foi indicado ao Oscar nas categorias de fotografia e direção de arte.

Mas a impressão geral ao fim do filme é que estávamos diante de uma história que poderia ter sido conduzida com maior simplicidade. A insistência de Jeunet em tornar tudo mais amplo, complexo, acaba por dispersar a atenção do espectador. Também acho que Audrey Tautou não é a mais adequada para o papel de heroína, já que ela é uma atriz meio sem brilho, sem a vivacidade que o papel exigia. Ela é mais adequada para papéis de mulheres comuns, mais simples. Mas em nenhum momento escorrega e chega até a emocionar no belo final, no qual Jeunet recebe os maiores elogios por encerrá-lo de maneira surpreendentemente sóbria e condizente a sua estória.

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