Na ocasião de seu vigésimo aniversário, E.T. se revela ainda uma obra apaixonante para toda a geração que cresceu com ele.
Fui ver E.T. no cinema novamente na ocasião de seu relançamento de aniversário e valeu a pena, e muito. Não é por causa de meia dúzia de retoques aqui e ali e cenas extras dispensáveis, mas devo ter sido atingido por um saudosismo extremo e me emocionei bastante, mais até do que quando vi pela primeira vez, há vinte anos.
Esse filme deve ser "O" filme da minha infância. Tem um valor sentimental bastante grande. Lembro que fui assisti-lo numa pré-estréia beneficente da Unicef, com convites comprados com antecedência numa incomum sessão às 10:00 horas da manhã. O cinema era o antigo Roxy, enorme e lotado, cheio de celebridades com suas famílias, as crianças se divertiam correndo e pedindo autógrafos antes do filme começar e, quando ele começou, tudo mudou. A platéia ficou hipnotizada do começo ao fim, rindo e se emocionando. Claro que aguardei a estréia para rever o filme de novo e de novo, colecionei todas as tranqueiras, era quase obsessivo.
Na época não tinha a menor noção do que seria, acho que foi a partir daí que minha paixão por cinema começou, passei a ler tudo sobre o filme, daí a conhecer seu criador Spielberg e me interessar por diretores, bastidores de produção e ler críticas, provavelmente o primeiro Oscar que eu torci por alguma coisa foi esse, lembro-me da frustração que senti ao ver que E.T. perdeu para a chatíssima cine-biografia de Ghandi.
Fiquei feliz de constatar que a magia está intacta, o filme não precisa de novos efeitos e cenas adicionais, é uma obra prima. A melhor coisa dessa nova edição é a remasterização do áudio, que trilha sonora! É um dos melhores trabalhos de John Williams e assim que cheguei em casa coloquei minha velha fita cassete e escutá-la. Cada tema é tão marcante que as imagens do filme passam na sua cabeça a cada melodia, maravilhoso.
As adições não chegam a interferir em nada na história, destaque para uma tomada de dentro da nave dos ETs, uma cena de Elliot brincando com E.T. na banheira e algumas imagens mais longas que ajudam a reforçar um pouco detalhes como a situação da família quanto à separação dos pais. Os efeitos especiais foram retocados, a nave ganhou alguns detalhes a mais e o E.T. em alguns momentos ganhou um reforço digital para dar-lhe mais expressão, mas na maioria o velho boneco de borracha construído pelo Carlo Rambaldi é o mesmo.
Quando era moleque não chorei em nenhuma das vezes que assisti a esse filme mas, confesso que dessa vez não deu pra segurar, ele me trouxe tantas lembranças boas que me acabei, foi quase uma catarse. Não apenas pelo filme em si, mas ele é cheio de referências aos anos oitenta e quem viveu essa época como eu vai simplesmente “pirar” com os detalhes (bicicletas BMX, atari, Dungeons & Dragons etc). Spielberg sabe do riscado quando se refere a manipular emoções, mas esse é o filme mais pessoal e talvez o mais coeso de toda carreira dele, só ficando atrás de Tubarão na minha opinião. A direção de atores é o destaque e do elenco quem dá um show é o moleque Henry Thomas. O filme ainda conta com participações de Gabriel Byrne e de Drew Barrymore em seu primeiro papel no cinema, com cinco anos.
Valeu cada minuto resgatado da infância.
Quem nunca se emocionou com esse filme??