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Críticas

Cineplayers

Quatro mulheres em Penitência.

8,0
Quatro histórias diferentes de quatro mulheres condensa o roteiro desse filme realista social polonês que se passa na época da queda do Muro de Berlim. Mas as histórias falam de algum tipo de amor convertido em desespero e angústia. A narração é apreensiva, transita em anseios escondidos, investe nas intimidades de suas personagens e estas terminam por revelar-se em suas inquietações. São mulheres sem voz que exercem funções sociais engessadas. Novas descobertas para elas, portanto, começam a aparecer após a derrocada do comunismo na Europa. São tempos de vislumbrar o mundo. Mas parece que pouca coisa mudou.

As histórias das quatro são cruzadas cronologicamente. Vivem numa pequena cidade em apartamentos que parecem caixas. A transição do governo causa mudanças e a inevitável expectativa por melhora ilumina, no entanto, ambas parecem congeladas na frieza de seus desalentos. Assim vemos Agata, casada, ruir-se em desejos por um padre enquanto esquiva do sexo com o esposo; Iza, que mantém um relacionamento com um homem casado, se frustra quando este a nega após ficar viúvo; Renata é uma idosa que mora sozinha com pássaros e nutre uma paixão pela jovem vizinha da frente, Marzena, que está constantemente a espera do noivo que trabalha na Alemanha. 

O filme inteiro mantém um mesmo ritmo cadenciado, sempre a favor do desenvolvimento de suas narrativas. É um drama pesado, orquestrado num clima de morbidez pela situação de insegurança a qual todas convivem. Acompanhamos um importante período da história polonesa e observamos o papel da mulher ali, sofrendo com limitações políticas e com o predatório conservadorismo religioso. A fotografia tem um trabalho curioso ao buscar as ações, sempre mantendo-as nas extremidades das cenas, como simbolicamente fora do plano funcionassem de acordo com um elemento característico do que é escondido, do que não se pode estar em foco. Nem tudo vemos, porém.
 
A maneira que demonstra a instabilidade de suas personagens é o que se destaca no bom roteiro, competente na correlação dos casos. É como se presas em suas habitações, cada uma dessas mulheres precisasse sofrer com penitências emocionais, fruto da cultura até então em voga no País. Ao mesmo tempo os homens são revelados como criaturas ríspidas. Esse é o terceiro longa do jovem roteirista e diretor polonês Tomasz Wasilewski, afiado no texto e ciente da imagem. Em um ano catastrófico para o cinema do país devido as perdas de Andrzej Żuławski e Andrzej Wajda, é bom ver uma inovação com a herança de seus mestres. 

Visto na 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

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